Voz feminina, em francês:
— Sim, sim, sim!
Voz masculina, também em francês:
— Vai…
Simultâneas: “Ai, ai… Vai… Sim, sim, sim!”.
E seguiu assim por minutos, na tarde de terça (3).
Parece soft porn, mas era França contra Polônia no vôlei masculino, no canal EuroSport.
O alvo do saque? A escolha do levantador? Formação de rede? Nem uma palavra sobre isso, mas apresentador e comentarista levam o prêmio de dupla mista, na categoria fantasia, por criar o clima para os poucos que restaram em Bruxelas à frente de um aparelho de TV.
Quando chega julho e agosto, moradores da capital belga vão à procura de um verão em que os termômetros superem mais vezes os 20º Celsius, e a cidade se esvazia.
Para desgosto da pessoa que fica e, ao voltar de seu 3.000-metros-com-barreiras matinal, descobre que a caldeira quebrou.
E o conserto vai demorar.
Duas semanas.
No mínimo.
Contratempo particular mínimo ante o verdadeiro anticlímax destas Olimpíadas: as ameaças da ditadura belarussa à atleta Kristsina Tsimanouskaia.
Fosse pelo episódio em si, já seria revoltante, mas há pelo menos outros 124 motivos —é esse o número estimado de atletas presos ou demitidos pelo regime na repressão que completa um ano nesta segunda-feira (9).
A velocista tinha motivos para temer o que poderia encontrar se tivesse embarcado para Minsk, como queriam seus técnicos.
Fugiu para a Polônia para evitar o destino de uma das mais populares atletas do país, a estrela do basquete Yelena Leuchanka: 15 dias numa cela sem banheiro e sem colchão.
Como ela, foram punidos a capitã da equipe nacional de rúgbi, o chefe da federação de atletismo do país, a técnica do handebol, estrelas do futebol e do hóquei no gelo, um lutador de MMA e dois gamers de uma das principais equipes belarussas.
A falta de todos eles: protestar contra a violência policial a manifestantes pacíficos.
Desde que as brasileiras do futebol abriram os Jogos de Tóquio com um 5 a 0 sobre as chinesas, escassos 18 dias se passaram, mas longe das quadras 13 novos presos políticos elevaram para 610 a lista de encarcerados por desagradar o regime na Belarus.
Ainda nesse período, a ditadura fechou 50 ONGs e começou a julgar os opositores Maria Kalesnikava e Maksim Znak, que podem pegar 12 anos de cadeia.
Tem mais: empurrou mais de 4.000 imigrantes pela fronteira com a Lituânia, em revide pelas sanções que recebeu da União Europeia. Na última terça, na Ucrânia, um exilado que ajudava dissidentes apareceu enforcado na árvore de um parque, incidente visto por opositores como um recado de que ninguém está a salvo.
Não que faltem concorrentes no mundo para o pódio do terror, mas, na temporada 2020-2021, ninguém chegou nem perto de Aleksandr Lukachenko.
Nesse campo nefasto, em vez de ouro, uma medalha de enxofre cairia bem.
Levanta-te e anda.
Não foi à toa que, no dia 4, quando o Brasil fechou sua virada contra a Rússia, a levantadora Macris correu para abraçar Fernando “Fernandinho” Fernandes.
Fisioterapeutas fazem milagres não só para garantir medalhas a atletas olímpicos. Devolvem qualidade de vida a milhões de anônimos. Profissão subvalorizada está aí.
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