É entre um cafezinho e outro, uma reunião e outra, que deputados, senadores e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) tomam algumas das decisões mais importantes do país. Mas não é qualquer cafezinho.
Tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado e o STF compram apenas café de categoria superior. Ao todo, as três instituições somadas gastaram quase R$ 2 milhões de verba pública para comprar café para o período de um ano.
Apesar de o valor parecer alto, o preço unitário não foi caro. O STF pagou R$ 11,97 por cada pacote de 500 g. A Câmara, que pagou mais caro, desembolsou R$ 12,99 pela mesma quantidade. Já o Senado fez melhor negócio e empenhou R$ 10,97 por pacote.
O Café na Prensa também solicitou, via Lei de Acesso à Informação, os dados sobre as aquisições realizadas pela Presidência da República, mas ainda não obteve retorno.
O preço médio do quilo do café no Brasil era de aproximadamente R$ 35 no início deste ano. Ou seja, R$ 17,50 por cada pacote de 500 g. Este valor refere-se ao varejo, e não para compras no atacado. Por outro lado, diz respeito aos cafés de modo geral, e não aos de categoria superior.
Os cafés de categoria superior são menos amargos e costumam ser mais caros do que os tradicionais. Segundo a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), responsável pela padronização das categorias, os cafés superiores podem apresentar notas sensoriais amendoadas e de chocolate.
Trata-se, portanto, de uma categoria intermediária entre os tradicionais, mais amargos e baratos, e os de nível gourmet, que têm maior complexidade sensorial e preços mais elevados.
Veja na galeria abaixo a diferença entre cada uma das classes e como identificá-las.
Somadas, as três instituições adquiriram 80 mil quilos de pó de café, todos de categoria superior, como exigido nas licitações, de empresas pouco conhecidas, como Fino Sabor e Café Coliseu.
A Câmara fez licitação para adquirir 48.000 kg, com torra variando de "moderadamente clara a moderadamente escura", pelo período de 12 meses, entre agosto de 2022 e agosto deste ano.
Entre deputados, servidores, terceirizados, estagiários e outros funcionários, a Câmara conta com um quadro de 17.624 pessoas, o que resulta em um consumo per capita de 2,72 kg por ano. O consumo per capita de café torrado no Brasil foi de 4,77 kg em 2022.
No Senado, o consumo é bem maior, proporcionalmente. Também para um período de 12 meses, a Casa fez licitação para adquirir 25.000 kg de café superior, 100% arábica e com torra e moagem médias.
Entre senadores, servidores e demais funcionários, a Casa soma quase 6 mil pessoas, o que resulta em um consumo anual per capita de 4,24 kg –valor bem próximo da média nacional.
O STF, por sua vez, tem um consumo por pessoa de 3,44 kg, uma vez que, entre servidores, terceirizados e outros funcionários que atuam na Corte, há pouco mais de 2.000 pessoas.
Além da categoria (superior), a licitação do tribunal determina que os grãos sejam 100% arábica e apresentem acidez baixa a moderada, amargor moderado, sabor característico e equilibrado e baixa adstringência.
Além dos funcionários, Câmara, Senado e STF recebem com frequência visitantes, representantes de órgãos públicos e convidados para audiências, sessões e outras atividades.
Todos recepcionados com um cafezinho. Superior, claro.
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