Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

A normalidade está quase de volta

Que bom será se esporte e política continuarem a se misturar só na medida certa

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Um querido amigo, desses que perdem a amizade, mas não perdem a piada, comemorou: "Que bom, de agora em diante você vai ter de voltar a falar de futebol".

Tomara que ele tenha razão.

Bem sei que entre as raras leitores e raros leitores há quem se frustre ao encontrar aqui mais política que futebol. Nos últimos tempos, então, foi demais.

O risco de ver a democracia derrotada pela barbárie, de fato, acabou responsável pelo desequilíbrio, oxalá desnecessário daqui para a frente, embora a política esteja sempre presente.

É o habitual: a neutralidade não existe, a imparcialidade, sim, deve ser buscada permanentemente.

O Brasil retomou o caminho da civilização - Carl de Souza - 30.out.22/AFP

Indicar o melhor candidato deveria ser prática corriqueira, sem prejuízo ao exercício do jornalismo independente.

Às vezes, e não que agora tenha sido assim, a escolha se limita ao menos ruim, e, mesmo quando a indicação é do democrata contra o fascistoide, nada impede a crítica ao vencedor escolhido.

Assim será, no exercício da velha máxima de Millôr Fernandes: "Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados".

Ir dormir criticado por árabes e judeus, corintianos e palmeirenses, gremistas e colorados, estabelece a tranquilidade da linha justa.

Desnecessário lembrar a marcação cerrada em torno tanto da organização da Copa do Mundo de 2014 quanto da Rio-16, ou sobre a atuação de maus ministros do Esporte durante os governos do PT.

A opção transparente por um lado quando está em jogo o futuro do país não pode nem deve se comparar à desprezível prática, cada vez mais disseminada neste Brasil em que traficante cheira e pobre vota no algoz, de confundir jornalismo com publicidade.

Definitivamente, escolher a pasta de dente nada tem a ver com a escolha do presidente, rimas paupérrimas, soluções diferentes.

O Brasil retomou o caminho da civilização, e o novo governo errará como de praxe, razão pela qual será fiscalizado.

Não há cheque em branco como inexiste almoço grátis.

Importa realçar a vitória da liberdade, da alegria, da política feita com afeto, da preocupação com os excluídos, da volta dos pobres ao orçamento, da exaltação da vida.

Alguém disse, com razão, que no dia 30 de outubro os mortos votaram.

O criador da necropolítica no país subestimou as famílias de quase 700 mil vítimas da pandemia destratada por seu autor.

Aguardemos ansiosos o que o tricampeão Luiz Inácio Lula da Silva fará pelo maltratado esporte nacional, com tantos nomes capacitados para implantar verdadeira política esportiva voltada à prática como fator de saúde pública.

Haverá muito o que fazer, e a caminhada será dificílima, o maior desafio na vida de um homem aos 77 anos, alvo de injustiças inomináveis, que triunfou. "A partir de agora, se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E, se me deixarem solto, viro presidente de novo", ele disse.

Sim, disse quando conduzido coercitivamente para depor pelo ex-juiz capacho que virou ministro, saiu com o rabo entre as pernas, quis ser presidente, voltou a lamber as botas do poder ao mirar o STF e substituir o falso padre no debate, mas terá de se contentar em ser senador pelo Paraná, apesar de ter pretendido sê-lo por São Paulo.

Ver a neta Luiza chorar de emoção com a festa na avenida Paulista não tem preço.

Enfim, pense num cidadão feliz.

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