Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Descrição de chapéu Argentina América Latina

O anarcocapitalista

Triunfo de Milei nas prévias argentinas preocupa, mas corrida ainda está aberta

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São Paulo

O triunfo de Javier Milei nas primárias abertas obrigatórias (Paso) na Argentina preocupa, mas deve ser relativizado. Preocupa porque Milei, que se autoclassifica como anarcocapitalista, tem pouco apreço pelas instituições. Já disse que fecharia o banco central, extinguiria o peso como moeda nacional e sairia do Mercosul. Também se declara admirador de Bolsonaro, uma péssima referência.

O fato de Milei ter se saído bem nas Paso, contudo, não significa que já ganhou. Em termos de forças políticas, há um virtual empate triplo. Milei ficou com 30,04%; o bloco da direita liberal tradicional, que terá Patricia Bullrich como candidata, obteve 28,27%; e os peronistas, agora "unidos" em torno de Sergio Massa, amealharam 27,27%.

O deputado ultraliberal Javier Milei discursa após conseguir resultado surpreendente em eleições primárias deste domingo (13 - Alejandro Pagni/AFP - AFP

Também é preciso considerar a natureza das Paso. Esse exotismo do sistema eleitoral argentino, que pode ser descrito como uma prévia que não vale nada, é um convite ao voto de protesto, que não necessariamente se repetirá em outubro, quando o pleito será para valer. Com uma inflação que deve bater nos 150% até o final do ano e os níveis de pobreza subindo, motivos para protestar é o que não faltam aos argentinos.

É aí que mora o perigo. O país vive há anos um estado de crise econômica semipermanente e já tentou, sem sucesso, sair dela tanto com as receitas do peronismo como com as da direita tradicional. Não será inédito se o eleitor, já exasperado, se deixar levar pelo canto da sereia das soluções mágicas de Milei.

A democracia, para funcionar bem, depende de uma certa estabilidade política e econômica. O grupo que deixa o poder precisa ter alguma segurança de que poderá retornar no futuro (Cristina Kirchner voltou como vice) e eventualmente retomar seus projetos. O risco de candidatos populistas anti-institucionais como Milei é que eles propõem mudanças cuja volta, se não for impossível, é muito difícil. O Reino Unido caiu nessa com o brexit.

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