O "Moral Money Summit", realizado pelo Financial Times na semana passada, seria mais um evento repleto de palavras bonitas de diretores de grandes bancos e muitas demonstrações de fé no apocalipse ambiental.
Até que Stuart Kirk, diretor de investimentos responsáveis do HSBC, praticou seu ato de blasfêmia: a palestra intitulada "Investidores não precisam se preocupar com riscos climáticos". Em 15 minutos, deu uma bela ridicularizada nos lugares-comuns alarmistas repetidos pelos palestrantes que o antecederam.
Kirk falou puramente do ponto de vista de investidores —não discutiu nem negou o aquecimento do planeta. Preferiu se concentrar no que é verdade e o que é empulhação nas previsões sobre o impacto do clima no preço de ativos financeiros.
Primeiro, revelou a contradição entre o que diretores de grandes bancos dizem e o que fazem. Afirmam que "estamos condenados", "ameaçados de extinção"; dez minutos depois, recomendam a seus clientes ações de empresas de tecnologia que só devem começar a dar lucro na próxima década.
O gráfico mais provocativo da palestra exibiu a curva ascendente das menções em jornais à "catástrofe climática iminente". Se as pessoas levassem essa expressão a sério, então deveríamos esperar que elas fugissem de ativos de risco. Mas ocorreu ao contrário: a curva do preço de ações subiu tanto quanto a de menções à catástrofe.
Ou seja: o mercado diz acreditar numa coisa em frente às câmeras mas nos bastidores acredita em outra. Talvez por suspeitar que a tendência secular do mundo é continuar enriquecendo mesmo diante de crises e guerras, como ocorreu no último século.
Mas a principal mensagem do (então) diretor do HSBC é que as previsões apocalípticas ignoram a extrema capacidade humana de se adaptar e resolver dificuldades. Se os riscos da mudança climática se confirmarem, abrirão novas oportunidades para empreendedores fazerem que sabem fazer melhor: ganhar dinheiro resolvendo nossos problemas.
É o caso da Tesla, diz Kirk, empresa que ajuda a resolver a questão das emissões de carbono e que já chegou a US$ 1 trilhão de dólares.
"Seres humanos têm sido fantásticos em se adaptar à mudança, a emergências do clima, e continuarão assim", disse. Como prova dessa capacidade, Kirk exibiu o gráfico (que costuma tirar do sério os inquisidores de plantão) da queda de 90% das mortes causadas pelo clima nas últimas décadas, segundo o International Disaster Database.
Essa redução de mortes ocorreu não porque o planeta não está aquecendo (ele está), mas porque hoje temos mais riqueza e tecnologia para nos proteger dos humores do clima.
Apesar de rumores de que a direção do HSBC estava a par do teor da palestra, Kirk foi suspenso do banco. "Como punição pela heresia, o banco britânico o mandou para um campo de reeducação", brincou o editorial do Wall Street Journal.
Muita gente rugiu no Twitter contra a blasfêmia de Stuart Kirk, mas poucos enfrentaram seus argumentos. Seu pecado foi apenas falar verdades demais.
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