Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Descrição de chapéu clima mudança climática

Stuart Kirk, mais um castigado por falar verdades demais

Diretor de investimentos sustentáveis do HSBC foi afastado após discordar de colegas sobre riscos financeiros da mudança climática

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O "Moral Money Summit", realizado pelo Financial Times na semana passada, seria mais um evento repleto de palavras bonitas de diretores de grandes bancos e muitas demonstrações de fé no apocalipse ambiental.

Até que Stuart Kirk, diretor de investimentos responsáveis do HSBC, praticou seu ato de blasfêmia: a palestra intitulada "Investidores não precisam se preocupar com riscos climáticos". Em 15 minutos, deu uma bela ridicularizada nos lugares-comuns alarmistas repetidos pelos palestrantes que o antecederam.

Kirk falou puramente do ponto de vista de investidores —não discutiu nem negou o aquecimento do planeta. Preferiu se concentrar no que é verdade e o que é empulhação nas previsões sobre o impacto do clima no preço de ativos financeiros.

Stuart Kirk no “Moral Money Summit”, realizado pelo Financial Times
Stuart Kirk no "Moral Money Summit", realizado pelo Financial Times - Reprodução/YouTube

Primeiro, revelou a contradição entre o que diretores de grandes bancos dizem e o que fazem. Afirmam que "estamos condenados", "ameaçados de extinção"; dez minutos depois, recomendam a seus clientes ações de empresas de tecnologia que só devem começar a dar lucro na próxima década.

O gráfico mais provocativo da palestra exibiu a curva ascendente das menções em jornais à "catástrofe climática iminente". Se as pessoas levassem essa expressão a sério, então deveríamos esperar que elas fugissem de ativos de risco. Mas ocorreu ao contrário: a curva do preço de ações subiu tanto quanto a de menções à catástrofe.

Ou seja: o mercado diz acreditar numa coisa em frente às câmeras mas nos bastidores acredita em outra. Talvez por suspeitar que a tendência secular do mundo é continuar enriquecendo mesmo diante de crises e guerras, como ocorreu no último século.

Mas a principal mensagem do (então) diretor do HSBC é que as previsões apocalípticas ignoram a extrema capacidade humana de se adaptar e resolver dificuldades. Se os riscos da mudança climática se confirmarem, abrirão novas oportunidades para empreendedores fazerem que sabem fazer melhor: ganhar dinheiro resolvendo nossos problemas.

É o caso da Tesla, diz Kirk, empresa que ajuda a resolver a questão das emissões de carbono e que já chegou a US$ 1 trilhão de dólares.

"Seres humanos têm sido fantásticos em se adaptar à mudança, a emergências do clima, e continuarão assim", disse. Como prova dessa capacidade, Kirk exibiu o gráfico (que costuma tirar do sério os inquisidores de plantão) da queda de 90% das mortes causadas pelo clima nas últimas décadas, segundo o International Disaster Database.

Essa redução de mortes ocorreu não porque o planeta não está aquecendo (ele está), mas porque hoje temos mais riqueza e tecnologia para nos proteger dos humores do clima.

Apesar de rumores de que a direção do HSBC estava a par do teor da palestra, Kirk foi suspenso do banco. "Como punição pela heresia, o banco britânico o mandou para um campo de reeducação", brincou o editorial do Wall Street Journal.

Muita gente rugiu no Twitter contra a blasfêmia de Stuart Kirk, mas poucos enfrentaram seus argumentos. Seu pecado foi apenas falar verdades demais.

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