Saúde Mental

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Saúde Mental - Sílvia Haidar
Sílvia Haidar
Descrição de chapéu Mente

Situação financeira é a questão que mais afeta saúde mental dos brasileiros, aponta pesquisa

Mulheres, pessoas trans e em busca de emprego têm mais sofrimento psíquico

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São Paulo

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Cactus, entidade filantrópica com foco em saúde mental, em parceria com a AtlasIntel, empresa de tecnologia especializada em inteligência de dados, mostra que a situação financeira representa a principal preocupação que afeta a saúde mental dos brasileiros.

O Panorama da Saúde Mental, relatório divulgado nesta sexta-feira (4), revela que 88% dos entrevistados declararam ter ficado preocupados com as finanças durante as últimas duas semanas.

A pesquisa foi realizada de 19 de janeiro a 20 de fevereiro deste ano, com 2.248 respondentes (51,1% mulheres, 48,3% homens e 0,6% não-binários), de todas as regiões do país, a partir dos 16 anos.

Mulheres, jovens, pessoas trans e em busca de emprego são as que têm a saúde mental mais afetada, aponta o levantamento.

A pesquisa mostrou que 88% dos entrevistados declararam ter ficado preocupados com as finanças - Shisu_ka/Stock Adobe

Para chegar aos resultados, os pesquisadores aplicaram um questionário usado internacionalmente em avaliações de saúde mental e criaram o Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), que analisa múltiplos aspectos, hábitos e situações que refletem positiva e negativamente a saúde mental dos brasileiros.

O iCASM é calculado em uma escala entre 0 e 1.000 pontos (de péssimo a excelente) e representa a média simples dos resultados. Ele se baseia em três dimensões: confiança, vitalidade e foco.

A confiança reflete a autoestima que o indivíduo tem sobre si mesmo e a autoconfiança sobre seu papel na sociedade. A vitalidade é sobre a disposição e a capacidade de ação dos indivíduos para superar os desafios e adversidades do cotidiano, assim como o sofrimento psíquico associado a eles e o seu sofrimento psíquico diante delas.

Já o foco mostra a habilidade do indivíduo se relacionar com seu entorno de forma produtiva, conseguindo se concentrar, tomar decisões e realizar suas atividades cotidianas.

Gênero, orientação sexual, renda, situação profissional, relações familiares e prática de esportes foram os fatores com maior associação com a saúde mental dos entrevistados.

O iCASM do 1º semestre de 2023 ficou em 635 pontos. Este resultado pretende estabelecer o início de uma série histórica que permitirá a observação do comportamento do índice ao longo do tempo.

De maneira global, os brasileiros apresentaram resultados mais positivos na dimensão confiança e mais negativos na dimensão foco.

Principais preocupações relacionados à saúde mental

De acordo com o Panorama da Saúde Mental do 1º semestre de 2023, a principal preocupação dos brasileiros é com sua situação financeira, com 88% dos respondentes declarando ter ficado preocupados com a situação financeira durante as últimas duas semanas. Além disso, quase 6 em cada 10 brasileiros relataram preocupação frequente com a situação financeira, o que está associado a resultados de saúde mental inferiores.

A população que está em busca de emprego também teve um resultado baixo: 494 no iCASM, 186 pontos
abaixo dos assalariados e 141 pontos abaixo da média populacional.

Para o Instituto Cactus, os resultados reforçam a importância de políticas públicas e ações que abordem questões de trabalho e renda intersetorialmente, como partes fundamentais e integrantes das políticas de saúde mental.

Identidade de gênero, sexualidade e idade

Em relação ao gênero e identidade de gênero, há uma discrepância nos resultados do iCASM, e
as populações com pontuações mais baixas são a mulheres, com iCASM de 600 pontos, 72 pontos abaixo do iCASM para homens e 35 pontos abaixo da média populacional e a população trans, cujo
iCASM foi de 445, 193 pontos abaixo dos cisgênero, e 190 pontos abaixo da média populacional.

Quanto à orientação sexual, os homossexuais apresentaram iCASM de 576 e bissexuais de 488, 59 pontos e 147 pontos, respectivamente, abaixo da média populacional, o que também sinaliza para uma necessidade de priorização e olhar atento para estes públicos na condução de debates e políticas de saúde mental.

Os resultados indicam que os mais jovens são aqueles com pontuações mais baixas de saúde mental, sendo que os jovens até 24 anos apresentaram um iCASM de 534 pontos, 105 pontos abaixo da média entre as faixas etárias, e 101 pontos abaixo da média populacional.

Hábitos, preocupações e relações pessoais

Pessoas com maiores redes de apoio e relações mais saudáveis com família e amigos apresentaram pontuações no iCASM mais elevadas que a média geral. Aqueles que não reportaram brigas com familiares nas últimas duas semanas obtiveram um iCASM de 715, em oposição a um iCASM de 370 entre aqueles que reportaram 3 vezes ou mais episódios de desentendimentos.

A autopercepção sobre beleza e inteligência também foram fatores relevantes na pesquisa. Aqueles que reportaram ter se sentido pouco atraentes 3 vezes ou mais nas últimas duas semanas apresentaram um iCASM de 384 (vs 776 com aqueles que não tiveram este sentimento, e 635 da média populacional).

Entre aqueles que se sentiram menos inteligentes 3 vezes ou mais nas últimas duas semanas, o iCASM foi de 326, vs 752 entre os que não tiveram essa preocupação.

O bullying também apareceu como importante fator, sendo que o índice chegou a 486 entre aqueles que reportaram bullying de 3 vezes ou mais nas últimas semanas, em comparação com um índice de 659 dos que não reportaram nenhum episódio.

Por fim, destaca-se também a dor crônica, já que o iCASM entre aqueles que reportaram 3 ou mais vezes dor crônica nas últimas 2 semanas foi de 515, em comparação com 692 daqueles sem dor crônica.

Serviços de saúde

O levantamento revela que 41% dos brasileiros afirmam estar insatisfeitos com os serviços de saúde em algum grau, enquanto 30% se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos.

Entre os entrevistados, 11,7% relataram ter utilizado serviços hospitalares em saúde mental nos últimos 12 meses, incluindo serviços de enfermaria em hospital geral, hospital psiquiátrico, hospital dia, pronto atendimento e urgência.

Dos respondentes, 7,1% afirmaram ter recebido algum diagnóstico de saúde mental no SUS (Sistema Único de Saúde), nos últimos 12 meses, durante uma consulta de rotina.

Gastos com saúde mental

A pesquisa mostra que 62,1% dos brasileiros reportaram não terem tido gastos com atendimento em saúde mental nos últimos 12 meses, enquanto 9,7% reportaram um gasto mensal de mais de R$ 500 com estes cuidados.

Sobre os serviços utilizados, 62,5% dizem que não utilizaram serviços de saúde mental, enquanto 20,9% reportaram utilizar serviços privados e 16,6% serviços públicos.

O estudo mostra que 19,1% dos brasileiros afirmam ter consultado psiquiatra ou psicólogo nos últimos 12 meses, tendo a maioria feito apenas uma ou duas consultas no período (64,4%).

Sobre fazer psicoterapia, 5% relataram estar fazendo tratamento, sendo que mais da metade (56,9%) disse fazer há mais de um ano.

Medicação de uso contínuo

Em relação a medicações de uso contínuo, como antidepressivos, 16,6% relataram tomar remédios para problemas emocionais, comportamentais ou relacionado ao uso de substâncias, sendo que a maioria (77,7%), utiliza esse produtos há mais de um ano.

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