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Opositores na Venezuela se dividem sobre posição de Lula em relação a Maduro

Aproximação de Brasília ao regime de Caracas é vista como 'lamentável', mas também como útil para pressioná-lo

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Buenos Aires

Os afagos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao ditador Nicolás Maduro dividem candidatos de oposição na Venezuela. Enquanto alguns veem a aproximação do petista como negativa, outros defendem que ela pode ser útil para fazer pressão ao regime, depois que a principal líder opositora, a ex-deputada María Corina Machado, foi impedida de disputar as eleições previstas para 2024.

O social-democrata Andrés Caleca, que concorrerá nas primárias em 22 de outubro, diz que não pode qualificar a posição do brasileiro de outra maneira que não seja "lamentável" e que ela "tira muito do mérito" de Lula, de sua trajetória e "do que é o movimento popular de esquerda democrático do Brasil".

Lula conversa com o ditador Nicolás Maduro no Palácio do Itamaraty, em primeira visita do venezuelano ao Brasil em 8 anos - Pedro Ladeira - 29.mai.23/Folhapress

"Entendo que os Estados têm interesses que vão além das posições políticas de cada um e que possivelmente o Brasil tem interesse em manter uma relação estreita e estável com seu vizinho do norte, mas daí a apoiar politicamente Maduro há uma grande distância."

Caleca foi, na década de 1990, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano e da siderúrgica estatal Ferrominera Orinoco, hoje controlados pelo regime de Maduro. Ele é um dos 14 candidatos que afirmam acreditar que a melhor estratégia para tirar o líder do poder é escolher um opositor único para confrontá-lo nas eleições, ainda sem data marcada.

Já o liberal Antonio Ecarri, que se apresenta como uma terceira via de centro, argumenta que as primárias do que chama de "velha oposição" não representam grande parte da sociedade e pretende concorrer por fora, pelo seu partido, o Aliança do Lápis. Ao contrário de Caleca, ele diz não ver as falas de Lula como relativização da violação de direitos humanos, e sim como uma nova forma de fazer política.

"Quanto mais perto Lula estiver da Venezuela, melhor. Mais Lula, menos Miguel Díaz-Canel [líder de Cuba] e Daniel Ortega [ditador da Nicarágua]", diz ele. "Lula tem um grande papel de advogar pela eleição mais limpa e transparente possível. A estratégia de ilhar a Venezuela é um erro, e sanções não levaram a nada."

As primárias da oposição serão geridas por um grupo de partidos oposicionistas, já que não contarão com a estrutura do Conselho Nacional Eleitoral —os diretores do órgão renunciaram a seus cargos em junho, no que adversários interpretaram como uma tentativa de esvaziar a votação prévia.

"Maduro fará todo o possível para sabotar e impedir que essas primárias ocorram. Antes de inabilitar María Corina Machado, já fizeram essa manobra importante que foi implodir a autoridade eleitoral, barrando o uso dos centros eleitorais e do sistema automatizado de eleição", afirma Caleca.

A ex-deputada, que encabeçava as pesquisas eleitorais, foi declarada inelegível por 15 anos pela Controladoria-Geral da República no último dia 30. O órgão alega que ela cometeu "erros e omissões" em declarações de patrimônio em 2015 e apoiou a Presidência interina do ex-deputado Juan Guaidó em 2019.

A decisão gerou críticas de várias entidades, da União Europeia e de líderes da América Latina. Exceto Lula, que, ao ser provocado pelo uruguaio Luis Lacalle Pou e pelo paraguaio Mario Abdo Benítez na cúpula do Mercosul, na terça (4), disse que "não conhecia os pormenores" do caso, "mas pretendia conhecer".

A antichavista María Corina Machado —que, mesmo inabilitada, diz que vai disputar as primárias na esperança de que uma eventual votação expressiva lhe dê envergadura para pressionar Maduro a negociar— considera a posição de Lula "inaceitável a esta altura do jogo" e diz que, se ele quer contribuir com a Venezuela, "deve entender que este é o momento de atuar", como afirmou ao jornal O Globo.

"O governo brasileiro pode contribuir de maneira significativa para uma transição pacífica na Venezuela, mas não botando panos quentes e justificando os crimes de Maduro. O Brasil perde autoridade moral frente aos demais atores democráticos para se tornar um interlocutor confiável. Não pode demonstrar esse nível de suposta ignorância."

A Folha perguntou a Corina e a Henrique Capriles, duas vezes candidato à Presidência e outro opositor que está inelegível mas concorrerá às primárias, suas opiniões sobre a postura de Lula, mas suas equipes afirmaram que eles não teriam tempo devido às agendas de campanha.

Capriles também foi proibido de se candidatar por 15 anos, a partir de 2017, por supostas irregularidades administrativas de 2011 a 2013, quando era governador do estado de Miranda. Há ainda um terceiro candidato impedido na lista das primárias: o ex-deputado Freddy Superlano, inabilitado desde 2021 por supostas irregularidades nas eleições do estado de Barinas.

O autoritarismo na Venezuela remonta aos tempos do ex-presidente Hugo Chávez, mas foi depois que ele morreu de câncer, em 2013, que Maduro, seu vice, passou a mostrar a face mais autoritária do regime. Ele criou uma Assembleia Constituinte para neutralizar a oposição, dominou o Tribunal Supremo de Justiça e se reelegeu em 2018 sob eleições muito questionadas, sem observadores internacionais.

Cronologia recente das eleições na Venezuela

  • 16.jun Oposição anuncia que vai gerir eleições primárias, após esvaziamento do órgão eleitoral do país
  • 24.jun Termina o prazo para candidaturas às primárias, com 14 inscritos
  • 30.jun Regime de Maduro torna inelegível a opositora María Corina Machado
  • 22.out População vai às urnas para escolher candidato da oposição nas primárias
  • 2024 Em tese, vencedor das primárias disputa com Maduro e outros candidatos, em data ainda não definida

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