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Descrição de chapéu ataque à democracia

Nas redes, bolsonaristas associam detenção em ginásio da PF a 'campo de concentração nazista'

Distorção da memória do Holocausto é empreendimento do extremismo de direita, diz pesquisador

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São Paulo


Após os ataques que destruíram os prédios do Planalto, do Congresso e do STF no domingo (8), mais de mil bolsonaristas foram detidos por suspeita crimes cometidos durante os atos extremistas. Uma parte deles foi alocada para triagem na Academia Nacional da Polícia Federal, em Brasília. Com acesso a celulares e a internet, golpistas continuavam a publicar vídeos na internet, reclamando das condições da detenção e pedindo por novos atos.

Na terça (10), porém, bolsonaristas passaram a comparar nas redes sociais a triagem no ginásio da PF a um "campo de concentração nazista", acusando novo governo Lula (PT) de promover um "Holocausto".

Alguns chamavam as forças de segurança de "Gestapo" —a polícia política do regime nazista —outros alegavam que não havia acesso à água ou alimentação e que os direitos humanos dos detidos estavam sendo violados. Até a notícia falsa de que uma idosa havia morrido nas detenções circulou entre as postagens. No Twitter, as hashtags "Direitos Humanos", "Holocausto" e "LulaGenocida" estiveram entre as mais comentadas na plataforma.

"Em nome da democracia o Brasil acaba de ressuscitar os campos de concentração nazista. 1.200 pessoas que estavam no QG e não tem nenhuma ligação confirmada com o vandalismo de ontem estão detidas crianças, idosos e família", escreveu o deputado federal Gustavo Gayer (PL), eleito por Goiás.

Os posts bolsonaristas foram rebatidos por outros internautas, que apontavam marmitas de comida nas fotos tiradas no ginásio e criticavam a comparação dos ginásios com campos de concentração.

Procurada pela Folha, a assessoria da PF afirmou que todos os detidos receberam alimentação, água e acesso a banheiros.

Em nota divulgada pelo Twitter, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, afirmou que a pasta "mantém contato com o Ministério da Justiça a fim de monitorar a situação das pessoas detidas após as arruaças que se deram em Brasília no último domingo" e que "as pastas irão atuar conjuntamente para que a legalidade sempre seja observada".

Membros da comunidade judaica também repudiaram pelo Twitter a associação entre a detenção da PF e os campos de concentração. O Museu do Holocausto, localizado em Curitiba (PR), afirma que os manifestantes radicais alocados no ginásio têm direito à ampla defesa, à comunicação e à alimentação, bem diferente do que acontecia durante o regime nazista.

"Segundo Hannah Arendt, o que os nazistas impunham aos prisioneiros de campos de concentração era a perda do 'direito a ter direitos'. O oposto do campo não é, portanto, uma noção de liberdade irrestrita e irresponsável [...] O respeito às vítimas dos campos de concentração nazistas requer conhecimento básico do que é um sistema democrático, seus direitos e deveres, e as consequentes responsabilidades", diz a publicação.

A tentativa de vincular o nazismo à oposição política é frequente entre bolsonaristas. Ainda nesta terça, a atriz e ex-secretaria especial de cultura do governo Bolsonaro, Regina Duarte, compartilhou um vídeo enganoso que compara o Brasil atual ao Holocausto.

Daniel Douek, diretor-executivo do Instituo Brasil-Israel (IBI), diz que a memória sobre o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial têm sido seguidamente mobilizada por grupos políticos variados em defesa de suas pautas. No caso da detenção na PF, segundo Douek, ela é usada para criar exagero e desviar a atenção das pessoas.

"Você joga uma bomba e chama de campo de concentração. De repente, não está mais se falando de tudo o que foi quebrado, da depredação do patrimônio público, de tentativa de golpe", explica.

Essa distorção da memória do Holocausto é um empreendimento típico do extremismo de direita, segundo Odilon Caldeira Neto, professor de história contemporânea da Universidade Federal de Juiz de Fora e pesquisador do neofascismo e da extrema-direita brasileira.

"Em vários momentos os novos extremismos de direita fazem um uso de liberdade que associa qualquer questão que bata de frente com seus anseios ao nazismo. No contexto da pandemia, a vacinação e o lockdown também foram lidos assim", diz o pesquisador.

Segundo Caldeira Neto, essa estratégia se repete em grupos de extrema-direita de outros lugares do mundo, assim como as tentativas de negação do Holocausto e de atribuição do fascismo ao campo da esquerda.

"Há uma tentativa de desculpabilização, de afastamento do ponto de vista histórico, principalmente nessa extrema-direita que se aproxima do fascismo em muitos momentos do seu próprio passado".

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