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Mauricio de Sousa tem sua potência empresarial analisada em livro que abusa de chavões

'Crie de Manhã e Administre à Tarde' mostra como o cartunista controla seus direitos autorais e desbravou o licenciamento

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Ana Paula Sousa

Jornalista e doutora em sociologia da cultura pela Unicamp

Crie de Manhã e Administre à Tarde

  • Preço R$ 69,90 (256 págs.)
  • Autoria Mauricio de Sousa, Renata Sturm e Guther Faggion
  • Editora Maquinaria

O subtítulo de "Crie de Manhã e Administre à Tarde" promete algo que não entrega: "Os segredos empresariais por trás do gênio". A empresa em questão é a Mauricio de Sousa Produções (MSP), potência do setor de entretenimento, que vende 2 milhões de revistas em quadrinhos por mês; tem um canal no YouTube com 19,1 milhões de inscritos; e oferta, no varejo, 4.000 produtos licenciados.

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O cartunista Mauricio de Sousa recebeu o Prêmio Personalidade da Comunicação 2023 - Folhapress

Renata Sturm e Guther Faggion, autores do livro coassinado por Mauricio, se propõem a compreender a longevidade e o sucesso de um negócio que se mantém saudável e relevante há seis décadas. Acontece que, ao encarar a empreitada, acabam por se defrontar com o que talvez seja o "verdadeiro sucesso" do sistema criado pelo artista e empresário: o controle total sobre a imagem não apenas dos personagens da Turma da Mônica mas de seu criador.

Embora, do subtítulo à introdução, o livro se apresente como um retrato inédito de Mauricio, capaz de jogar luz sobre seu lado empreendedor, o que se revela é um misto de dados, resumo da bibliografia sobre negócios e ensinamentos corriqueiros no segmento de literatura de autoajuda voltada a executivos e empreendedores.

Alguns exemplos de frases batidas às quais os autores recorrem na tentativa de explicar o sucesso são: "o fracasso não define a sua trajetória, mas sim a forma como você lida com ele"; "o mais difícil não é chegar ao topo, é permanecer nele"; "nem sempre podemos escolher o destino, mas podemos direcionar o curso do barco que nos leva a ele"; ou "a vida é uma montanha-russa de eventos imprevisíveis".

A despeito dos lugares-comuns, é inegável que a trajetória de Mauricio de Sousa, hoje com 88 anos, é, por si, inspiradora e impressionante. No segmento das indústrias criativas, não há, no Brasil, exemplo de criação artística voltada ao segmento infantil de tamanha relevância —e poucos há no mundo.

Nesse sentido, ainda que se construa mais como uma narrativa de fãs do que como uma análise teórica dos possíveis cruzamentos entre cultura e mercado e entre criação e empreendedorismo, "Crie de Manhã e Administre à Tarde" traz um bem-vindo olhar sobre uma empresa de um segmento habitualmente pouco explorado por seus aspectos comerciais.

E um dos pontos cruciais dos negócios ligados às indústrias criativas são, justamente, os direitos autorais, que Mauricio soube, desde o início, explorar com sagacidade e eficiência.

Seu primeiro contrato de licenciamento foi feito em 1967, com uma fabricante de gravatas chamada Duplex. Alguns anos depois, ele colocaria seu elefante Jotalhão no extrato de tomate Cica. Se, hoje, o licenciamento é um caminho conhecido, naquele momento tratava-se não apenas de um terreno pouco explorado no Brasil como uma opção olhada com desconfiança —muitos não achavam de bom tom usar uma criação para vender produtos que nada têm a ver com ela.

Ao tratar desse tema, os autores não perdem a oportunidade de contar a história das famosas maçãs da Turma da Mônica, que acabaram por alterar, inclusive, o tipo de maçã que se come no país. Segundo o livro, antes do insight de Mauricio, só havia maçãs em tamanho grande no mercado.

À falta dos prometidos "segredos empresariais", a narrativa oferece, aqui e ali, um saboroso resumo biográfico de Mauricio, um homem que tem gosto em relatar que, aos seis anos, começou a trabalhar como engraxate na barbearia do pai e em rememorar seus primeiros passos como desenhista.

Essa história começa em 1954, na sede da Folha, na mesma rua Barão de Limeira onde segue o jornal. Mauricio foi até lá para mostrar seus desenhos, mas, de cara, não impressionou. Decidiu, no entanto, entrar pela porta então aberta e tornou-se copidesque.

Trabalharia ainda como repórter policial até conseguir, em 1959, publicar, na Folha da Tarde, a primeira tirinha do Bidu. A partir daí, passou a vender as tirinhas para diferentes jornais e chegou, a certa altura, a publicar simultaneamente em 400 deles. Outra virada em sua trajetória aconteceria em 1970, quando lançou, pela Editora Abril, a revista Mônica.

A tratar da gestão da criatividade, os autores sublinham que "permitir-se errar é crucial para o desenvolvimento da criatividade e, consequentemente, da inovação". Eles dizem ainda que esse é um processo que implica risco e, consequentemente, erros e falhas.

Terminamos o livro sem conhecer os erros e falhas, mas ficamos, sem dúvida, sabendo um pouco mais sobre essa ousada aventura que é a MSP.

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