Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

O que se esperava da seleção brasileira contra o Marrocos?

Um time renovado, treinador interino, diante de equipe forte. Era para vencer?

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Há mais mistérios entre o meio de campo e as traves do que a vã filosofia dos críticos possa imaginar.

A remoçada seleção brasileira viajou até o Marrocos para enfrentar a quarta colocada na última Copa do Mundo e 65 mil torcedores enlouquecidos com a possibilidade de derrotar os pentacampeões mundiais.

Sim, os pentacampeões mundiais!

Boa parte do mundo ainda trata assim o futebol brasileiro, quase como nossos especialistas que parecem ainda não ter entendido as glórias do passado como são as glórias do passado: do passado.

Lance do amistoso entre Brasil e Marrocos em Tânger, neste sábado, vencido pelos marroquinos por 2 a 1
Lance do amistoso entre Brasil e Marrocos em Tânger, neste sábado, vencido pelos marroquinos por 2 a 1 - Juan Medina - 25.mar.23/Reuters

Porque o presente e os últimos tempos recentes são de uma seleção que não passa das quartas de final em Copas do Mundo e quando passa leva de sete na semifinal.

Que perde a Copa América no Maracanã e vira escada para a epopeia argentina e a santificação de Lionel Messi, enquanto o ídolo nacional tem talento de ouro, mas cabeça, tronco e membros de barro.

Todos os críticos foram capazes de, antes do enfrentamento com os marroquinos, friamente considerá-los favoritos.

Bastou a bola começar a rolar para, consciente ou inconscientemente, se exigir a vitória diante do adversário de menos status, porque, afinal, a camisa amarela é pentacampeã mundial. Pentacampeã!

Ora, Vinicius Júnior, a maior estrela entre os convocados pelo técnico interino Ramon Menezes, não havia completado dois anos quando o Brasil dos Ronaldos e Rivaldo derrotou os alemães no Japão e levantou a taça pela quinta vez.

Alguns nem tinham nascido, como Arthur, Robert Renan, André, Andrey, Vítor Roque e Mycael.

O mais velho deles, o goleiro Weverton, era adolescente, tinha 14 anos, provavelmente já sonhava em ser Marcos, mas só sonhava.

Daí acontece o placar esperado, Marrocos vence por 2 a 1 ao fazer dois gols quando os brasileiros até jogavam melhor e a decepção se veste com ares de surpresa.

Quanto tempo mais vamos levar para digerir a singela realidade de estarmos hoje no bloco intermediário do futebol mundial? Que a Croácia se saiu melhor nas últimas duas Copas, vice-campeã em 2018 e terceira colocada em 22?

Quantas vezes teremos de lembrar que nosso derradeiro clube campeão mundial comemorou o título faz mais de dez anos, exatamente 11 para ser preciso? E que nesse período com frequência nenhum brasileiro nem sequer chegou à decisão e houve até quem amargasse o quarto lugar?

Senhoras e senhores, raras leitoras e raros leitores, faz tempo que deixamos de ser os reis da cocada preta em matéria de futebol.

Porque viramos exportadores de pé de obra, porque a especulação imobiliária acabou com a várzea, porque o futebol de praia passou a ter horário, porque o progresso e a globalização sucatearam nosso modelo de gestão e só agora estamos acordando para isso, porque até hoje não temos uma liga de clubes, porque nosso futebol enriqueceu um bando de cafajestes e fez da CBF a Casa Bandida do Futebol, até com a complacência dos que hoje reclamam estarmos na fossa existencial em que estamos.

Por favor, a culpa não é de Rony, capaz de abnegação comovente, desculpe a heresia, o paraense que lembra a bravura do pernambucano Vavá, bicampeão mundial nos gramados da Suécia e do Chile.

Flávio Costa, famigerado técnico da Copa de 1950, disse que "o futebol brasileiro só evoluiu da boca do túnel para dentro do campo".

Setenta anos depois pode-se dizer que parou no tempo.

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