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O pouso do PIB

Lula, que fez pouco do resultado de 2022, deve encarar desaceleração sem mágica

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Adriano Machado/Reuters

Com queda de 0,2% no quarto trimestre, a economia brasileira encerrou 2022 com crescimento de 2,9%. O resultado final foi bem superior ao esperado de início, mas a perda de vigor aponta dificuldades no presente e no futuro próximo.

No primeiro semestre do ano passado houve dinamismo, resultado da abertura após o pior da pandemia, que impulsionou principalmente os serviços e teve forte impacto na geração de empregos. Naquele momento, o Produto Interno Bruto se expandiu em ritmo anualizado na casa dos 4%.

Já na segunda metade do ano, com aperto dos juros para conter a inflação e esgotamento do impulso de demanda, mesmo com as medidas eleitoreiras de Jair Bolsonaro (PL), ficou evidente o risco de desaceleração, que agora se confirma.

As perspectivas para 2023 são modestas, de alta entre 0,5% e 1% nas projeções mais comuns entre os analistas. Parte desse prognóstico se assenta na expansão da agropecuária, em razão das boas expectativas para a safra de grãos com preços ainda elevados. Assim, o PIB deve voltar a ter variação positiva neste primeiro trimestre.

Mais adiante, contudo, o quadro é de estagnação ou avanço fraco da indústria e dos serviços. As estimativas apontam para aceleração apenas dos gastos públicos

Em circunstâncias normais, já seria o momento de visualizar o início de cortes de juros —hoje a taxa básica está em 13,75% ao ano— por parte do Banco Central, mas tal providência é incerta diante da inflação elevada e dos ruídos em torno do rumo da política econômica, alimentados pelo próprio governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O embate do presidente com o BC, como já se tornou óbvio, é contraproducente. Os queixumes contra as metas para o IPCA não favorecerão a redução da Selic, dado que diversos indicadores de preços, como o do setor de serviços, ainda se encontram acima dos 6% em 12 meses, sem sinais claros de queda.

O perigo principal agora é que a impaciência do governo leve a medidas aventureiras, como nova rodada de aumento de gastos e intervenções setoriais que no passado só trouxeram instabilidade.

Para Lula, que fez pouco do resultado do PIB de 2022, o desafio será levar a economia a progredir de modo duradouro. Para tanto, a receita passa por sinalizações claras de que haverá controle da dívida pública, reformas consistentes na área tributária e preservação de um ambiente institucional que favoreça investimentos.

Na infraestrutura, em particular, deve-se buscar reforço das agências reguladoras, concessões e parcerias público-privadas.

Assim se derrubam juros. Progredir dá trabalho e demanda mais que discursos inflamados.

editoriais@grupofolha.com

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