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Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

Twitter encolheu Ron DeSantis e Elon Musk

Lançamento de campanha presidencial na plataforma mostrou que internet pode ser armadilha

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The New York Times

Se você me dissesse meses atrás —imediatamente depois que Elon Musk comprou o Twitter e Ron DeSantis comemorou uma vitória estrondosa na reeleição— que DeSantis lançaria sua campanha presidencial em uma conversa com Musk, eu teria pensado, com curiosidade: o bilionário de direita cujos foguetes e carros se destacam em uma economia dominada por apps e ferramentas financeiras encontra o político republicano cujas vitórias no mundo real contrastam com o populismo virtual de Donald Trump.

O lançamento da campanha de DeSantis, num evento do Twitter Spaces que travou várias vezes e alcançou público menor do que teria apenas aparecendo na Fox, ofereceu em vez disso a versão política da lição que aprendemos com Musk na chefia do Twitter: a internet pode ser uma armadilha.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, em evento com Elon Musk no Twitter Spaces para anunciar candidatura à Presidência - Scott Olson - 24.mai.23/Getty Images via AFP

Para o magnata da Tesla e da SpaceX, a armadilha foi acionada porque ele queria atacar o pensamento de grupo das instituições liberais e, vendo esse pensamento em sua rede social favorita, imaginou que possuí-la era a chave para transformar o discurso público.

Apesar de toda a sua influência, porém, a rede social ainda está a jusante de outras instituições —universidades, jornais, canais de TV, estúdios de cinema e outras plataformas online. O Twitter é a vida real, mas apenas por meio de sua relação com outras realidades; não tem a capacidade de ser um centro de discurso, coleta de notícias ou entretenimento por conta própria. E muitas das dificuldades de Musk como dono do Twitter refletem uma simples supervalorização da autoridade e da influência das redes.

Assim, tentou vender o privilégio da verificação, os "selos azuis", sem entender que eles eram valorizados por sua conexão com instituições do mundo real, sem valor se só refletirem uma hierarquia do Twitter. Ele ainda encorajou seus jornalistas favoritos a publicar furos e ensaios em seu site, que ainda não está pronto para esse tipo de publicação. Incentivou que figuras da mídia como Tucker Carlson e políticos como DeSantis fizessem shows ou entrevistas em sua plataforma, sem ter a infraestrutura para tal.

É totalmente possível que Musk construa essa infraestrutura um dia e torne o Twitter mais amplo do que é hoje. Mas não há um atalho imediato para a influência que ele está buscando. Se você deseja que o Twitter seja o polo de notícias do mundo, provavelmente precisa de uma Redação. Se deseja que o Twitter receba candidatos presidenciais, precisa de um canal que pareça um noticiário profissional. E enquanto está tentando construir essas coisas, precisa tomar cuidado para que a natureza da rede social não o reduza ao tipo de papel caricatural –troll em vez de magnata– que atrai todos no Twitter.

Esse tipo de redução é o que o evento do Twitter entregou a DeSantis, cujo lançamento instável pode ser esquecido —mas seria sensato se aprendesse com o que deu errado. Há uma crítica ao governador que sugere que toda a sua persona é online demais, que sua conversa insistente sobre consciência social ("wokeness") é lançada para uma facção estreita e baseada na internet dentro do Partido Republicano e que ele está se preparando para ser como Elizabeth Warren em 2020, cuja promessa de planos e mais planos emocionou a facção dos especialistas, mas fracassou com os eleitores democratas normais.

Essa crítica é exagerada. Se você olhar as pesquisas dos eleitores republicanos nas primárias, a guerra cultural parece ser uma preocupação geral, não uma fixação da elite, e há um argumento plausível de que o conflito com o novo progressismo é o principal tema que une a coalizão do Partido Republicano.

Mas parece verdade também que o conflito com o progressismo no contexto da rede social é um gosto mais de butique e que muitos conservadores anti-woke não estão especialmente preocupados em saber se o regime anterior do Twitter estava estrangulando determinado influenciador de direita ou recebendo ordens de um especialista em "desinformação" específico. E também é verdade que DeSantis está concorrendo contra um candidato que, a qualquer momento, pode voltar ao Twitter e cavalgar seus feeds como um colosso, não importa qual seja a alternativa republicana que o "Chief Twit" possa preferir.

Então, apresentar-se naquele espaço online fez DeSantis parecer desnecessariamente pequeno –menor que a presença de Musk e a ausência de Trump, reduzido aos debates sobre bloqueio nas redes e a Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações. A melhor autopropaganda do governador da Flórida em uma primária deve ser sua promessa de ser mais ativo na vida real do que Trump.

A boa notícia para DeSantis é que ele não tem bilhões numa empresa de rede social, então, tendo suportado uma introdução decrescente, pode escapar da armadilha e ir embora –em direção à multidão e aos holofotes. Para Musk, porém, a fuga requer a admissão da derrota nessa arena ou uma campanha de inovação que um dia torne o Twitter tão grande quanto ele erroneamente imaginou que fosse.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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