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Premiê japonês anuncia saída abrupta menos de 1 ano após assumir cargo

Impopular, Yoshihide Suga enfrenta críticas pela ineficiência no combate ao coronavírus

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O premiê do Japão, Yoshihide Suga, não será mais a figura à frente do Partido Liberal Democrático (LDP), principal sigla do Legislativo japonês. Assim, na prática, o político conservador de 72 anos também abdica da chance de permanecer no cargo de primeiro-ministro da terceira maior economia do mundo.

O anúncio de que não buscará a reeleição como chefe do partido governista foi feito por Suga nesta sexta-feira (3), em um movimento abrupto, sem avisos, mas com motivações que parecem bem claras. Há menos de um ano no cargo, ele foi eleito para concluir o mandato de seu antecessor e aliado, Shinzo Abe, que renunciou por problemas de saúde. Já como primeiro-ministro, construiu um mandato impopular.

O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, durante entrevista coletiva sobre a pandemia - Issei Kato - 30.jul.21/Reuters

Nos últimos meses, o premiê viu os índices de aprovação desidratarem —de 60% no início do ano, caíram para menos de 30%—, em grande parte devido às falhas no combate à Covid. Mesmo as Olimpíadas de Tóquio não foram capitalizadas por Suga. Desde o fim da competição, o país vive uma alta de infecções impulsionada pela variante delta, com disparada de casos graves e sobrecarga do sistema médico.

Um dos principais fatores que pesaram no descontentamento popular foi a demora do governo japonês para iniciar a campanha de vacinação. A primeira dose do imunizante contra a Covid começou a ser aplicada no país em 17 de fevereiro, mais de um mês e meio após diversas nações desenvolvidas darem início a suas campanhas. A essa altura, por exemplo, os Estados Unidos já tinham 12% da população com ao menos uma dose, e o Reino Unido, 24%. Dos brasileiros, 2,5% estavam parcialmente imunizados, segundo o compilado pela plataforma Our World in Data.

Com mais de 1,5 milhão de casos e 16 mil mortes registradas por Covid, o Japão vive sua quinta onda da pandemia e observou o recorde na média de novos diagnósticos diários da doença por milhão de habitantes há pouco mais de uma semana. Em 25 de agosto, a cifra ficou em 183 —no Brasil, o recorde foi registrado em 23 de julho, com 361 novos casos a cada milhão de habitantes.

"Uma enorme quantidade de energia teria sido necessária para lidar com a pandemia e realizar atividades de campanha presidencial do partido", disse Suga no pronunciamento em que anunciou sua saída. Mesmo correligionários e aliados próximos do premiê, como o secretário-geral do partido, Toshihiro Nikai, se disseram surpresos, já que a decisão não foi conversada com o alto escalão da sigla antes se ser anunciada para o público.

​Durante seu mandato, Suga fez um governo de continuidade, preservando a maior parte dos ministros e das políticas de Abe. Filho de uma professora e de um agricultor, ele é graduado em direito e começou a carreira política como assessor parlamentar em Yokohama. Foi eleito membro do conselho municipal e, anos mais tarde, em 1996, tornou-se deputado pela mesma cidade.

Suga teve papel decisivo no retorno de Abe ao poder, em 2012, após o fracasso de seu primeiro mandato como chefe de governo, em 2006 e 2007. O então premiê o recompensou com a nomeação ao posto estratégico de secretário-geral do governo, em que Suga assumiu o papel de coordenador de políticas entre os ministérios e as várias agências estatais, rendendo-lhe a reputação de bom estrategista.

Ainda não está claro quem deve substituí-lo na chefia do partido governista —as eleições internas terão início no dia 17 deste mês e serão concluídas no dia 29. O vencedor da corrida provavelmente será designado primeiro-ministro pelo Legislativo japonês, já que a maioria das cadeiras pertence ao LDP, e, em seguida, vai liderar a sigla em uma eleição geral que deve ser realizada até o final de outubro. As projeções mais recentes sugerem que a legenda deve manter a liderança, mas pode perder a maioria absoluta, o que enfraqueceria o futuro líder.

O ex-chanceler Fumio Kishida é o único candidato declarado por ora. Quando seu anúncio de intenção foi feito, a mídia japonesa noticiou que Suga pretendia dissolver o Legislativo, adiantar as eleições gerais e postergar a disputa interna do partido, de modo a permanecer no poder. O premiê prontamente negou as acusações.

Ao jornal de Hong Kong South China Morning Post, analistas também não descartaram a possibilidade de que Shinzo Abe, político que por mais tempo ocupou o cargo de primeiro-ministro no Japão, manobre para voltar ao poder —talvez não nesta eleição, mas em breve.

"É completamente sem precedentes, mas é amplamente entendido que, agora que recuperou a saúde, Abe está se preparando para outra corrida [eleitoral]", afirmou Koichi Nakano, professor da Universidade Sophia, de Tóquio. De acordo com o cientista político, o aumento da presença de Abe nas redes, bem como as aparições públicas cada vez mais frequentes, são sinais de um possível retorno à arena política.

Abe ficou por quase oito anos no poder, quebrando um ciclo de sucessivas trocas no Japão. Antes de seu longevo mandato, era comum que o país visse sua liderança mudar uma vez a cada ano, o que, a depender do capital político de quem suceder Yoshihide Suga, pode voltar a acontecer.

Veja abaixo alguns nomes cotados para substituir Suga na liderança do Partido Liberal Democrático.

Seiko Noda, Taro Kono, Shigeru Ishiba, Fumio Kishida e Sanae Takaichi, cotados para a vaga de premiê no Japão - Reuters

FUMIO KISHIDA, 64

Ex-chanceler e deputado de Hiroshima, era considerado o provável herdeiro de Shinzo Abe, mas ficou em segundo lugar na votação interna pela liderança do partido, em grande parte devido à sua baixa classificação em pesquisas eleitorais.

Oriundo de uma ala do LDP que se mostra mais preocupada com questões como desemprego e desempenho econômico, pediu a redução das disparidades de renda e prometeu apoio às classes mais baixas quando anunciou sua candidatura. Disse concorrer para que o LDP "ouça o povo e ofereça opções amplas para proteger a democracia japonesa".

SANAE TAKAICHI, 60

Discípula de Shinzo Abe e ex-ministra de Assuntos Internos, já falou publicamente sobre o objetivo de ser a primeira mulher no cargo de primeira-ministra. Propõe políticas para reduzir a inflação de 2% e "evitar o vazamento de informações confidenciais para a China".

Pertence à ala mais conservadora do partido e já se opôs à permissão para que casais mantenham sobrenomes diferentes, como defendem movimentos feministas japoneses.

TARO KONO, 58

Responsável pelo lançamento da campanha de vacinação no Japão, atuou como ministro das Relações Exteriores e da Defesa e é próximo ao atual premiê.

SHIGERU ISHIBA, 64

Ex-ministro da Defesa, costuma ter bom desempenho nas pesquisas eleitorais, mas é menos popular entre os parlamentares do partido. Crítico dos mandatos de Shinzo Abe, já chegou a derrotar o ex-premiê em algumas disputas. Tem reivindicado mais gastos com obras públicas para reduzir a desigualdade.

A uma emissora local ele disse que a retirada de Suga da corrida "muda completamente o cenário, então agora temos que pensar sobre nossos próximos passos".

SEIKO NODA, 60

Crítica de Shinzo Abe, ela é ex-ministra de Assuntos Internos. Tentou desafiar o ex-premiê na corrida para a presidência do partido em 2015, mas ficou aquém dos 20 apoios necessários para concorrer. De acordo com um jornal local, disse a colegas de partido que pretende tentar uma nova liderança neste ano. Assim como Sanae Takaichi, tem posturas mais conservadores em relação aos direitos das mulheres.

Com Reuters

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