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Renúncia de pupila deve alavancar ala mais à direta do partido de Merkel

Advogado milionário surge como possível sucessor da chanceler alemã na CDU

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São Paulo

A renúncia da pupila de Angela Merkel da presidência de seu partido ampliou a instabilidade política na Alemanha em meio ao crescimento da extrema direita. A saída acontece a pouco mais de um ano das eleições que devem pôr fim aos 16 anos de governo da chanceler —e deve alavancar a ala mais à direita da conservadora União Democrata-Cristã (CDU).

E tudo indica que, após duas décadas, a CDU deve ter à sua frente novamente um homem, e não mais uma mulher.

Annegret Kramp-Karrenbauer, conhecida como AKK e “mini-Merkel”, foi ao longo dos anos escolhida e preparada pela chanceler para sucedê-la à frente da CDU e, por conseguinte, da chefia do governo alemão.

AKK foi finalmente alçada à liderança conservadora em 2018, quando Merkel anunciou que não seria candidata à reeleição no pleito de outubro de 2021.

Porém, críticas em torno de uma aliança de ocasião selada pela CDU com a sigla de ultradireita nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) para garantir a chefia de governo no estado de Turíngia levaram AKK a renunciar ao cargo na segunda (10).

Annegret Kramp-Karrenbauer, que renunciou à liderança da CDU, entre seus possíveis sucessores, Friedrich Merz (esq.) e Jens Spahn - Fabian Bimmer - 15.nov.18/Reuters

Agora, como nome forte para fazer o contraponto à AfD, surge a figura de Friedrich Merz, 64. O advogado milionário fez longa carreira política, mas vinha atuando no setor privado. Até a semana passada, era membro da diretoria do fundo de investimentos americano Blackrock.

“Nas próximas semanas e meses estarei ainda mais comprometido com este país”, afirmou ele ao deixar a companhia.

A avaliação na Alemanha é que Merkel alienou boa parte de seu eleitorado ao jogar a CDU mais para a esquerda, aproximando-a de políticas da social-democracia.

Como exemplo são citadas a adoção da política de portas abertas à imigração, em 2015, e a decisão de fechar as usinas nucleares alemãs após o acidente de Fukushima (Japão), em 2011.

Para muitos analistas, isso levou a uma fuga de votos da CDU para a AfD. Nas eleições de 2017, a AfD se tornou a terceira maior força no Parlamento e o maior partido de oposição ao governo Merkel.

Segundo o articulista Zacharias Zacharakis, a esperança é que, com Merz à frente, a CDU volte a seu perfil conservador original e assim consiga diminuir o poder da ultradireita antes das próximas eleições.

“A CDU precisa de um líder que leve os conservadores de volta ao partido sem expulsar os liberais. Merz pode fazer isso”, escreveu Zacharakis no Zeit.

“Apenas quando houver novamente um antagonismo real entre os social-democratas e a União é que os dois partidos poderão formular suas propostas centrais com credibilidade. Quanto mais liberal Merz pareça, melhor para o SPD e mais difícil para aqueles nas margens políticas assumirem um papel de destaque.”

Já Sabine Kinkarz alertou na Deutsche Welle que não há garantias de que eleitores que rumaram da CDU para a AfD voltem para o partido mesmo se houver esse “retorno às raízes”.

Merz perdeu para AKK a disputa pela chefia da CDU em 2018, mas se manteve em evidência em parte devido às dificuldades de assertividade dela. Seu perfil conservador e pró-mercado ressoa com o “núcleo duro” católico ocidental do partido que vê Merkel –protestante e do Leste– como uma anomalia.

Outro nome que desponta é o do secretário da Saúde, Jens Spahn, 39, que teve seu perfil alavancado recentemente pela crise do coronavírus. Sua articulação de uma resposta conjunta à disseminação do vírus, envolvendo o G7 e a União Europeia, é bem avaliada internamente. Ele foi também uma das vozes mais fortes contra a política pró-imigração de Merkel.

Armin Laschet, 58, chefe de governo do estado de Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso do país, também aparece como candidato. O fato de ser identificado como leal a Merkel, porém, depõe contra ele neste momento, já que não satisfaria o desejo de mudança de uma grande parte do partido. Em comparação com os outros dois, é pouco conhecido nacionalmente.

Nenhum dos três declarou abertamente sua candidatura, mas segundo fontes da CDU citadas pela imprensa alemã, os três já conversaram entre si.

Em encontro nesta terça em Magdeburg, Merz afirmou que gostaria de “fazer uma contribuição pessoal” ao futuro do partido, mas que a convenção partidária existe para tomar as decisões.

Markus Soeder, 53, líder da União Social Cristã (CSU), sigla irmã da CDU na Baviera, e Ralph Brinkhaus, 51, líder da CDU/CSU no Parlamento, também foram apontados como possíveis candidatos.

Nesta terça, a CDU se lançou numa disputa também sobre o calendário eleitoral. Até agora, está mantida a tradicional data da convenção da CDU, em dezembro.

Mas alguns representantes do partido defenderam que uma decisão sobre a presidência do partido e, consequentemente, sobre o candidato à chancelaria, seja tomada antes do recesso de meio de ano.

“A CDU, que tem importância central na estabilidade política do país, não pode esperar nove meses para responder a essa questão [sobre a liderança]. Uma falta ‘de facto’ de liderança seria um veneno na atual crise”, afirmou Bertold Kohler no Frankfurter Allgemeine.

“Ela [a CDU] precisa urgentemente de alguém que a una e guie. Ninguém rejeita o pedido de Kramp-Karrenbauer de que essa pessoa também seja o candidato a chanceler. Mas quem quer que seja proclamado candidato um ano e meio antes da eleição está também sujeito a longos meses de desgaste.”

“Será interessante ver como a CDU vai sair desse dilema”, finalizou.

Com Reuters

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