Café na Prensa

Tudo sobre a bebida, do grão à xícara

Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu café

O café 'to go' americano não ameaça a 'merendinha conversada' brasileira

Microcafeterias se proliferam pelo país, mas hábito social centenário resiste

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Se você tem o hábito de caminhar por ruas movimentadas de São Paulo, é provável que já tenha passado por uma portinha de café. As cafeterias para "comprar e levar" se proliferam e trazem consigo um debate cultural: o café como bebida social –uma marca do consumo no Brasil desde o século 19– está dando lugar ao hábito de carregar um copo solitariamente pelas ruas?

A imagem mostra a fachada de um restaurante McDonald's com duas entradas em arco, iluminadas por luzes amarelas. A entrada à esquerda possui uma porta de vidro com a palavra 'PUXE'. À direita, há um balcão de atendimento com duas luminárias pendentes e um cartaz promocional. O cartaz diz: 'QUE TAL UM CAFÉ? R$ 2,00 McCafé SIMPLES ASSIM'. Há também um pequeno display no balcão com copos de café e outro cartaz que diz: 'VAMOS TOMAR UM CAFÉ?'.
Loja do McDonald's na avenida Paulista oferece café na janela - David Lucena/Folhapress

Desde que a bebida se difundiu no país, o espaço do café por excelência é o ambiente doméstico. A pausa para o café é um momento de conversa e convívio. "Pretexto para recebimento social", escreveu Câmara Cascudo em "História da Alimentação no Brasil". "‘Venha tomar café comigo’ traduz-se merendinha conversada", anotou o antropólogo.

Algumas décadas atrás, as cafeterias se popularizaram como lugar para o consumo da bebida. Inaugurava-se a era do café fora do lar.

Agora, a cidade começa a ficar permeada por portinhas que vendem café sem que o cliente sequer precise entrar na cafeteria. A pausa cede espaço para os passos, e o café ganha as ruas, o metrô, o carro. A companhia de amigos e familiares agora são os fones de ouvido, os podcasts, a música. É o café do não-lugar.

Por sorte, as cafeterias "to go" crescem não só em quantidade. Diante de um mercado disputado, há buscas por diferenciação e qualidade.

Mas, assim como beber vinho na taça apropriada, tomar café na xícara ou caneca permite uma melhor apreciação da bebida, tanto pelo sabor quanto pela experiência multissensorial –o que o objeto comunica, seu valor afetivo e simbólico. Até por isso, continua sendo um momento de convívio. Receber visitas e tomar um cafezinho nas louças da família é algo ainda muito presente. Mesmo nas grandes cidades, oferecer café a quem chega é quase uma obrigação, cuja recusa pode configurar desfeita. O café social sobrevive.

É claro que a fugacidade do cotidiano torna o café para levar uma realidade inescapável. E que bom que há hoje opções melhores para quem precisa recorrer a ele. Mas, havendo escolha, preservemos a pausa. Para prestar atenção aos sabores e ouvir familiares ou amigos –ou até a si próprio. O café apressado deve permanecer conosco por muito tempo. Mas a merendinha conversada, essa atravessa os séculos.

Acompanhe o Café na Prensa no Instagram @davidmclucena

Qual assunto você gostaria de ver no Café na Prensa? Envie sugestões para david.lucena@folhapress.com.br

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.