Gelo e gim

Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

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Gelo e gim

O Frank Bar fez renascer o gosto pela coquetelaria clássica

Famoso bar que fechou as portas junto com o Maksoud Plaza foi eleito um dos melhores do mundo

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O caminho até o Frank Bar podia ser intimidante. O gigantesco pé direito do Maksoud Plaza parecia nos lembrar, por um segundo, de nossa insignificância na Terra. Nos 20 metros entre a entrada do hotel e o primeiro gole, elevadores panorâmicos subiam e desciam como num cenário de "Blade Runner".

Quem ficasse boquiaberto olhando para os jardins suspensos, que brotavam numa sucessão vertiginosa, poderia esbarrar na cauda do piano que pousava no lobby, a serviço de bons grupos de jazz e bossa nova. Ou tropeçar nos três degraus que levavam ao balcão. Lá, Spencer Amereno Jr. e seu excelente time preparavam a alquimia.

O bar do hotel Maksoud Plaza, Frank; ambos fecharam as portas nesta semana
O bar do hotel Maksoud Plaza, Frank; ambos fecharam as portas nesta semana - Bruno Santos/ Folhapress

A transição de ambientes, do babilônico ao intimista, do monumental ao aconchegante, se dava assim, de repente. A luz que recebia hóspedes como Catherine Deneuve e Rolling Stones baixava de tom e o universo se invertia —passava a caber em algumas poltronas e mesas, um aleph etílico.

Tido como um dos melhores bares do mundo pela The World's 50 Best Bars, o Frank tinha classe. Imitava, é certo, a mise-en-scène de seus correlatos novaiorquinos. Mas fazia sentido, já que parte considerável dos clássicos em taças vinha de lá.

O conforto era um capítulo à parte. Junto ao balcão, as poltronas de couro vermelho pareciam propor um pacto: era sentar numa delas e sentir que a vida podia ser boa, afinal. Nem que fosse no tempo de dois ou três coquetéis.

Para mim, era a primeira fila para o espetáculo. Dali eu podia ver o coriscante desfile de garrafas, com suas mil cores, formas e proveniências. Podia ouvir a música das taças, bailarinas e coqueteleiras. Mas principalmente eu podia, dali, ver o trabalho dos mestres do mixing glass e, quem sabe, aprender um pouco com eles: os diversos tipos de bitter, as infusões e tinturas, a preparação do gelo, o equilíbrio das medidas, o controle da temperatura etc.

Uma das maneiras de saber a qualidade de um bar é pedir um coquetel clássico, dos mais simples. Um clássico, por ser conhecido e muitas vezes testado na casa do próprio cliente, exige não menos que perfeição. Em seus seis anos, o Frank Bar passava com louvor nesse teste. Seus negronis envelhecidos e martinis (com receita de 1911) tinham um toque especial. E ainda havia as criações próprias, pequenas joias como o Champagne Julep, o El Grito de Dolores e o Souless Gentleman.

O nome vem de um grande bebedor, que passou pela casa em 1981, onde fez quatro shows. Sinatra gostava de coquetéis, e gostava de prepará-los aos amigos sem jamais esquecer o que cada um costumava tomar. Era exigente com os detalhes. Mas preferia um espartano Jack Daniel's, sem outras roupagens que não quatro pedras de gelo e duas partes de água. Foi enterrado com uma garrafa da marca.

Sua turma de cantores/atores —os Rat Pack— vivia em Las Vegas, apresentando-se em hotéis mais espalhafatosos que o Maksoud. O que acontecia lá nem sempre ficava lá. Muitos porres vazaram. Eram parte do show.

Entre um palco e outro, Frank, Dean Martin, Sammy Davis Jr. e Shirley MacLaine bebiam manhattans e rusty nails, ambos com uísque de base. Quando se hospedava no Savoy londrino, no entanto, Sinatra mudava o dial alcoólico e pedia um martini on the rocks. O que pediria no Frank Bar? Talvez o mesmo. E certamente voltaria.

MARTINI ON THE ROCKS

Ingredientes

  • 90 ml de gim
  • 7 ml de vermute seco

Passo a passo
Mexa os ingredientes em um mixing glass com gelo. Em seguida, coe para um copo old-fashioned com gelo e enfeite com uma casca de limão siciliano

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