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Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Elo entre Daiane e Rebeca, Jade sintetiza século da ginástica brasileira

Carioca foi a uma final olímpica em 2008 com uma craque e, após 16 anos, subiu ao pódio com outra

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Paris

Daiane dos Santos, 41, caiu no choro quando a equipe feminina de ginástica artística do Brasil conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris, na terça-feira (30). A glória, claro, era das cinco atletas que se apresentaram na Arena Bercy, mas era também um marco na trajetória construída pelo país na modalidade desde a virada do século.

Campeã mundial no solo em 2003, Daiane liderou o time brasileiro rumo à sua primeira final olímpica em 2008, em Pequim. Àquela altura, o inédito oitavo lugar foi bastante celebrado também por Jade Barbosa, Ethiene Franco, Laís Souza, Daniele Hypólito e Ana Cláudia Silva.

Em 2016, no Rio de Janeiro, novo oitavo lugar, com Daniele Hypólito, Jade Barbosa, Flávia Saraiva, Lorrane Oliveira e Rebeca Andrade. Na terceira final, em 2024, em Paris, o Brasil enfim chegou ao pódio, com Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Julia Soares, Lorrane Oliveira e Jade Barbosa.

Você deve ter notado que apenas um nome aparece nas formações que disputaram as três decisões, contorcendo-se na Ásia, na América do Sul e na Europa.

Jade Barbosa.

Jade Barbosa agora é uma medalhista olímpica - Reuters

Ela é uma espécie de síntese da trajetória da ginástica artística brasileira no século, iniciada pela geração treinada pelos ucranianos Oleg Ostapenko e Iryna Ilyashenko –esta até hoje na comissão técnica da seleção. A atleta de 33 anos é o elo entre Daiane, a craque de duas décadas atrás, e Rebeca, a maior ginasta da história do país.

"As pessoas tiveram a oportunidade de ver o Brasil competindo por duas horas por uma medalha em Paris. Nós sabemos que essas duas horas foram trabalhadas em mais de 40 anos. Foi passo a passo, porque o Brasil não era nada dentro deste esporte. A gente começou com alguns talentos individuais. Hoje, somos uma potência", afirmou ela.

A própria Jade é um desses talentos individuais que expandiram os limites da ginástica, antes restrita a potências geopolíticas e à Romênia, de enorme tradição no esporte. Em 2007, quando ela estava prestes a levar o bronze na prestigiada disputa individual geral do Mundial, uma autoridade da Federação Internacional de Ginástica se espantou. "Uma ginasta do Brasil vai ganhar medalha no individual geral? Não existe isso!"

Aquela Jade tinha 16 anos. Teve uma série de conquistas relevantes, mas só alcançou a medalha olímpica que tanto almejava aos 33. Sua participação na Arena Bercy, tecnicamente, restringiu-se a um dos quatro aparelhos, o salto, com uma execução de 13.366 pontos que permitiu a Rebeca Andrade buscar o bronze com um 15.100. Mas ela foi muito maior do que isso.

A carioca é, em muitos níveis, a adulta da equipe. Lorrane, 26, Rebeca, 25, e Flávia, 24, já não são adolescentes, mas ainda carregam um ar juvenil. Julia Soares, 18, é ainda uma garota. Por isso, não surpreendeu que a mais experiente da turma tenha assumido o papel de porta-voz após a conquista, como a única que parecia compreender de fato o tamanho do feito.

"Esta equipe é extremamente resiliente. Muitas gerações gostariam de ter o que a gente conquistou. Poderiam, sim, ter alcançado, trabalharam muito duro. Mas a gente não sabe por que as coisas vêm e por que não vêm. A gente só dá o melhor. E eu me sinto muito abençoada por estar vivendo este momento da ginástica", declarou.

Ela já não é a terceira melhor ginasta do mundo, como foi em 2007. Porém tem um papel que todas as companheiras apontam como relevante de liderança e apoio. Ganhou destaque, por exemplo, uma passagem de solo de Flávia Saraiva, na etapa classificatória individual, na qual Jade batia efusivamente palmas e quase emulava seus gestos ao lado do palco da apresentação.

As personagens mentora e atleta se misturaram antes da final por equipes. Flávia sofreu uma queda no aquecimento nas barras, feriu o rosto e começou a sangrar –depois, admitiu ter competido tonta. Jade correu para socorrer a amiga, mas se deu conta de que era a reserva do aparelho em caso de lesão de uma das titulares. "Fiquei nessa: ‘Será que devo me aquecer?’."

Ela fez o que pôde para ajudar Saraiva, que, sem as melhores condições, teve noite suficientemente produtiva para tornar o bronze possível. A veterana só precisou mesmo participar do último aparelho, o salto, e prometeu à combalida companheira que estaria também a seu lado em 2028, nos Jogos de Los Angeles, como atleta ou não.

"Eu sou muito realizada no esporte e vou continuar dando o que tiver. Amanhã, a Jade vai estar no ginásio de novo. E no outro dia de novo. A Flávia me perguntou: ‘E daqui a quatro anos?’. Eu falei: ‘Vou estar com você, pode ter certeza’", relatou. "O que a ginástica precisar da Jade a Jade vai fazer."

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