Siga a folha

Bolsonaro omite que governo não quis 13º do Bolsa Família e culpa Maia, que chama presidente de mentiroso

Chefe do Executivo disse que presidente da Câmara deixou MP caducar; deputado rebate dizendo que medida caiu a pedido do governo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) transferiu para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a responsabilidade por beneficiários do Bolsa Família não receberem uma 13ª parcela do programa neste ano. O deputado respondeu chamando o chefe do Executivo de mentiroso.

A 13ª cota do benefício era uma promessa de campanha de Bolsonaro e foi paga apenas em 2019 por meio de uma MP (medida provisória). Durante a tramitação no Congresso, o relator da matéria, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), propôs que a parcela extra fosse estabelecida para todos os anos seguintes.

A medida perdeu a validade em 25 de março, quando estava na pauta da Câmara dos Deputados e ainda seguiria para o Senado.

O presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Jair Bolsonaro (sem partido) durante cerimônia no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 17.jun.2020/Folhapress

"Você está reclamando do 13º do Bolsa Família, que não teve. Sabia que não teve este ano? Foi promessa minha? Foi. Foi pago no ano passado? Mas o presidente da Câmara deixou caducar a MP. Vai cobrar de mim? Cobra do presidente da Câmara, que o Supremo agora não deu o direito de ele disputar a reeleição. Cobra dele", disse Bolsonaro em sua transmissão semana pela internet na noite desta quinta-feira (17).

À época, porém, a MP não foi votada por causa de uma articulação do próprio governo, que previa um impacto de R$ 8 bilhões aos cofres públicos.

"Nunca imaginei que Bolsonaro fosse mentiroso", disse Maia à Folha, ao ser informado da acusação feita pelo presidente na live.

"Foi pedido do governo, mas tem um projeto do deputado Darci de Matos [PSD-SC] criando o 13º. Posso votar amanhã [sexta-feira (17)], se ele quiser", afirmou o presidente da Câmara.

O projeto de lei nº 4439/20 autoriza o pagamento, no mês de dezembro de cada ano, de abono de até um salário mínimo à pessoa com deficiência e ao idoso com mais de 65 anos que recebam o BPC (Benefício de Prestação Continuada).

Nesta sexta (18), Maia subiu na tribuna do plenário para criticar novamente Bolsonaro e expor uma articulação do governo para impedir a votação da medida provisória 1000, que estende o auxílio emergencial até dezembro, mas com valor de R$ 300.

Antes de falar, o presidente da Câmara estava comandando uma sessão para retomar as sugestões de mudanças no projeto de lei que libera R$ 177 bilhões para ajudar o governo a diminuir sua dívida pública. Para tentar impedir que a MP fosse votada, partidos da base informal do presidente Jair Bolsonaro começaram a obstruir a sessão.

"Mais um episódio ocorrido no dia de ontem, quando infelizmente o presidente da República mentiu em relação à minha pessoa", afirmou. "Eu precisava fazer o meu discurso para resguardar a imagem dessa Casa e da minha Presidência. Porque amanhã a narrativa vai deixar de ser o 13° do Bolsa Família e ele [Bolsonaro] vai dizer que fomos nós que acabamos com o auxílio emergencial porque não votamos a medida provisória."

"Então foi muito importante o governo entrar em obstrução contra a MP 1000. Foi muito importante, e isso está registrado na imprensa, está registrado no plenário, porque nós queremos, eu tenho certeza, de que estamos dispostos ainda a trabalhar no mês de janeiro e construir os caminhos para que 8, 10, 12 milhões de brasileiros possam ser incluídos no Bolsa Família de forma a respeitar o orçamento primário."

Maia afirmou ainda que, se a intenção fosse usar politicamente a Presidência da Câmara, teria pautado a medida provisória faltando uma semana para a eleição da Câmara, que ocorrerá em 1° de fevereiro.

"Nós sabemos qual seria o resultado dessa votação", disse. Maia afirmou que o governo não tem "condições de tratar da ampliação de nenhum gasto público" sem cometer crime de responsabilidade.

O presidente da Câmara afirmou que a narrativa de Bolsonaro foi desmentida pelo próprio ministro Paulo Guedes (Economia), que confirmou não haver recursos para o 13° do Bolsa Família.

"Se hoje o presidente não consegue promover uma melhora do Bolsa Família ou uma expansão do Bolsa Família para esses milhões de brasileiros que ficarão sem nada a partir de 1º de janeiro, a responsabilidade é exclusiva dele, que tem um governo que é liberal na economia, mas não tem coragem de implementar essa política dentro do governo e principalmente no Parlamento."

Maia criticou as agressões sofridas enquanto presidente da Câmara e afirmou que Bolsonaro não gosta de adversários que jogam de forma aberta e transparente.

"Ele prefere os aliados, que ele vai conhecer um dia, alguns, que estão sempre jogando pelas costas e quando podem a gente sabe o que fazem com os governos."

Ao final do discurso de 13 minutos, Maia ressaltou que continuará "do lado da democracia, contra a agenda de costumes que divide o Brasil, que radicaliza o Brasil, que gera ódio entre as pessoas.

"E como essa é a agenda do presidente, eu continuarei sendo um leal adversário do presidente da república naquilo que é ruim para o Brasil", afirmou.

"E serei um aliado do governo, não do presidente, do governo, nas pautas que modernizam o estado brasileiro, respeitando o limite de gastos, já que nossa carga tributária é muito alta e a população não merece mais uma vez pagar a conta da incompetência e da falta de coragem do governo de enfrentar aquilo que prometeu, que é a reestruturação das despesas públicas."

Bolsonaro e Maia sempre tiveram uma relação tensa, mas isso piorou nos últimos dias porque Bolsonaro está patrocinando a candidatura do líder do Progressistas na Câmara, Arthur Lira (AL), na disputa pelo comando da Casa.

O STF (Supremo Tribunal Federal) barrou a possibilidade de Maia tentar a reeleição para o cargo. Agora, o deputado tenta viabilizar um candidato para enfrentar o nome apoiado pelo Palácio do Planalto.

Jair Bolsonaro comentou o assunto ao rebater críticas de seus seguidores na internet por estar apoiando a candidatura do líder do centrão, grupo de partidos que troca cargos e emendas por sustentação no Congresso, ao qual o presidente da República, em campanha, havia dito que não se aliaria.

"Vai mudar [sic] as Mesas da Câmara e do Senado, agora, em 1º de fevereiro. Já sofro críticas por isso, né? 'Ah, não quero este cara'. Ô, cara, quem você quer? Vai e arranja 257 votos na Câmara e 41 votos no Senado para o teu candidato, para o seu cara, que você acha que é o bom. Eu estou, logicamente, acompanhando as eleições nas duas Casas. O que eu pretendo na Mesa da Câmara e do Senado? Eu converso com parlamentar, fui 28 anos parlamentar. Que alguém que vá para lá que não trave as pautas de interesse do Brasil, que bote em votação as matérias", disse Bolsonaro.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas