Pretos Olhares

Fotografia e outras linguagens da arte feitas por pessoas pretas

Pretos Olhares - Catarina Ferreira
Catarina Ferreira

Ione Reis, artista afro-indígena, usa memórias da infância para colorir obras

Educadora social, ela também trabalha para falar de arte e representatividade com jovens do Espírito Santo

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São Paulo

O vermelho do urucum e os tons de marrom e amarelo da terra ganham diferentes formas no trabalho da artista afro-indígena Ione Reis, 25.

A jovem de Itabatã, sul da Bahia, retrata pessoas negras com cores vibrantes e olhares marcantes, pintando em telas ou paredes memórias da sua infância e histórias contadas por parentes mais velhos.

Artista afro-indígena Ione Reis, em seu ateliê
Ione Reis, em seu ateliê; artista busca incentivar a presença de jovens como consumidores e produtores de arte - Pilsen Ca'lía

Ela, que começou a se interessar por arte ainda na adolescência, hoje trabalha como educadora social com crianças e jovens de Vitória, capital capixaba, onde vive atualmente. Os encontros são feitos em parceria com escolas da região.

Seu objetivo, afirma, é mostrar aos estudantes que crianças e jovens negros podem produzir e consumir arte. Além disso, ela também quer incentivar o uso da pintura como uma forma de autoconhecimento e de expressão.

"Gosto de trabalhar o autorretrato com eles, é quando olhamos para as tonalidades da pele, para a textura do cabelo, conversamos sobre a noção de beleza também." As oficinas não são restritas a alunos negros, todos são bem-vindos.

Reis conta que o trabalho com os jovens é uma forma de retribuir o contato que ela mesma teve durante a adolescência, em um projeto de atividades extracurriculares que oferecia materiais e um espaço da escola para que os estudantes pudessem criar e exibir quadros.

"Foi a primeira vez que tive contato com um artista mesmo formado, tive a possibilidade de conversar com eles e isso me despertou para pensar que a arte podia ser uma carreira.

Reis diz ver a arte como uma forma de transformar os elementos que sempre estiveram ao seu redor em objetos de reflexão.

O amarelo e o dourado, por exemplo, ela relaciona à figura de Oxum, divindade de religiões de matriz africana, ligada à beleza, ao ouro e à força feminina. Ela é quem reina sobre as águas doces, como rios e cachoeiras, e em algumas representações carrega um espelho.

Tela 'Luzia'
Tela 'Luzia', de Ione Reis - Pilsen Ca'lía

Ela diz se inspirar nas cores e na simbologia da orixá para que suas obras funcionem como uma espécie de espelho. Segundo ela, o público pode ver ou não beleza naquele retrato, mas ao encarar as obras cada pessoa tem uma impressão diferente e "isso diz algo sobre quem ela é, sobre a bagagem emocional que traz". "Pode ser a lembrança de um momento ou de um familiar, por exemplo."

Sua intenção não é fazer retratos realistas, para ela é importante que o público veja pessoas negras retratadas em museus de forma diversa, "não só em retratos de dor".

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Escreva para catarina.ferreira@grupofolha.com.br

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