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Saúde Mental - Sílvia Haidar
Sílvia Haidar
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Teoria do elo: entenda ciclo de agressão que atinge animais, mulheres e crianças

No núcleo familiar em que vive um agressor, os alvos mais frágeis são vítimas em potencial

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São Paulo

Existe uma conexão entre maus-tratos contra animais e violência contra mulheres, crianças e idosos que é estudada desde a década de 1960 nos Estados Unidos.

O termo The Link, traduzido para o português como Teoria do Elo, foi conceituado nos anos 1980 pelo psicólogo Frank Ascione e pelo educador Phil Arkow. Os pesquisadores mostram que a violência doméstica, o abuso infantil e a crueldade animal estão intimamente conectados em um ciclo que é perpetuado até que algo o interrompa.

No núcleo familiar em que vive um agressor, os alvos mais frágeis e que têm mais dificuldade para se defender são vítimas em potencial.

Os animais, além de não serem capazes nem de denunciar quem os atacou, também se inserem nesse ciclo de violência por meio de um fenômeno chamado triangulação, que ocorre quando o agressor maltrata o bicho para atingir a mulher.

Fotografia mostra um homem branco de pé, vestindo calça jeans e blusa preta; ele segura na mão direita um taco de beisebol apontado para um cachorro de pelagem preta e marrom
Animais também são vítimas de agressão em lares violentos - Ermolaev Alexandr/Adobe Stock

"Em situações assim, muitas mulheres relatam que ver o animal ser agredido é algo tão impactante que prefeririam que a agressão tivesse sido contra elas, tamanho é o laço afetivo que elas têm com o pet", afirma Laiza Bonela, médica veterinária doutora em ciência animal e pesquisadora da relação entre violências.

A especialista explica que por trás de um agressor existe uma dessensibilização em relação à vida. "Essa dessensibilização não acontece de maneira específica contra uma espécie, mas de forma generalizada. Isso começa ainda durante a infância, na fase de socialização primária, quando a criança vê a violência acontecendo contra pessoas que ela ama ou quando ela mesma sofre algum tipo de violência física, sexual, moral ou psicológica."

Bonela é autora da tese de doutorado "A conexão entre as violências: um diagnóstico da relação entre os maus tratos aos animais e a violência interpessoal", defendida na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Para a pesquisa, ela trabalhou com informações de quatro fontes da região de Belo Horizonte: Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna; Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, ao Idoso e à Pessoa com Deficiência (Demid); Superintendência de Informações e Inteligência Policial (SIIP) e Juizado Especial Criminal.

Ao cruzar denúncias e boletins de ocorrência, o estudo confirmou a hipótese do desvio generalizado. "O desvio generalizado significa que o indivíduo que maltrata animal já cometeu algum outro tipo de crime antes, está cometendo concomitantemente ou irá cometer no futuro. E a maioria destes crimes é de natureza violenta, como lesão corporal, violência contra a mulher e tentativa de homicídio", revela.

A pesquisa também mostrou que o consumo de álcool na família coloca em risco crianças e animais e que a maior parte dos abusos é praticada por homens.

A conclusão da tese, ressalta Bonela, é que os maus-tratos contra animais devem ser tratados como marcador de violência familiar e indicador de outras formas de criminalidade. "Os maus-tratos contra animais não acontecem de maneira isolada. Eles estão conectados a outras violências. E quando nós nos preocupamos em identificar precocemente um animal que está sofrendo, nós também detectamos mais rapidamente outras vítimas, como crianças, mulheres e idosos, que podem também estar num contexto de violência", afirma.

Por isso, o médico veterinário é um importante ator no enfrentamento das violências, destaca a especialista. "Ao suspeitar de negligência ou violência, o profissional deve acionar órgãos como a vigilância de zoonoses, o conselho tutelar e a polícia vigilância de zoonoses para que haja uma investigação. Dessa forma, ela pode salvar a vida não só do animal, mas de outras pessoas na família."

A psicóloga Bianca Gresele diz que uma pessoa pode deixar de ser violenta quando passa por um tratamento adequado com um profissional de saúde mental, como psicólogo e psiquiatra.

"O tratamento deve ser personalizado para atender às necessidades individuais de cada agressor e, quando apropriado, ser combinado com outras medidas, como supervisão judicial ou restrições legais para evitar futuros comportamentos violentos", observa.

"É importante ressaltar que a terapia pode não ser eficaz para todos os agressores, especialmente aqueles que apresentam características psicopáticas ou que não estão dispostos a se responsabilizar por seus comportamentos. No entanto, para muitos agressores, o tratamento pode ser uma oportunidade de mudança e crescimento, ajudando-os a abandonar comportamentos violentos e a desenvolver relações mais saudáveis e respeitosas com os outros", diz a psicóloga.

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