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Invasão golpista gera debate sobre punitivismo nas redes

Escala de Angela Davis a Kamala Harris revela desejo de justiça, segundo jurista

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São Paulo

No alinhamento moral punitivista você se encontra mais próximo a Angela Davis ou a Kamala Harris? Após o ataque coordenado de manifestantes golpistas contra os Três Poderes neste domingo (8), a postura de policiais foi questionada por muitos nas redes sociais.

Diante dos atos de vandalismo e depredação em Brasília, internautas questionaram por que não houve repressão policial ágil e se viram assumindo posicionamentos muito mais punitivistas do que imaginavam ter.

O advogado criminal e consultor do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), Hugo Leonardo, atribui esse desejo de justiça ao choque causado na sociedade após os atos de vandalismo realizados nacapital no último domingo. "O sentimento por trás deste pedido de ‘Anistia Não’ é de que as instituições precisam demonstrar solidez e devem funcionar com rigor", diz.

A professora, filósofa e ativista Angela Davis é um dos principais nomes levantados na discussão. Membro do partido Panteras Negras na década de 1960, foi procurada e presa política em 1970.

Em em seu livro "Estarão as Prisões Obsoletas?" (2003), Davis discute o encarceramento em massa de populações minoritárias (negros, latinos, asiáticos, imigrantes e membros da comunidade LGBTQIA+) nos Estados Unidos atrelado a práticas escravagistas, como o controle do tempo, trabalho braçal forçado e condições degradantes.

Do outro lado do espectro, estaria a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris —protagonista de memes nas redes pelo vídeo viral "We did it, Joe! You’re gonna be the next president".

Antes de ser vice na chapa democrata de Joe Biden, Harris atuou como procuradora-geral da Califórnia e teve sua atuação marcada por votos contrários a reformas no sistema prisional americano —como diminuição no tempo de pena mínima e legalização da cânabis para uso recreativo —e pela não intervenção em casos de brutalidade policial, como o notório caso George Floyd.

O desejo de punição aproxima, portanto, uma pessoa a Kamala Harris e a afasta de Angela Davis, nesta escala proposta por internautas em meio ao debate.

"O que nós assistimos foi algo sem precedentes na história do Brasil. É inédito termos ministros compactuando com atos criminosos contra o Estado Democrático de Direito e é inédito termos um presidente eleito por meio das urnas adotar uma postura totalitária, como Jair Bolsonaro o fez", explica Leonardo.

O advogado defende, entretanto, que os manifestantes golpistas tenham os direitos de defesa respeitados mesmo que preguem uma ideologia totalitária. "Todo cidadão brasileiro tem direito à defesa. Mas precisamos que sejam investigadas não apenas as pessoas que participaram desses atos, mas também os mandantes e financiadores".

Mais de mil bolsonaristas foram detidos por suspeita de crimes cometidos durante os atos extremistas. Uma parte deles foi alocada para triagem na Academia Nacional da Polícia Federal, em Brasília. Com acesso a celulares e a internet, golpistas continuavam a publicar vídeos na internet, reclamando das condições da detenção e pedindo por novos atos.

Na terça (10), porém, bolsonaristas passaram a comparar nas redes sociais a triagem no ginásio da PF a um "campo de concentração nazista", acusando novo governo Lula (PT) de promover um "Holocausto". Procurada pela Folha, a assessoria da PF afirmou que todos os detidos receberam alimentação, água e acesso a banheiros.

Membros da comunidade judaica também repudiaram pelo Twitter a associação entre a detenção da PF e os campos de concentração.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), discursou durante posse do novo diretor da Polícia Federal nesta terça (10) e declarou que as prisões demonstram a força das instituições.

"Não achem esses terroristas, que até domingo fizeram baderna e crimes e agora reclamam que estão presos querendo que a prisão seja uma colônia de férias, que as instituições irão fraquejar", disse Moraes.

Não há registros de violação de direitos humanos entre os militantes detidos.

Internautas ainda clamam pela prisão de organizadores e financiadores dos atos, bem como a responsabilização do ex-presidente Jair Bolsonaro, que usou da estrutura governamental para disseminar discursos que colocam em cheque as eleições e a relação entre os Poderes.

"Os agentes públicos envolvidos precisam ser responsabilizados. Não podemos deixar isso passar, pois o país precisa conhecer a história de sua democracia, suas fragilidades e, principalmente, sua força", completa Hugo Leonardo.

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