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João Camargo, Camila Funaro Camargo e Mariam Dayoub

O Brasil é campeão mundial de juros?

Faz-se necessária a utilização de métricas corretas para dimensionar taxa real

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João Camargo

Presidente do conselho da Esfera Brasil

Camila Funaro Camargo

CEO da Esfera Brasil

Mariam Dayoub

Economista-chefe da Grimper Capital

Uma pesquisa textual no Google para "juros reais mais altos do mundo" resulta em uma tabela com o Brasil em primeiro lugar, seguida por notícias que o colocam como o campeão mundial dos juros reais. O raciocínio é que, unicamente por essa razão, a economia padece e seu horizonte é nebuloso.

Quando nos deparamos com os resultados dessa pesquisa, os rankings que colocam o Brasil como campeão consideram a diferença entre a taxa de juros nominal corrente e a inflação acumulada em 12 meses, chamada de taxa de juros real "ex-post". Porém, é a taxa de juros real "ex-ante" que importa para as decisões de consumo e investimento dos agentes econômicos. Ela é medida como a diferença entre a taxa de juros de mercado para um ano e as expectativas de inflação 12 meses à frente.

Fachada do Banco Central do Brasil, em Brasília - Antonio Molina/Folhapress

No pós-pandemia, após injeções recordes de estímulos fiscais e monetários, desequilíbrios entre oferta e demanda nos mercados de bens e serviços e de trabalho levaram às pressões inflacionárias mais intensas entre duas e quatro décadas mundo afora. Assim, os bancos centrais passaram a apertar a política monetária de forma intensa para trazer a inflação para suas respectivas metas entre 2024 e 2025.

A título de comparação, vamos olhar os casos do Brasil e do México. O governo brasileiro, apenas em resposta à pandemia, injetou quase 10% do PIB em estímulos fiscais na economia, enquanto o Banco Central do Brasil (BCB) cortou a Selic para 2%, o menor patamar histórico. No México, o estímulo fiscal ficou próximo a 1% do PIB, enquanto o Banco Central do México (Banxico) cortou os juros a 4%, acima do mínimo de 3% atingido em junho de 2014.

Após a reabertura da economia, o governo brasileiro implementou estímulos fiscais adicionais, com destaque para os anteriores ao pleito eleitoral de 2022, como os cortes de tributos, principal causa da queda da inflação no segundo semestre de 2022, a ampliação dos benefícios sociais e os saques do FGTS. Ademais, tomou medidas que enfraqueceram a âncora fiscal, acentuando as incertezas dos agentes econômicos, com aumentos significativos dos prêmios de risco. Nada parecido ocorreu no México.

Na retirada de estímulos monetários, o BCB subiu a taxa Selic de 2% em janeiro de 2021 para 13,75% em agosto de 2022, o maior nível desde janeiro de 2017. No México, que ainda não encerrou o ciclo de aperto monetário, a taxa de juros subiu de 4% em maio de 2021 para 11% em fevereiro de 2023, o maior nível desde 2008, quando a política monetária passou a usar a taxa de juros interbancária.

Utilizando-nos do termômetro correto, em fevereiro de 2022, a taxa de juros real "ex-ante" para o Brasil, estava em 7,20%, 320 pontos-base acima da taxa de juros neutra estimada pelo BCB em dezembro de 2022. No México, ela estava em 7,21%, 460 pontos-base acima da taxa de juros neutra estimada pelo Banxico em junho de 2019. Ou seja, as taxas de juros reais "ex-ante" das duas economias eram iguais. Porém, desde janeiro de 2015, a média da diferença entre a do Brasil e do México ficou em 2,77 pontos percentuais.

Concluindo, faz-se necessária a utilização de métricas corretas para se auferir a taxa de juros real de uma economia. Comparada à do México, por exemplo, a taxa de juros real "ex-ante" do Brasil é praticamente a mesma, porém a taxa neutra mexicana é menor do que a brasileira. Assim, a política monetária no México está mais restritiva que a brasileira. Com um endividamento público e um risco fiscal mais elevados, as perspectivas para a economia doméstica estão mais incertas, demandando maior esforço da autoridade monetária para cumprir seu mandato. Um corte de juros forçado pelo BCB, entre outras medidas heterodoxas, teria consequências danosas para o controle da inflação e, portanto, para a volta de um ciclo de crescimento sustentável.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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