Luiz Felipe d'Avila escreve livro sensato, mas clichê, contra os populismos
'Vire à Direita, Siga em Frente' adota tom aguerrido e fomenta debate sobre as distorções históricas da política econômica brasileira
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Nos anos 1980, o filósofo alemão Jürgen Habermas escreveu sobre a ascensão do que chamou de "neoconservadorismo". Tal perspectiva defenderia a tradição no âmbito cultural e moral, mas se diferenciaria da corrente anterior por respaldar a modernização econômica e a tecnológica capitalista.
O que se chama atualmente de "nova direita" é essa fusão de conservadorismo cultural e moral e liberalismo econômico —que teve Ronald Reagan e Margaret Thatcher como ícones primevos. E é uma defesa a ela o que se propõe a fazer Luiz Felipe d'Avila, cientista político e candidato a presidente pelo partido Novo em 2022, no livro "Vire à Direita, Siga em Frente".
Trata-se de um manifesto para o que o autor denomina como "direita sensata" chegue ao poder. O estilo pedagógico que beira o passional, comum em textos do tipo, pode ser enfadonho aos conhecedores do assunto e incomodar a quem trata a política de modo mais distanciado. Se o objetivo é valorizar a sensatez, o tom aguerrido e o uso de clichês são capazes de não apenas afastar leitores como também estimular a polarização que o autor visa combater.
Seu público-alvo são os leigos interessados nas temáticas de direita e críticos à esquerda e os já direitistas que discordam da vertente populista —que, no livro, é chamada de "direita chucra".
Centrar grande parte da análise na economia foi uma boa escolha, dado que é neste setor que se verificam os problemas crônicos que afetam a realidade cotidiana da população. A crítica é voltada ao desenvolvimentismo intervencionista, que tem adeptos nas duas tendências políticas.
De modo didático, ancorado em dados e exemplos empíricos, o autor mostra como uma política econômica baseada em subsídios, protecionismo, reserva de mercado, burocracia e regulamentação excessivas embotam a produção de riqueza e a geração renda, já que se tratam de práticas que restringem a competição no livre mercado, geram atraso tecnológico e criam monopólios.
Na administração pública, o desmazelo com princípios básicos de regras fiscais, com gastos desenfreados em políticas que carecem de foco, metas e diagnósticos, produz insegurança que mina investimentos, aumentam inflação e juros.
Legislações arcaicas engessam despesas com benefícios, salários e Previdência e deixam o Estado sem espaço de manobra para alocar verbas onde elas de fato são necessárias —um exemplo clássico dessa distorção é a educação: gasta-se muito, mas mal.
É louvável também a defesa de liberdades individuais, como a de expressão. D'Avila aponta aspectos autoritários do movimento identitário, que estimula a polarização com o chamado "cancelamento" de quem profere opiniões discordantes. O autor só se esquece de mencionar que a direita populista também é censória quando quer proibir exposição de arte queer ou filme satírico sobre a religião católica.
Outra lacuna é a política de drogas. O último capítulo é uma ode à liberdade: "Foi a liberdade que nos livrou de sermos súditos de reis e servos de senhores e nos transformou em cidadãos livres para fazer nossas próprias escolhas e sermos donos do nosso destino".
Ora, não há maior repressão vigente à liberdade individual do que o proibicionismo. Drogas leves, como maconha, deveriam participar do mercado de forma competitiva, como o álcool, e não é papel do Estado tutelar o que o cidadão escolhe fazer com seu próprio corpo.
De todo modo, é bem-vindo o esforço do autor em fomentar um debate público baseado em evidências sobre os graves problemas que afetam a sociedade brasileira —criados por uma ideologia populista, nacionalista e desenvolvimentista que grassa na esquerda e na direita.
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