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Morre, aos 95, Isaias Raw, notório pesquisador brasileiro e que dirigiu o Butantan por 6 anos

Médico morreu em casa na noite desta terça (13); nos últimos anos, atuava no desenvolvimento da vacina da dengue no Butantan

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São Paulo

O pesquisador e médico brasileiro Isaias Raw morreu na noite desta terça-feira (13) aos 95 anos em São Paulo.

A informação da morte foi confirmada pela assessoria do Instituto Butantan, ao qual o médico era associado. Segundo Sílvia Raw, filha do médico, ele morreu em casa. O enterro ocorre nesta quarta-feira (14), a partir das 12h, no Cemitério Israelita Butantã, na avenida Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia, na zona Oeste de São Paulo.

Conhecido por sua trajetória acadêmica, Raw formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) em 1950, com mestrado e doutorado em bioquímica na mesma universidade em 1954. Foi professor livre-docente em 1957 e, depois, professor titular no departamento de bioquímica da mesma faculdade.

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O professor, pesquisador e ex-diretor do Instituto Butantan Isaías Raw, no laboratório do Centro de Biotecnologia - Rodrigo Capote - 06.dez.17/Folhapress

Durante os anos da ditadura militar (1964-1985), foi cassado pelo AI-5 e teve de sair do Brasil, período no qual foi professor visitante da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, e das universidades MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Harvard e do Centro Biomédico de Educação da City College (Nova York).

De volta ao país, no final dos anos 1980, dedicou-se ao desenvolvimento científico e tecnológico de vacinas no Instituto Butantan, ajudando a construir a capacidade de produzir 200 milhões de doses entregues ao plano nacional de imunizações no instituto.

Foi diretor do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (Ibecc, 1952), que fazia parte da Unesco, e também do Instituto Butantan (1991-1997). Presidiu a Fundação Butantan, entidade privada que administra os recursos do instituto de mesmo nome, de 2005 a 2009.

Raw era membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 1987. Em seus mais de 70 anos de vida acadêmica, trabalhou em pesquisas científicas de extrema importância, como na descoberta de enzimas que atuavam no ciclo do tripanossomo, agente causador da doença de Chagas, e na presença de fragmentos de RNA mensageiro em organelas no núcleo celular.

Além disso, criou os kits "O Cientista", com tarefas para fazer em casa, fundou a Editora das Universidades de São Paulo e Brasília, foi diretor da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Fundeb) e unificou os vestibulares de medicina de São Paulo (com Walter Leser).

Para o avanço da ciência no estado de São Paulo, criou ainda, em 1964, a Fundação Carlos Chagas para incentivo na formação e seleção de profissionais das áreas de ciências biomédicas, e o Curso Experimental de Medicina da USP.

Helena Nader, atual presidente da Academia Brasileira de Ciências, lembra que Raw foi um "grande cientista, com publicações na fronteira do conhecimento". "Foi um grande amigo e homem a frente de todos os tempos. No plano da política, lutou pela democracia e foi cassado pela ditadura militar. Transformou o Butantan para além da ciência, na produção de insumos biológicos variados. Seu trabalho contribuiu para que o instituto se tornasse um órgão de política de estado, e não apenas de governo", disse.

"Era um indivíduo íntegro e ético, que estimulava o debate por suas posições provocadoras", completou Nader.

Por seu mérito científico notável e grande contribuição para o avanço do ensino em ciências, recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico em 1994, o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico em 1995 e foi considerado grão-cruz da mesma ordem em 2001, a mais alta condecoração científica no país.

Recebeu também os prêmios José Pelúcio Ferreira, em 2006, o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Ciência e Cultura, em 2004, e de Ciência Geral, em 2005, e o prêmio em Saúde Pública e Medicina Preventiva da Fundação Bunge, em 2010.

Nos últimos anos, como professor emérito de medicina da USP, estava afastado da docência, mas continuava atuando nas pesquisas de vacinas no Butantan, incluindo a da dengue.

Durante sua presidência na Fundação Butantan, denúncias de desvios exercidas por funcionários dentro da fundação no período de 2005 a 2008 que somaram R$ 35 milhões provocaram seu afastamento da diretoria, em 2009. Segundo o Ministério Público Estadual, que investigou as denúncias, porém, não havia indícios de que Raw teria se beneficiado dos desvios.

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