Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

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Descrição de chapéu China Governo Biden

Ameaça chinesa à hegemonia americana mobiliza Casa Branca sob Biden

Pequim é vista como única rival geopolítica capaz de tomar posição dos EUA no topo da ordem global

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Da mudança climática à resposta à pandemia, passando pelas relações com o Oriente Médio, o presidente Joe Biden tem prioridades políticas fundamentalmente diferentes das de seu predecessor. Mas Biden e Donald Trump concordam plenamente sobre um ponto: a China é hoje a única rival geopolítica realmente capaz de ameaçar a posição dos EUA no topo da ordem global.

Essa é uma visão compartilhada em todos os níveis da administração Biden. Com isso em vista, a Casa Branca iniciou uma revisão estratégica das relações EUA-China, chamando funcionários chave da administração a rever as políticas seguidas pelos EUA em relação à China e a apresentar propostas sobre o rumo a seguir. Três abordagens distintas já começaram a se delinear.

O dirigente chinês, Xi Jinping, durante sessão da Assembleia Popular Nacional, em Pequim
O dirigente chinês, Xi Jinping, durante sessão da Assembleia Popular Nacional, em Pequim - Ju Peng - 5.mar.21/Xinhua

A primeira abordagem é a contenção, defendida por elementos de linha mais dura dentro da Casa Branca e do establishment de segurança nacional. Esse grupo considera que uma guerra fria com a China é inevitável, dado quantas questões de soma zero opõem os dois países, incluindo, mas não se limitando a: o mar do Sul da China, Taiwan, Hong Kong, os uigures e, a questão mais crucial de todas, tecnologia.

Em todas essas áreas a assertividade crescente da China vem se dando à expensa da influência do Ocidente, especialmente dos EUA. Essa é uma preocupação especial quando se trata de 5G e semicondutores, os alicerces da próxima economia global. Segundo essa visão, é crucial que os EUA enfrentem a China em pé de igualdade em todos os aspectos da competição entre grandes potências.

A abordagem seguida por Trump também poderia ser descrita como sendo “linha-dura”, mas há diferenças importantes entre a versão de contenção seguida por Biden e a de Trump. Para começo de conversa, a equipe Biden quer enfrentar a ameaça chinesa em coordenação com seus aliados, e não unilateralmente.

Em segundo lugar, Biden não vai apenas se concentrar em golpear a China –ele também investirá mais na inovação americana. Essa abordagem se baseia na ideia de que não serão ações agressivas dos EUA e seus aliados que colocarão Pequim de joelhos, mas sim as políticas de capitalismo de estado e autoritarismo da própria China, que eles veem como insustentáveis no longo prazo, dado a dívida chinesa massiva e seus contínuos investimentos de risco em países em desenvolvimento.

A segunda opção é a de interdependência, e essa alternativa está sendo proposta principalmente pelos formuladores das políticas econômicas da administração Biden. Para eles, ninguém sairá ganhando realmente se a disputa entre EUA e China se agravar ao ponto de ameaçar fundamentalmente a arquitetura econômica e financeira global.

Em lugar de cair numa guerra fria, eles querem engajar-se construtivamente com a China, usando a arquitetura multilateral existente, reformando-a onde for possível para adequar-se melhor à China e criando novas instituições onde for preciso para levar o país asiático a agir mais multilateralmente.

Eles não veem problema em deixar a China expandir sua presença internacional com programas de investimento como a Belt and Road (a “nova rota da seda”) —embora as rodovias e outras obras de infraestrutura que estão sendo construídas não sejam de qualidade tão alta quanto gostariam, eles reconhecem que a China está ajudando a elevar os padrões de vida de pessoas pelo mundo afora.

É uma visão de mundo do tipo mais “soma positiva” —uma em que todos podem beneficiar-se da concorrência—, algo que não surpreende, vindo de pessoas que estudaram economia.

E há a opção curinga que está sendo encabeçada pelo enviado climático presidencial John Kerry e pelas figuras na administração que veem a mudança climática como a maior ameaça isolada aos EUA, incluindo a China. Em vez de promover uma política de contenção ou de interdependência, eles querem que a relação EUA-China esteja a serviço da luta contra o aquecimento global, uma luta que precisa necessariamente incluir a China, maior emissora mundial.

O fato de Kerry ter um bom relacionamento de trabalho com autoridades chinesas ajuda, mas, de todos os caminhos possíveis, este é o que está menos claramente articulado. Esse é um elemento dessa abordagem, não um bug; para os defensores dela, o relacionamento EUA-China vai evoluir ao longo do caminho, acompanhando a evolução da ameaça da mudança climática.

Qual abordagem Biden vai escolher? Conhecendo Biden e seu ímpeto de buscar consensos, é provável que seja alguma combinação das três, com Biden procurando empoderar os funcionários de sua administração e ao mesmo tempo avançar com o maior número possível de objetivos ao longo dos próximos anos.

Isso faz sentido no curto prazo, mas, sem uma estratégia ampla, os EUA ainda se verão confrontando uma China com um conjunto fundamentalmente distinto de valores e padrões e dotada de meios crescentes de exportar sua própria visão de mundo. Uma revisão estratégica das relações EUA-China é absolutamente o passo correto para os formuladores de políticas em Washington.

A verdadeira questão é o que Washington fará com a revisão quando ela for concluída.

Tradução de Clara Allain

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