Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Charles M. Blow

Veteranos do Partido Democrata comentam chances de Biden em 2024

Sem oficializar campanha pela reeleição, presidente já gera dúvidas sobre possibilidade de permanecer na Casa Branca

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The New York Times

Na segunda-feira (10), quando Al Roker, do programa "Today", perguntou a Joe Biden sobre um segundo mandato, o presidente respondeu: "Planejo concorrer, mas ainda não estamos preparados para anunciar".

Essa resposta me parece parte de uma série de lançamentos suaves e quase-compromissos destinados a administrar as expectativas, mas o presidente e aqueles que o cercam têm sinalizado que ele pretende tentar a reeleição. Quando chegar a hora, uma declaração oficial será apenas uma formalidade, um mecanismo de campanha para concentrar atenção e cobertura.

Joe Biden discursa em evento na Casa Branca nesta segunda, em Washington - Nicholas Kamm - 11.jul.22/AFP

Biden está concorrendo agora. E, antecipando o inevitável, nas últimas semanas conversei com vários assessores políticos que fizeram campanhas para presidentes democratas, para obter suas avaliações das vantagens e dificuldades de Biden. A lista inclui Timothy Kraft, que comandou a campanha de reeleição de Jimmy Carter em 1980 até pouco antes da eleição, e Les Francis, que assumiu o comando das operações do dia a dia na esteira de Kraft. Também inclui James Carville, que dirigiu a campanha de Bill Clinton em 1992, e David Plouffe, que conduziu a de Barack Obama em 2008.

Eu não estava interessado em previsões, que são quase inúteis tão longe do dia da eleição. Eu não perguntei como seria a corrida no final, mas como seria no início.

Para começar, havia um consenso de que o histórico político de Biden é forte. A economia, uma mistura de baixo desemprego com alta inflação, pode ser positiva para o presidente no momento, mas alguns disseram que a percepção dos eleitores sobre ela perto da eleição será o mais importante. Como disse Plouffe: "As pessoas têm uma vida e a estão vivendo agora". Trata-se do que as pessoas acham dessa vida no momento em que votam, independentemente do que os dados digam ou do que o futuro reserve.

A maioria desses profissionais da política concordou que a idade de Biden será um problema significativo a ser superado –uma das razões pelas quais eles preferem uma revanche com Donald Trump em vez de uma disputa contra um candidato presidencial republicano mais jovem e estreante, que poderia traçar um contraste de gerações mais forte. Não está claro como a questão da idade vai influenciar, mas, como disse Kraft, os republicanos vão usar esse artifício contra Biden.

Outra razão pela qual Trump é o oponente preferido é que, como observou Francis, "ele é uma mercadoria danificada e estará mais danificado". O consenso foi de que os problemas legais de Trump o ajudarão nas primárias, mas o enfraquecerão nas eleições gerais. O raciocínio é simples: entre os que votaram contra o caos criado por Trump em 2020, quem votaria nele em 2024 depois que ele semeou ainda mais caos?

Vários consultores estavam conscientes e preocupados com a crescente divisão partidária do país e com o número cada vez menor de eleitores e distritos indecisos –o número cada vez menor de mentes a mudar e corações a conquistar. Um número incontável de pessoas nos Estados Unidos "provavelmente nunca conheceu ninguém do outro partido", disse Carville.

Ele levantou talvez a preocupação mais interessante e que eu não esperava: "A maior história em minha mente sobre 2022 é o comparecimento abissalmente baixo de negros". É especificamente, disse ele, "um problema com os eleitores negros mais jovens". Nas últimas eleições de meio de mandato, mesmo em lugares onde democratas apresentaram fortes candidatos negros contra adversários republicanos problemáticos, Carville considerou o comparecimento dos eleitores negros menor que o esperado. Mas ele não tem certeza do que está causando esse problema ou de como corrigi-lo.

Conversei com Terrance Woodbury, sócio fundador da consultoria HIT Strategies, que pesquisa o sentimento do eleitor negro. Uma pesquisa feita em janeiro descobriu que três quartos dos eleitores negros não acreditam que suas vidas tenham melhorado desde que Biden se tornou presidente, apesar de seu governo "iniciar ou concluir" a maior parte de sua agenda racial, disse Woodbury.

Ele destacou ainda o que só pode ser descrito como uma evidente falha de comunicação, principalmente quando se trata de jovens. Como ele disse: "Não é que não tenhamos feito progresso", é que os eleitores negros mais jovens "não sabem sobre o progresso". Agora, as pessoas podem se irritar com a caracterização de Woodbury e criticar os eleitores por não estarem a par das notícias políticas, mas não é uma estratégia vencedora colocar a culpa nos eleitores que você está tentando atrair.

Kraft ecoou a preocupação e disse que ia além do alcance dos eleitores negros: "O presidente do Comitê Nacional Democrata deveria ir aos programas de entrevista de domingo ou deveria ter mais colunas de convidados, artigos de opinião, qualquer coisa".

Carville também está preocupado com o uso pelos republicanos da palavra e da ideia de "wokeness" como arma. Se ser "woke", disse ele, "significa que as pessoas, principalmente os negros, devem estar cientes das interações que eles têm com o poder branco, é uma palavra totalmente legítima". "Mas se significar o triunfo da identidade sobre a ideologia, você me perde e acho que perde muita gente."

Ele foi mais longe na tentativa de isolar Biden do conceito, dizendo: "A pessoa mais 'não woke' é Joe Biden", mesmo quando ele "se tornou o maior presidente para a América negra que já tivemos, talvez".

Acho isso um exagero, e a colocação pode fazer mais mal do que bem na tentativa de atrair jovens eleitores negros, mas pode funcionar para atrair outro grupo demográfico que preocupa os democratas: os que não fizeram curso superior. Na verdade, uma das queixas centrais de Carville sobre "wokeness" é sua crença de que ela foi apropriada por intelectuais brancos.

Tudo isso leva a uma questão que Plouffe chama de "a maior pergunta na política americana hoje": se os republicanos continuarão a obter ganhos com eleitores negros sem formação universitária numa época em que "as falhas na educação são muito mais graves do que em 2008 ou 2012", com os democratas atraindo mais graduados, e os republicanos fortalecendo sua posição entre os que não se formaram.

Minha conclusão dessas conversas foi que, ao menos no início de sua campanha, Biden tem vantagens óbvias, mas enfrenta obstáculos significativos. Frequentemente, no final das campanhas, democratas tentam usar o medo do oponente como motivação do eleitor. Mas isso pode ter efeito imprevisto.

Como me disse Woodbury, sua empresa viu uma erosão significativa na participação e no apoio aos democratas em 2022 entre homens negros porque eles "não respondem a mensagens de medo e derrota". Em vez disso, explicou, "eles precisam de uma mensagem do que ganharam, não do que vão ganhar".

Eles respondem a uma mensagem de que estão fortalecidos, em vez de estarem em perigo. Essa mensagem, que já deveria ter sido uma parte mais central do discurso geral dos democratas, precisa começar agora.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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