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Artesãs do Piauí se conectam ao mercado via plataforma fashion

Nordestesse qualifica produtoras de bolsas e cestos de palha de carnaúba para aumentar renda em região atuada por trabalho análogo à escravidão

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São Paulo (SP)

Até dezembro de 2020, Fátima Santos, 28, ganhava cerca de R$ 0,50 com a venda de cada vassoura que produzia, o que gerava uma renda mensal de até R$ 600.

Desde abril, a artesã de Campo Maior (PI) passou a fazer bolsas de palha de carnaúba, palmeira nativa de Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte.

Artesãos beneficiados pela Nordestesse em projeto com a OIT mostram produtos confeccionados com folha de carnaúba - Divulgação

Cada unidade custa R$ 109. As peças são um sucesso de vendas na Nordestesse, plataforma de impulsionamento e divulgação do trabalho de designers, artistas e artesãos nordestinos.

O salto na renda de Fátima, em torno de 35%, aconteceu depois de passar por uma capacitação de cinco meses, quando um grupo de 25 artesãs de Campo Maior e Piripiri, ambas na zona rural piauiense, receberam aulas de trançado para agregar técnica e sofisticação ao trabalho artesanal.

As artesãs também tiveram aulas de gestão de negócio, ministradas por Elisângela Pereira, uma das instrutoras selecionadas para difundir a técnica do trançado, e Luly Vianna, designer de produtos paulistana.

"A mudança foi muito grande na vida das meninas. Algumas delas tinham problemas de saúde mental", relata Elisângela. "Depois que começaram a trabalhar com o artesanato na palha de carnaúba elas não sentiram mais nada."

A artesã Fátima Santos, que antes do projeto produzia vassouras que eram vendidas ao preço mínimo de R$ 0,43 e agora produz uma bolsa que chega a ser vendida a R$ 109 - Divulgação

O remédio que melhorou a autoestima e a renda das artesãs piauienses é fruto de um projeto de inclusão produtiva, calcado em uma estratégia de mercado em uma parceria da Nordestesse com a OIT (Organização Internacional do Trabalho).

De vital importância para a economia de pequenas comunidades da região, as atividades de exploração da carnaúba entraram na mira do MPT (Ministério Público do Trabalho) na força-tarefa "Palha Acolhedora", quando 120 pessoas foram encontradas em situação análoga à escravidão.

Após o episódio, a OIT Brasil, por meio de verba do MPT, criou um projeto para resgatar os saberes artesanais dos produtores e valorizar comercialmente seus produtos.

Uma equipe de artesãos experientes da região foi selecionada para ensinar às novas gerações as técnicas de traçado com a palha de carnaúba para confecção de produtos de maior valor agregado como bolsas e cestos.

Parte dos trabalhadores atuava na extração da folha da carnaúba, cujo pó vira cera usada na indústria automobilística e de beleza.

"Nem sempre as fábricas que fazem esse processamento pagam o preço justo pelo pó", relata Daniela Falcão, fundadora da Nordestesse, que fez uma imersão durante quatro dias na zona rural do Piauí.

A ideia era que os trabalhadores pudessem voltar a ver a carnaúba, conhecida como árvore da vida por ser integralmente aproveitada em diversos processos produtivos , como uma fonte de negócios e não apenas de subsistência.

Daniela Falcão deixou sua carreira como editora de revistas como Vogue e Glamour para se dedicar à Nordestesse - Divulgação

Após o treinamento para produção dos itens, teve início o trabalho de preparação para comercializar os produtos nacionalmente.

"Foram horas avaliando os produtos para torná-los ainda mais autorais e bem acabados, ensinando a precificar e mostrando às possibilidades de comercialização", explica Daniela, referência no mercado de moda após dirigir no Brasil por 15 anos a CondeNasté, que publica revistas como Vogue, Glamour e GQ.

Desse processo de definição de estratégia comercial nasceram duas marcas, a Curicacas, formada por artesãs da região de Campo Maior, e a Natupalha, composta por produtores de Piripiri. A ideia é que no futuro as duas estruturas produtivas se tornem associações.

Maria Aparecida Alves de Souza, 66, hoje produz itens para a Natupalha e já colhe os frutos da divulgação promovida pela Nordestesse.

O artesanato passou a ter mais visibilidade, porque entendemos melhor o que o mercado procura. Desenvolvemos a nossa marca, nossa etiqueta e tudo melhorou bastante

Maria Aparecida Souza, 66, artesã

Sobre a oportunidade de expor seus produtos em grandes feiras do mercado

Cida diz que aumentou sua renda mensal em 35%. Um dos cestos da Natupalha é vendido por R$ 147.

"Agora eu estou gostando de trabalhar com a palha, o importante é que estamos criando coisas. E a tendência é melhorar mais", diz a moradora de Piripiri.

Além do aumento de renda, sua colega Fátima destaca o impacto social em Campo Maior.

O modelo Anna é um dos itens confeccionados e vendidos pela Curicacas, marca criada pelas artesãs da cidade de Campo Maior (PI) com ajuda da Nordestesse - Divulgação

"Garantir o sustento da família é minha maior preocupação como mãe solo", diz ela, que faz R$ 800 por mês com o trançado. "É gratificante poder ter renda vinda do artesanato, contando as histórias dos nossos ancestrais e valorizando as riquezas do nosso estado."

A Nordestesse trabalha agora para garantir que as duas marcas recém-criadas tenham autonomia financeira.

"A missão é achar novos patrocinadores ou revendedores para que elas sejam autossustentáveis, captando também novas formas de patrocínio", explica Daniela. Ela planeja para agosto um evento em São Paulo para apresentar as bolsas e cestarias de carnaúba by Piauí.

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