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Caio Guatelli

Atual revisão do Plano Diretor pode levar São Paulo ao caos

Especialista alerta para falta de estudos de impacto na infraestrutura urbana

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Nova York

A falta de estudos de impacto na infraestrutura da cidade, comum a qualquer grande projeto urbanístico, deveria invalidar a atual revisão do Plano Diretor Estratégico do município de São Paulo.

O alerta foi dado por Luis Fernando Di Pierro, mestre em engenharia de transportes pelo Imperial College de Londres e coordenador do Plano Regional de Mobilidade Sustentável da Baixada Santista. Ele chama a atenção para o risco de um "caos urbano" caso o projeto seja aprovado na Câmara Municipal sem a realização de um EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança) —mecanismo de análise multidisciplinar estabelecido pelo Estatuto da Cidade, uma lei federal.

Adensamento de prédios no entorno da linha 2 do Metrô, na região da avenida Paulista. Novo texto do Plano Diretor pode expandir esse cenário para outros bairros, onde a atual legislação limita a altura das construções - Caio Guatelli/Folhapress

A proposta de alteração da lei, apresentada pelo vereador Rodrigo Goulart (PSD), tem sido duramente criticada por urbanistas, movimentos sociais e pela bancada da oposição por prever a expansão dos limites de verticalização de 600 metros para 1 Km no entorno de estações de metrô, por flexibilizar as exigências por moradias populares e por aumentar o limite de vagas de garagem nas futuras construções.

Como mostrou o Painel, o teor da proposta sofreu interferência de incorporadoras imobiliárias e chegou a levantar suspeitas de improbidade do vereador Adilson Amadeu (União Brasil) por, no âmbito das negociações da revisão, pedir ajuda ao Secovi-SP (sindicato das construtoras em São Paulo) para o projeto de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Em seu alerta, Di Piero lembrou que as estações de metrô ficam distantes 2 Km umas das outras. "Se aumentarem o raio de verticalização para 1 Km, as áreas ficarão contíguas. Com a futura expansão da rede do metrô, a verticalização vai ocupar tudo. A cidade não comporta. Será que não pensaram nisso?".

O engenheiro observou ainda que o texto beneficia a construção de apartamentos caros para um público que dispensa o uso de transporte público. "Se a ideia é usufruir da estrutura do metrô, por que vão aumentar o número de garagens? Não faz sentido".

Com larga experiência em consultoria urbanística, o engenheiro indica que projetos dessa envergadura geralmente são precedidos de estudos que comprovem a capacidade de suporte da rede de água, de esgoto e do sistema viário. "Nada disso foi feito", disse.

Di Piero contou que enviou um ofício ao Ministério Público alertando sobre a ausência do EIV, e sugeriu ao órgão que tomasse providências para impedir o andamento do projeto sem os devidos estudos de impacto na infraestrutura.

"Se adensar mais, certamente teremos uma série de problemas. A disputa pelo espaço viário vai aumentar, vai faltar espaço principalmente para ciclovias, o trânsito vai piorar, vai haver aumento da emissão de gases do efeito estufa… É uma loucura o que querem fazer, a cidade já está no limite".

Nas contas do engenheiro, a expansão proposta pela Câmara Municipal vai aumentar em 178% (quase o triplo) a área permitida para construção de prédios altos na cidade de São Paulo.

A votação definitiva da lei urbanística mais importante da cidade está prevista para a próxima quarta-feira (21).

paredão de prédios da Rebouças visto a partir do paredão de prédios da 9 de Julho; no meio, os Jardins
Paredão de prédios da Rebouças visto a partir do paredão de prédios da 9 de Julho; no meio, os Jardins. Se aprovado o novo Plano Diretor, este tipo de cenário estará ameaçado - Sérgio Dávila/Folhapress

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