Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.

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Fernando Canzian
Descrição de chapéu Eleições 2018 pt

Ciro e Haddad acordam para 2018, mas pesadelo continua

O duro no Brasil é que poucos dizem que o tal mercado somos todos nós

Ciro Gomes e Haddad em convenção do PT em São Paulo, em 2016
Ciro Gomes e Haddad em convenção do PT em São Paulo, em 2016 - Lalo de Almeida-24.jul.16/Folhapress

A esquerda acordou para 2018. 

Com Lula fora do páreo, Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) conversam para aproveitar o congestionamento no centro (Temer, Meirelles, Maia) e enfrentar Jair Bolsonaro à direita. 

A conversa ganhou peso com o indiciamento do ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) pela PF. Acusado de receber propinas de R$ 82 milhões, essa alternativa a Lula já era.

Haddad e Ciro encaram duas verdades: o PT segue de longe o partido preferido dos brasileiros (19%) e Lula deve transferir milhões votos; mas é Ciro quem aparece embolado em segundo com Marina Silva (Rede) ou Geraldo Alckmin (PSDB) em cenários alternativos sem Lula.

Muita água vai correr, mas o lógico seria PT e PDT se unirem com Ciro à frente, hoje algo impensável entre cartolas petistas. Vamos ver se isso muda com a perspectiva de ficarem sem cargos por muitos anos.

O que já se sabe, infelizmente, é que esse despertar não nos livra de futuros pesadelos. 

Em documentos cheio de dogmas como o Unidade para Reconstruir o Brasil, assinado por PT, PDT, PC do B, PSB e Psol, ou em manifestações pessoais, Ciro, Haddad e Lula seguem inclinados a propostas intervencionistas parecidas com as que levaram o país à ruína com Dilma Rousseff. 

Muitas são populistas e ignoram o básico: examinar o passado para planejar o futuro. 

A verdade pode ser dura, mas os melhores anos sob Lula em crescimento e distribuição de renda saíram da cartilha mais liberal imposta pelo FMI ao Brasil a partir de 2003, quando o país era devedor do Fundo. 

Quando essa ortodoxia gerou resultados, milhões de famílias subiram da classe D/E para a C. Com as “novidades” de Dilma, 4,6 milhões delas voltaram para trás entre 2015 e 2017.

 

Experiência ainda mais fresca mostra que Temer, reprovado por 70% e considerado corrupto, tirou o país da recessão (derrubando inflação e juros a níveis impensáveis) com a mesma cartilha liberal pró-mercado. 

Com esse breve histórico de ascensão, queda e nova recuperação ainda fresco, agora vem de Fernando Henrique Cardoso o vaticínio sobre um novo e desesperador paradoxo brasileiro. 

Para o ex-presidente, o candidato que vier associado ao mercado será derrotado nesta eleição. Mas o melhor candidato será o que fizer as pessoas pensarem que a vida pode melhorar.

O duro no Brasil é que poucos dizem que o tal mercado somos todos nós.

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