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Helio J. Rocha-Pinto

O telescópio Webb e o investimento em instrumentação científica

Economistas utilitaristas são incapazes de ver a obra além do custo total

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Helio J. Rocha-Pinto

Presidente da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e diretor do Observatório do Valongo (UFRJ)

É próprio do labor do cientista formular hipóteses e elaborar instrumentos que permitam testá-las. Alguns desses são relativamente simples e acabam incorporados pela indústria. Outros equipamentos são únicos, muitas vezes caros. Um leigo bem poderia tachá-los como caprichos voltados tão somente para a satisfação intelectual de um punhado de pesquisadores.

A economista e colunista da Folha Deirdre Nansen McCloskey parece ter essa visão sobre o telescópio espacial James Webb. Em seu recente artigo intitulado "Imagens deslumbrantes" (30/8), McCloskey avalia o telescópio meramente pelo seu custo total, um erro comum aos economistas que se atêm ao utilitarismo.

Ela esquece que planejamento, construção e lançamento do telescópio levaram ao desenvolvimento de soluções tecnológicas que doutra forma não seriam buscadas. Todas as etapas necessárias para produzir o telescópio espacial movimentaram braços diversos da indústria nos países envolvidos. Um equipamento desse porte fomenta avanços nas áreas de materiais, ótica, sensoreamento, robótica, combustíveis e processamento de dados, entre outros. O alcance econômico de um grande projeto científico é muitas vezes superior ao custo total de produção do equipamento que os cientistas demandam. Não é à toa que os governos de EUA, França e China se engajam em projetos dessa natureza: além do cartão de visitas que tais iniciativas agregam à autoimagem nacional, a introdução de novas técnicas e processos em suas cadeias produtivas corresponde à verdadeira joia da coroa. Algumas dessas inovações perduram por gerações.

O telescópio Webb custou US$ 10 bilhões, investidos ao longo de 24 anos. Apenas em 2019, as atividades da Nasa injetaram US$ 64 bilhões na economia americana, além de gerar mais de 300 mil empregos no país. Oxalá tivéssemos no Brasil uma agência que movimentasse a economia dessa forma!

McCloskey engana-se ao afirmar que seria mais barato aguardar um século para que os avanços tecnológicos respondessem às mesmas perguntas que se espera dos dados do telescópio Webb. Ora, grandes saltos tecnológicos não são gerados espontaneamente. É justamente a necessidade de realizar obras e feitos inéditos que instiga a busca por novas tecnologias.

O Brasil também tem a oportunidade de participar de um grande projeto científico, que pode trazer ganhos expressivos para a nossa indústria. Trata-se do ELT, o maior telescópio do mundo, em construção no Chile.

Fomos convidados a nos juntar ao consórcio que o constrói, o European Southern Observatory. Esse acordo foi aprovado pelo Congresso Nacional em 2015 e só aguarda a sanção presidencial. Infelizmente, o Executivo sofre do mesmo mal que aflige economistas utilitaristas: é incapaz de ver além do custo, perdendo assim a oportunidade de chamar a indústria brasileira a novos desafios e ganhos.

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