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Fernando Bacal

É possível imaginar um legado pós-coronavírus?

Espero que voltemos a ver investimento e estímulo à ciência no país

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Fernando Bacal

Estamos vivenciando um momento de grandes incertezas e angústias, decorrentes da pandemia pelo novo coronavírus. Quando nos deparamos com o número elevado de óbitos, não poupando inclusive países desenvolvidos com grande acesso à tecnologia, associado ao número excessivo de pacientes que necessitam ser hospitalizados em UTIs, trabalhar na área de saúde e estar na linha de frente de uma crise como esta nos faz refletir sobre este presente sombrio e projetar um futuro melhor.

Acredito que podemos tirar grandes lições do que estamos vivendo hoje. Exemplos de sucesso e brechas de imperfeições agora reconhecidas podem se tornar legados a serem incorporados na área de saúde.

O cardiologista Fernando Bacal durante o Seminário Coração Fraco, promovido pela Folha para discutir o cenário de insuficiência cardíaca no Brasil - Reinaldo Canato - 25.mar.19/Folhapress

Diante de uma grave crise sanitária, observamos a formação de consórcios de várias instituições que, forças unidas, convergiram expertises, tecnologias e material humano em prol de salvar vidas. Dessas iniciativas, importantes estudos clínicos estão em andamento, que seguramente serão referências futuras na área. O momento atual mostrou o quanto é imperioso que hospitais, agências de pesquisa, universidades, indústria e instâncias estatais, dentre outros, mantenham uma constante capacidade de se mobilizar em equipe, deixando potenciais rivalidades de lado, em busca de soluções que impactem na vida das pessoas, nosso bem maior.

Notamos também, de maneira inquestionável, a importância da ciência no nosso dia a dia. Nesta epidemia pela Covid-19, vimos por várias ocasiões governantes demandando soluções rápidas, exigindo de pesquisadores as respostas “definitivas”. Um país somente será desenvolvido de fato se tiver no centro de sua cultura e seu modo de viver a valorização da atividade científica e dos seus cientistas, bem como a criação de um ambiente fértil de pesquisa e inovação.

Tal ciclo virtuoso, uma vez criado, será capaz de desenvolver um ambiente de negócios saudável, juntamente com a criação de complexos industriais da saúde, oferecendo as bases sólidas para a geração de riqueza, empregos, autossustentabilidade e o fundamental crescimento econômico de que tanto necessitamos. Espero que voltemos a ver o investimento e estímulo à ciência no país, sempre lembrando que pesquisas sérias e transformadoras exigem tempo e rigor metodológico.

Outro ponto que poderá ser um legado são as chamadas parcerias público-privadas, bem como o desenvolvimento de oportunidades e facilidades para que a área da saúde possa receber recursos de forma mais criativa e desburocrarizada.

No Brasil de hoje ainda é difícil a doação de valores a serem aplicados na saúde, diferentemente do que se vê em outros países, como nos EUA e em algumas nações europeias, onde empresas ou mesmo grandes fortunas encontram nessa ação um bem coletivo, que impacta na sociedade como um todo.

Vimos no combate ao coronavírus que o fomento privado ao desenvolvimento da área da saúde é amplamente possível. Esperamos que estas ações se tornem perenes.

E, por fim, tenho a convicção de que a valorização de todos os profissionais da saúde será um legado inquestionável dos tempos que estamos vivendo agora. Ainda estamos no meio da crise, e todos têm trabalhado de forma incansável e destemida, lutando contra um inimigo invisível e que impõe tanto sofrimento para pacientes e seus familiares. Presenciamos inúmeras histórias de superações e privações de colegas que, apesar disso, seguem em suas vocações e se colocam a postos para a batalha.

A valorização à qual me refiro não trata de algo abstrato e imaterial, mas de pontos tangíveis que incluem uma reformulação ampla do sistema de remuneração e de carreira, proteção física e mental, para citar alguns. A via e o intuito final são, naturalmente, criar as condições para que continue e prospere a missão de aliviar o sofrimento e salvar a vida do próximo.

Heróis, mascarados e uniformizados, em sua grande maioria anônimos, os profissionais da saúde personificam o que de melhor queremos para nosso futuro, buscando o legado bom, diante de um momento tão difícil que vivemos.

Fernando Bacal

Cardiologista do Incor (Instituto do Coração - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) e do Hospital Albert Einstein, é diretor científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia

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