Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Charles M. Blow
Descrição de chapéu The New York Times

Caos dos incendiários republicanos na Câmara dos EUA dá a eles o palco que desejam

Radicais aprenderam com Sarah Palin em 2008 que espetáculo produz fama, que produz poder, que produz influência e possivelmente controle

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The New York Times

Os republicanos continuam colhendo o que plantaram.

A incapacidade totalmente vergonhosa do partido de escolher um presidente da Câmara após várias tentativas é uma crise criada por ele mesmo. Pelo menos desde a época de Barack Obama, o Partido Republicano viu um fortalecimento de sua ala à direita, cuja missão não era produzir políticas, mas impedir o progresso, e cuja tática era a destruição em vez da diplomacia.

Pudemos ver o início da versão atual desse extremismo político quando John McCain escolheu a lamentavelmente desqualificada Sarah Palin como companheira de chapa em 2008. Ela não era uma intelectual, mas era decidida. A anti-Obama.

O líder republicano na Câmara, Kevin McCarthy, conversa com colegas no terceiro dia de votações para a presidência da Câmara dos EUA - Jonathan Ernst - 5.jan.23/Reuters

Durante seu discurso na Convenção Nacional Republicana em 2008, Palin disse que havia aprendido que, se "você não é um membro valorizado da elite de Washington, alguns na mídia o consideram um candidato desqualificado apenas por esse motivo". Mas ela continuou com uma "notícia rápida" para repórteres e comentaristas: "Não estou indo para Washington para buscar sua boa opinião; estou indo para servir ao povo desse país".

Palin expôs uma realidade perigosa sobre a base republicana: que ela estava faminta por disrupção e espetáculo, que aplaudiria qualquer um que irritasse os progressistas, que desempenho era muito mais importante que competência.

Como um vírus produzindo variantes, o fervor de Palin se canalizou para o movimento Tea Party, que evoluiu para o Freedom Caucus (bancada da liberdade) e se manifestou entre os eleitores como "trumpismo".

O establishment do partido preferiu ignorar aqueles que estavam à margem, imaginando que a energia que geravam poderia ser benéfica, e qualquer dano que causassem, ser mitigado. De qualquer forma, eles eram apenas uma fração dos membros e sempre poderiam ser derrotados na votação.

O problema era que sua influência e seus perfis continuavam a crescer. Eles aprenderam uma lição que veio dos anos Palin: o espetáculo produz fama, que produz poder, que produz influência e possivelmente controle.

Eles começaram a exercer esse poder. O Freedom Caucus essencialmente forçou o presidente republicano da Câmara John Boehner a renunciar em 2015 porque seus membros sentiram que ele não era firme o suficiente contra Obama. O deputado Peter King teria dito: "Para mim, essa é uma vitória dos malucos".

Mas esses "malucos" estavam longe de terminar. Eles se recusaram a apoiar Kevin McCarthy para a presidência da Câmara porque ele era o número 2 de Boehner e porque os republicanos estavam furiosos por ele ter escorregado e dito a verdade sobre a investigação de Benghazi: que era uma caça às bruxas política destinada a prejudicar as perspectivas presidenciais de Hillary Clinton.

Parte daquele antigo desdém por McCarthy sem dúvida persistiu e está sendo manifestado nas votações fracassadas desta semana para torná-lo presidente.

Donald Trump se tornou a prova principal da sinergia entre fama, poder e influência desejada pela base republicana quando quebrou o muro de proteção do establishment em 2016 e deu a seus apoiadores o que eles queriam: um anarquista político desenfreado, um nacionalista branco impenitente.

Durante a era Trump, as Marjorie Taylor Greenes do partido se tornaram astros do rock entre a base, mesmo que fossem piadas entre os colegas. Seu sucesso tornou o termo "margem" uma forma ruim de descrevê-los. De muitas maneiras, eles são o Partido Republicano.

O tempo todo, poucos republicanos da corrente dominante se opuseram a suas palhaçadas e ofensas. Paul Ryan, que se tornou presidente em 2015 quando o Freedom Caucus deixou claro que seus membros não apoiariam McCarthy, sabia que Trump era um problema, mas disse pouco contra ele —até que deixou o cargo.

Como Tim Alberta relatou ao Politico em 2019, Ryan, quando era presidente, tomou a decisão consciente de não "criticar" Trump, mas "ajudar as instituições a sobreviver", "construir os anticorpos do país" e colocar "grades de proteção". Ele queria, segundo disse, "dirigir o carro no meio da estrada", sem deixá-lo "cair na vala".

Ryan, como muitos outros republicanos tradicionais, achava que mordendo a língua, baixando a cabeça e fazendo o possível para trabalhar com Trump e fazer seu serviço estava protegendo o país. Mas esse silêncio foi visto como aceitação —não apenas de Trump, mas também dos republicanos incendiários no Congresso. Agora, esse grupo se tornou suficientemente forte para impedir que um presidente da Câmara fosse eleito em primeira votação, pela primeira vez em cem anos.

E estão conseguindo exatamente o que querem: mais manchetes, mais tempo no ar, mais espetáculo e, portanto, mais poder. Eles não estão interessados em governar, mas em instigar o desejo cada vez maior da base republicana de travar as engrenagens.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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