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Saúde Mental - Sílvia Haidar
Sílvia Haidar
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Congresso de psiquiatria propõe novo termo para depressão refratária

Eduardo Szaniecki aborda os desafios e os recentes estudos sobre o transtorno

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São Paulo

O Congresso Internacional de Psiquiatria, que ocorreu em julho, no Reino Unido, propôs um novo termo para a depressão resistente: "depressão difícil de ser tratada".

Esse seria uma primeiro passo para os especialistas começarem a abordar o transtorno de uma forma multifatorial, explica Eduardo Szaniecki, médico psiquiatra e psicoterapeuta especializado em crianças e adolescentes, que trabalha na Clinica Tavistock, em Londres.

"Semanticamente, a nova terminologia enfatiza um modelo histórico em que leva-se em conta não apenas fatores biomédicos, mas também emocionais e sociais, que muito provavelmente devem estar contribuindo para a predisposição, precipitação, e mesmo a perpetuação do transtorno", escreve Szaniecki em artigo exclusivo para o blog Saúde Mental.

Eduardo Szaniecki é médico psiquiatra e psicoterapeuta de crianças e adolescentes no departamento de crianças, jovens adultos e famílias da Fundação Tavistock - Arquivo Pessoal

Depressão resistente a tratamento ou difícil de tratar?

Por Eduardo Szaniecki*

Um termo comumente usado na prática clínica refere-se à depressão resistente a tratamento. Essa condição normalmente é definida como a perpetuação dos sintomas, apesar de tentativas adequadas de doses e duração de mais de um antidepressivo (usado sequencialmente ou em combinação). Mas essa abordagem não deixa muito claro quem ou o que exatamente está sendo resistido, e não leva em conta diversas questões subjetivas presentes na prática da prescrição de antidepressivos, como a relação do médico com o paciente.

No RCPsych International Congress 2023, que ocorreu de 10 a 13 de julho, em Liverpool, no Reino Unido, essa visão foi levemente ajustada e o termo "depressão difícil de ser tratada" foi proposto. Também foram apresentados caminhos de tratamento com alguns resultados emergentes interessantes.

Os principais tratamentos para a condição ainda incluem associar uma medicação a outra, como o uso de bupropiona com aripiprazole (estudo STAR*D). Outras investigações têm incluído o uso de Pramipexole (um dopaminérgico normalmente para doença de Parkinson), anti-inflamatorios (baseado em achados associando sintomas severos de depressão com elevados níveis no sangue de proteína C-reativa), probióticos isoladamente, mas especialmente quando associados a antidepressivo, cetamina ou escetamina, e também psilocibina. Várias dessas opções de tratamento ainda em fase de estudos e são de alto custo.

Semanticamente, a nova terminologia enfatiza um modelo histórico em que leva-se em conta não apenas fatores biomédicos, mas também emocionais e sociais, que muito provavelmente devem estar contribuindo para a predisposição, precipitação, e mesmo a perpetuação do transtorno. Isso é importante, pois aborda a situação de uma maneira mais holística e mais próxima da realidade clínica e pessoal do paciente, e ajuda a pensar nas possíveis razões e/ou obstáculos que estão fazendo com que o problema esteja sendo difícil de tratar naquele momento.

Essa abordagem também enfatiza o papel de possíveis comorbidades como hipotireoidismo, uso de drogas e traumas. Por último, ajuda também a pensar sobre essa situação de uma maneira mais crônica e nos ajustes a serem feitos, como acontece, por exemplo, com artrite reumatoide e diabetes.

Apesar do número de adolescentes com depressão estar aumentando, felizmente a depressão resistente ou difícil de tratar é ainda bem mais rara do que em adultos. As vezes em que tratei adolescentes nessa situação, dificuldades associadas são claramente prevalentes, como ansiedade e problemas familiares, enfatizando não só a importância de lidar com cada um deles, mas também de levar em consideração questões psicodinâmicas e/ou psicossociais ao prescrever, de prestar atenção no sentido dos sintomas, e tentar entender as possíveis razões emocionais por trás de um tratamento medicamentoso que não está dando certo.

*Eduardo Szaniecki é doutor, médico psiquiatra e psicoterapeuta de crianças e adolescentes no departamento de crianças, jovens adultos e famílias da Fundação Tavistock e Portman, no Reino Unido, clínica centenária que integra o sistema nacional de saúde britânico (NHS). Fez pós-gradução no hospital Maudsley Hospital e mestrado na Universidade de Londres, no qual estudou a saúde mental de bebês.

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