Encaminhado com Frequência

Editada por Felipe Bailez e Luis Fakhouri, fundadores da Palver, coluna traz perspectivas sobre os dados extraídos de redes sociais fechadas

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Descrição de chapéu Páscoa

Fé e religião são usadas como instrumento retórico nas redes sociais

Na semana da Paixão de Cristo e Páscoa, aumentam as menções a Judas, Jesus e Barrabás nos debates políticos nas redes sociais analisadas pela Palver

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O uso de símbolos religiosos na esfera política se disseminou nas redes sociais na semana da Páscoa. Aproveitando-se de que as histórias como a do caminho do calvário de Jesus e da traição de Judas são amplamente divulgadas nas missas, cultos ou em filmes na televisão, os políticos aproveitam para se elevar ou atacar seus adversários através de analogias.

É uma estratégia comum das equipes de comunicação de fazer associações com imagens e eventos que sejam consolidados no imaginário popular. Dessa forma, utilizar trechos da Bíblia para reforçar uma ideia ou fazer comparações facilita a compreensão da mensagem transmitida.

O uso de parábolas, metáforas e analogias não fica restrito aos profissionais de comunicação. Grande parte dos bons contadores de histórias faz uso desses recursos para ampliar a ressonância com seus interlocutores. Por essa razão, as histórias bíblicas ganham relevância por serem amplamente conhecidas e lembradas.

Na semana passada, por exemplo, Davi, um dos participantes do Big Brother Brasil, contou ao vivo a história de Davi e Golias para reforçar sua fé e um dia após briga com outro participante do reality. A história é muito utilizada para transmitir esperança de que alguém com menos força ou expressão é capaz de vencer o "gigante".

No monitoramento de redes sociais realizado pela Palver, tanto Lula (PT) quanto Jair Bolsonaro (PL) foram os maiores alvos de vídeos, imagens e áudios relacionados ao uso de simbologias religiosas. As duas cenas mais utilizadas foram a traição de Judas e o sofrimento de Jesus infligido por soldados do Império Romano.

Presidente veste terno e gravata, está ao lado e olha para imagem de Jesus Cristo crucificado, estendendo a mão a ela
O presidente Lula (PT) com imagem de Jesus Cristo, em Brasília - Ricardo Stuckert - 29.mar.24/Presidência da República

Nos mais de 60 mil grupos de WhatsApp e Telegram analisados pela empresa, os termos associados a Judas tiveram um crescimento de mais de 500%, carregados principalmente pelos grupos de direita, que fizeram montagens com a foto de Lula para convocar a "malhação do Judas". Nas imagens, Lula aparece amarrado a um poste cercado de pessoas ao redor com pedaços de pau.

Em uma das postagens marcadas como "encaminhada com frequência" pelo WhatsApp, o texto dizia que é dia de malhar "o maior Judas do Brasil", junto com a imagem em que Lula aparece com os números 666 em sua testa. Outra mensagem com algumas ocorrências diz que "esse é pior que Judas pois enganou até o povo dele, petessada trouxa".

Também se popularizou no WhatsApp e TikTok um vídeo em que um pastor, ao celebrar o culto, compara Lula e petistas ao "Satanás" e diz que Jesus é da direita, pois "é pela família". O pastor finaliza o vídeo dizendo que "não tem PT, não tem esquerda, não tem Lula que vai desconstituir aquilo que Deus constituiu, a família".

Outro personagem bíblico bastante utilizado nos grupos de direita foi Barrabás. Uma charge com alta disseminação nos grupos tanto de WhatsApp como de Telegram trazia um desenho de Jesus crucificado e duas cruzes vazias ao lado com o informe de que "esse ano não teremos o papel de ladrão" e que "todos os figurantes foram nomeados ministros junto com o ator principal, o Barrabás".

Já nos grupos de esquerda, usuários compartilharam montagens em que Bolsonaro aparece no lugar dos soldados romanos que bateram em Jesus. Em todas as montagens, a frase, outrora usada por Bolsonaro, "Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso" era acompanhada de imagens em que Jesus era flagelado por Bolsonaro a caminho do calvário.

Na sexta-feira (29), o MTST postou em suas redes sociais uma foto em que dois soldados aparecem ao lado de Jesus na cruz com o comentário de que "bandido bom é bandido morto". Essa publicação foi intensamente explorada por políticos de direita para criticar tanto o movimento como Guilherme Boulos (PSOL), apontando que se trata de um ataque à fé e aos cristãos.

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