Virada Psicodélica

Novidades da fronteira da pesquisa em saúde mental

Virada Psicodélica - Marcelo Leite
Marcelo Leite
Descrição de chapéu Mente saúde mental

Terapia psicodélica deve estrear em agosto nos EUA

Com aprovação de MDMA pela FDA, aguarda-se fim do inverno em investimentos

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Primeira receita de MDMA emitida na Austrália
Primeira receita de MDMA emitida na Austrália - Reprodução

Investidores em empresas que pesquisam substâncias psicodélicas têm um bom pretexto para retomar o fluxo de recursos ao setor: a agência de fármacos dos Estados Unidos, FDA, aceitou o pedido da Lykos Therapeutics para analisar seu protocolo de psicoterapia assistida por MDMA, ou ecstasy, para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

A FDA vai fazer uma revisão rápida dos dados submetidos e apresentará sua decisão sobre o tratamento inovador em agosto. Os testes clínicos foram conduzidos por duas décadas, com fundos filantrópicos, pela Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Maps, em inglês) sob a liderança do militante Rick Doblin.

A ONG deu origem à empresa de "benefício público" Maps PBC, que em janeiro se tornou a Lykos, após entrada de mais de US$ 100 milhões de investidores privados em 2023. A guinada empresarial não teve boa acolhida pelos companheiros de viagem de Doblin, mas a Maps não tinha os milhões de dólares para deslanchar a terapia em caso de aprovação.

"Estamos celebrando os terapeutas e participantes dos estudos de fase 2 e 3 e a equipe na Lykos Therapeutics pelo feito histórico que alcançaram. Esperamos que a potencial aprovação pela FDA da terapia assistida por MDMA para TEPT seja apenas a primeira de muitas terapias assistidas por psicodélicos que se tornem disponíveis sob prescrição", comemorou Doblin.

Na Austrália já é possível receitar MDMA. Os ensaios capitaneados pela Maps e herdados pela Lykos mostraram que cerca de 70% dos portadores de estresse pós-traumático estavam em remissão 18 semanas após o tratamento com MDMA. Condição típica de ex-combatentes e vítimas de abuso sexual e violência urbana, as terapias hoje disponíveis para TEPT dão pouco resultado.

Segundo o jornal Financial Times, o mês passado se tornou o segundo mais frutífero em investimentos no setor, com aporte de pelo menos US$ 163 milhões. Ficou atrás somente de março de 2021, no auge do boom psicodélico.

Além da provável licença para a Lykos, o mercado está na expectativa de boas notícias da empresa Compass Pathways. Aguarda-se para este semestre a publicação de seus testes com 800 voluntários para tratar depressão com versão sintética patenteada de psilocibina, psicoativo naturalmente presente nos cogumelos ditos "mágicos".

A depressão profunda afeta no mínimo 300 milhões de pessoas no mundo. Os antidepressivos em uso, entre os quais os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, demoram várias semanas para fazer efeito e não beneficiam pelo menos um terço dos portadores. A psilocibina traz alguma esperança para eles.

O inverno, portanto, parece em vias de terminar. Cumpre-se, ao que parece, a expectativa do investidor Christian Angermayer, da Atai Life Sciences, que em 10 de janeiro havia postado na rede social LinkedIn: "Acredito firmemente que o mercado de biotecnologia retornará com força e entusiasmo".

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AVISO AOS NAVEGANTES - Psicodélicos ainda são terapias experimentais e, certamente, não constituem panaceia para todos os transtornos psíquicos, nem devem ser objeto de automedicação. Fale com seu terapeuta ou médico antes de se aventurar na área.

Sobre a tendência de legalização do uso terapêutico e adulto de psicodélicos nos EUA, veja a reportagem "Cogumelos Livres" na edição de dezembro de 2022 na revista Piauí.

Para saber mais sobre a história e novos desenvolvimentos da ciência nessa área, inclusive no Brasil, procure meu livro "Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira".

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