Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Elio Gaspari

A rejeição de Bolsonaro

O que sobra se ele mudar?

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Bolsonaro precisa mudar para reduzir a sua elevada taxa de rejeição. Vá lá. Como? Para quê?

Em 2018 o capitão foi eleito numa onda antipetista propondo um governo conservador nos costumes, liberal na economia e independente na política.

Para explicar como armaria sua independência política, prometia basear-se no que chamava de "bancadas temáticas". Eleito, ele ainda não tinha tomado posse e o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) ensinava:
"Quem disser que sabe qual é o resultado que esse novo modelo produzirá, de duas uma: ou é adivinho ou está mentindo".

Bolsonaro durante celebração do aniversário de Silas Malafaia, no Rio
Bolsonaro durante celebração do aniversário de Silas Malafaia, no Rio - Mauro Pimentel/AFP

Não havia adivinhos no pedaço e o modelo foi o de sempre: o governo aninhou-se no colo do centrão.

O governo liberal na economia fechou o Posto Ipiranga e passou a vender picolés de carestia. Restavam dois temas: o conservadorismo nos costumes e o antipetismo. Conservador não é miliciano, não ofende mulheres e repele atitudes vulgares. Sobrava o antipetismo.

Ele existe, mas foi abalado por dois fatos. Uma foi a transformação da Lava Jato em poeira pela desmistificação de seus cavaleiros. O juiz Sergio Moro começou prometendo liquidar o arranjo corrupto dos partidos políticos, tornou-se todo-poderoso ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro e acabou comprando bermudas com dinheiro do Podemos.

A segunda circunstância foi produzida por Bolsonaro. Se ele é a alternativa ao PT, o resultado está no Datafolha: 45% para Lula e 33% para ele.

Bolsonaro sabe que precisa mudar. Seu último Sete de Setembro não teve a essência golpista do anterior.

Dias depois, reconheceu que aloprou ao dizer tolices durante a pandemia. Insistiu na defesa da cloroquina e aí mostrou um aspecto da sua essência política. Quando ele começou a defender o fármaco muita gente boa estava receitando-o e tomando-o. Sua excepcionalidade está no fato de que acredita em fórmulas mágicas, como o nióbio, o grafeno e a transmissão de energia elétrica sem fios. Muita gente que tomou cloroquina entendeu que a droga não funcionava. Bolsonaro continua acreditando na mágica.

Pode vir a existir um Bolsonaro calado, até mesmo um Bolsonaro eventualmente gentil, mas um Bolsonaro mudado não existe. Assim como nunca existiram as bancadas temáticas, o Posto Ipiranga e os efeitos da cloroquina. Continua existindo o antipetismo, mas o eleitor se vê sem alternativa.

Assim como a soberba petista diante das malfeitorias de suas administrações ajudou a produzir a maré de 2018 e Jair Bolsonaro, passados quatro anos o capitão poderá produzir Lula.

O fator Vera

Se Bolsonaro pudesse mudar, ele não se meteria numa pergunta da repórter Vera Magalhães a Ciro Gomes para insultá-la.

Conservador com boas maneiras, Ronald Reagan foi a uma entrevista na Casa Branca, e a veterana Helen Thomas fez-lhe uma pergunta diabólica.

Reagan, um mestre, respondeu:
"Helen, eu sou um bom sujeito, por que você me faz uma pergunta dessas?".

Debate da Globo

Pelo andar da carruagem, o resultado do primeiro turno da eleição presidencial será decidido no debate da TV Globo, marcado para o dia 29.

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