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Descrição de chapéu Polícia Federal

Ramagem guardava arquivos pró-golpe e sobre procuradores críticos a Bolsonaro, aponta PF

Anotações de então diretor da Abin questionavam lisura das urnas; à PF ele disse que produzia textos de interesse do presidente, mas que não necessariamente lhe repassava

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Brasília

A Polícia Federal encontrou de posse de Alexandre Ramagem (PL-RJ) arquivos em que o ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) fazia pregações contra a lisura do processo eleitoral brasileiro e favoráveis a rupturas, além de um dossiê de procuradores da República que seriam contrários ao governo Jair Bolsonaro (PL) e familiares.

Na avaliação de investigadores, o material colhido nas buscas e apreensão realizadas reforça a suspeita de uso do órgão para a propagação de fake news e questionamento do resultado das eleições de 2022 por parte do ex-presidente.

O então presidente Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem, diretor da Abin, durante curso de Gestão Integrada em Inteligência no ano de 2020 - Marcos Corrêa -9.dez.2020/Presidência da República

A PF apura a existência de uma "Abin paralela" no governo Bolsonaro para espionar adversários, propagar notícias falsas e auxiliar na tentativa de golpe de Estado.

Os investigadores pediram neste mês o compartilhamento das provas da apuração sobre a "Abin paralela" com os inquéritos das fake news e da tentativa de golpe. A chamada Operação Última Milha teve mais uma fase deflagrada há três semanas.

A corporação achou emails produzidos por Ramagem que serviriam para subsidiar Bolsonaro de informações para contestar as urnas eletrônicas, como revelou o jornal O Globo. A informação foi confirmada pela Folha. Essas mensagens foram produzidas antes do período eleitoral.

Os ataques do ex-mandatário ao sistema eleitoral eram parte da estratégia central de campanha de Bolsonaro. A PF questionou Ramagem no depoimento prestado por ele no último dia 17, mas o ex-diretor-geral da Abin afirmou que não se recordava se os textos foram enviados ao ex-presidente.

Em resposta que repetiu várias vezes no depoimento, ele afirmou que escrevia textos de fontes abertas sobre temas de possível interesse do presidente, mas que isso não queria dizer, necessariamente, que eles tenham sido entregues.

Em um dos textos encontrados pela PF, há orientação para reforçar politicamente a "vulnerabilidade" das urnas eletrônicas pela certeza de Ramagem de que houve "fraude" nas eleições de 2018.

Ramagem, que atualmente é deputado federal pelo PL e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, também recomenda teses que costumavam ser reverberadas por Bolsonaro e que nunca foram comprovadas.

"Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018. Com vitória do sr. no primeiro turno", diz trecho do texto encontrado pela PF no arquivo de nome "Presidente TSE [Tribunal Superior Eleitoral] informa".

De acordo com a polícia, esse arquivo foi criado em 10 de julho de 2021.

Em outro documento, intitulado "Presidente", o texto encontrado com Ramagem diz que "o sr. mais do que ninguém conhece o sistema e sabe que não houve apenas quebra de paradigma no sua eleição, mas ruptura com esquema".

Segundo investigadores, Ramagem tinha o costume de produzir emails, mas também escrever comentários no seu bloco de notas eletrônico. A PF avalia existir mensagens em que ele insufla um golpe de Estado após o pleito.

Os policiais também encontraram com o hoje deputado arquivo com informações sobre procuradores da República que seriam supostamente contrários ao governo e a integrantes da família Bolsonaro, como o presidente, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e os filhos Flávio Bolsonaro (PL-RJ), senador, e Carlos.

Questionado no depoimento sobre as razões de a Abin coletar informações contra procuradores, Ramagem disse que não se recordava do documento, "nem como foi coletado ou produzido".

A Folha procurou Ramagem nesta sexta-feira (26), mas ele não quis se manifestar.

Em nota, a Associação Nacional dos Procuradores da República registrou não ser papel das instituições de Estado monitorar a correta atuação funcional de integrantes do Ministério Público.

"Não se trata de um caso corriqueiro, que possa ser naturalizado ou relativizado, mas, sim, da constatação do desvio de finalidade da Abin, que deve ser apurado e punido."

A PF já fez uma série de ações nesta investigação e suspeita do uso da Abin em ações clandestinas contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), parlamentares e jornalistas.

Do STF, segundo apontou a PF, foram alvos de ação ilegal os ministros Alexandre de Moraes, relator de apurações que miram bolsonaristas, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Dias Toffoli. A lista no Poder Legislativo inclui o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

No último dia 15, o ministro Alexandre de Moraes tornou público o áudio de uma reunião de Ramagem com Bolsonaro, o então chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, e duas advogadas sobre formas para anular as investigações contra Flávio.

Na gravação, de 2020, Bolsonaro se prontificou a conversar com os chefes da Receita Federal e do Serpro —a empresa estatal que detém os dados do Fisco— no contexto de discussão sobre maneiras de beneficiar o filho mais velho do ex-presidente.

Após a deflagração da mais recente fase sobre a investigação, no último dia 11, Ramagem se manifestou criticando o inquérito.

Disse que "fica claro" que a PF despreza os "fins de uma investigação" com o objetivo de "levar à imprensa ilações e rasas conjecturas".

Ele atrelou a apuração ao fato de ser pré-candidato a prefeito. "No Brasil, nunca será fácil uma pré-campanha da nossa oposição. Continuamos no objetivo de legitimamente mudar para melhor a cidade do Rio de Janeiro".

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