Que centenário!
Folha tomou antibolsonarismo como profissão de fé
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O ano de 2021 trouxe para o jornalismo brasileiro uma data alvissareira: 19 de fevereiro, dia do centenário da Folha. Completar 100 anos de vida não é só demonstração de sabedoria, mas também, em se tratando de um jornal, de manifesto apoio dos leitores, que só o leem diariamente porque de alguma forma cumpriram-se os preceitos do jornalismo profissional: informação precisa e correta; independência de colorações ideológicas e partidárias; veracidade dos fatos; responsabilidade social à liberdade de imprensa; e repúdio à censura. O jornalismo é inseparável do direito à informação, previsto na Constituição Federal.
Escrevo este artigo em um dia especial: o da Proclamação da República, nascida de um golpe contra o imperador Dom Pedro 2º, neto do rei Dom João 6º. O pai permitiu que se instalasse o primeiro órgão de imprensa no país. Já o filho era amante das liberdades e, em quase 50 anos de governo, jamais se teve notícia de qualquer ato de censura contra jornais.
Faço essas menções para lembrar que a Folha, em prestígio ao seu centenário, não fez direito o dever de casa. Tomada pelo antibolsonarismo como profissão de fé, na melhor hipótese, desde 2018 há a sensação de que suas múltiplas seções sofrem influência da mais acalentada delas, a "seção anti-Bolsonaro". De tão ubíqua, virou a alma do jornal.
Cito dois emblemas dessa constatação, mas poderiam ser uns dez. O primeiro nasceu da reportagem "Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp" (18/10/18), na qual se acusava apoiadores do então candidato Jair Bolsonaro de comprar "pacotes" de disseminação de mensagens para dissuasão de votos. O fato de ser "contra o PT" acabou sendo a cereja do bolo, pois uma CPI foi criada a partir disso, e ficou constatado exatamente o contrário: era o PT que se valia dessa malandragem.
Na linha acusatória do jornal entrou a rede de lojas Havan e seu proprietário, Luciano Hang, notório apoiador do presidente. Recentemente, entretanto, o TSE julgou improcedente representação do próprio PT, baseada na tal reportagem, negando os tais disparos. Hang obteve decisão reparatória de danos contra a Folha na Justiça de Santa Catarina. O fiasco foi amazônico.
Já em 6 de outubro deste ano, o jornal publicou a seguinte reportagem denunciativa: "Blogueiro bolsonarista investigado pelo STF usou estagiária de Lewandowski como informante, indicam mensagens". A intenção era atingir o jornalista Allan dos Santos, dono do site Terça Livre, que já era investigado pelo Supremo em dois inquéritos —um para apurar disseminação de fake news e outro para identificar quem financia atos antidemocráticos.
Incontáveis especialistas e até ministros da Suprema Corte consideram esses inquéritos inconstitucionais, verdadeiras aberrações jurídicas —aspecto não salientado pelo jornal, que nem sequer disfarça a tentação em querer fulminar o presidente da República e seus apoiadores mais expressivos, ainda que para isso se esmere em violar a mais sagrada das garantias: o sigilo da fonte.
Repudiar a prisão de Allan dos Santos decorrente de sua própria colaboração seria sugerir o impensável, embora eticamente impositivo. Só que, ao revelar a relação entre o jornalista e a sua fonte, a Folha maculou incorrigivelmente o seu centenário, transformando o jornalismo numa atividade marginal.
No dia do centenário, o publisher Luiz Frias disse ao Jornal Nacional: "As redes sociais e as fake news só reforçaram, nas pessoas, a necessidade de uma informação verdadeira, não engajada, que ouve os diferentes lados e que só o jornalismo profissional é capaz de oferecer".
Os episódios narrados o desmentem.
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Erramos: o texto foi alterado
Versão anterior deste texto diz que Dom Pedro 2º era filho de Dom João 6º. Ele era neto.
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