Tarcísio entre o bolsonarismo e o pragmatismo
Governador eleito em SP terá que se equilibrar diante de pressões antagônicas
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O estado de São Paulo, estado com eleitorado conservador e antipetista, sobretudo no interior, garantiu a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre Fernando Haddad (PT). Esta traz consigo mudanças relevantes na política paulista.
Além de significar uma vitória importante para o bolsonarismo, ela ratifica o fim de quase 30 anos de hegemonia tucana no estado, com impactos inegáveis para o futuro do PSDB. Além disso, demonstra a mudança da política e das políticas públicas paulistas para um lugar bem mais à direita do que já se encontrava antes, seguindo a tendência nacional —a centro-direita perdeu lugar para a extrema direita Brasil afora.
Surfando no ultraconservadorismo bolsonarista, a campanha de Tarcísio se ancorou em temas clássicos da direita: a questão da segurança pública, com a proposta polêmica de revisão do uso de câmeras acopladas aos uniformes da PM; a concessão e privatização de ativos como os portos de Santos e de São Sebastião, do aeroporto de Congonhas e da Sabesp; a reforma tributária, com redução do ICMS e do IPVA, dentre outras. Estes temas ganharão espaço na política e na condução das políticas públicas em São Paulo, como o próprio candidato fez questão de ressaltar ao longo da campanha.
Contudo, sabemos que campanha é uma coisa, governo é outra. Tarcísio é tido como um bolsonarista menos radical e se encontra diante de pressões antagônicas. Deve tentar se distanciar do radicalismo uma vez no governo, buscando agradar eleitores de centro. Essa estratégia, no entanto, dependerá do quanto o futuro governador conseguirá se livrar politicamente dos colegas bolsonaristas que serão desalojados do governo federal. Sendo muitos a serem encaixados em cargos no estado de São Paulo, mais difícil será para Tarcísio se afastar das pautas conservadoras do bolsonarismo raiz.
Além disso, o perfil mais ou menos bolsonarista dos políticos que assumirão cargos-chave no governo estadual vai definir o padrão de confronto entre este e o governo federal. Desalinhamentos político-partidários entre diferentes níveis de governo fazem parte da democracia, mas o cenário atual de enfrentamento político e social entre lulistas e bolsonaristas pode criar um desalinhamento conflituoso, acirrando os embates entre o governador e o presidente da República como forma de manter a tática que garantiu o sucesso do bolsonarismo no Senado, na Câmara dos Deputados e em vários governos estaduais.
Se por um lado esse desalinhamento conflituoso faz sentido como tática de sobrevivência do movimento bolsonarista, por outro ele pode ter custos elevados para um governo estadual que precisa estabelecer um relacionamento institucional pragmático com o federal, o que é central para o desenvolvimento das políticas públicas no estado. Ficará claro aí o quanto Tarcísio é de fato representante do bolsonarismo ou apenas se beneficiou circunstancialmente dele.
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