O rapper Kanye West vai enfrentar um processo de difamação de US$ 250 milhões movido pela família de George Floyd, assassinado por um policial de Minnesota em junho de 2020. A morte do homem negro por sufocamento, documentada em vídeo, foi o estopim dos protestos que se espalharam nos EUA e em outros países, sob o lema do movimento Black Lives Matter.
West, que agora quer ser chamado de Ye, é a nova cria de estimação da franja lunática trumpista e disse numa entrevista que Floyd nem chegou a ser sufocado pelo policial branco, mas morreu por dependência de opioides.
O homicídio de Floyd é um fato, não só testemunhado por milhões como confirmado no veredicto do assassino, o policial Derek Chauvin, que cumpre pena de 22 anos pelo crime.
O fracasso de instituições que não conseguem salvaguardar a civilidade democrática nos Estados Unidos parece só esbarrar numa trincheira final, os tribunais.
No último dia 12, Alex Jones, um dos mais repulsivos conspiracionistas da extrema direita, empresário milionário com vasta presença digital, foi condenado a pagar US$ 1 bilhão às famílias das crianças mortas no massacre da escola Sandy Hook, em Connecticut, em 2012.
Jones faturou uma fortuna com a mentira de que o massacre nunca ocorreu, não passou de encenação. Sua perseguição de uma década aos pais de 20 crianças de 6 e 7 anos desafia a imaginação escatológica e forçou famílias em luto a se mudar várias vezes, fugindo do assédio terrorista dos seguidores de Jones.
O veredicto atingido em Connecticut não garante que US$ 1 bilhão será pago. Mas pode impedir que Jones tenha sucesso escondendo a fortuna, depois de declarar falência de sua empresa e transferir bens para outras entidades ou pessoas. O bilhão é simbólico, um disparo para intimidar outros profissionais da crueldade digital. Se vai funcionar, depende dos financiadores potenciais dessa indústria.
A CEO da Fox News de Rupert Murdoch está para ser interrogada numa ação de US$ 1,6 bilhão movida pela Dominion, que forneceu máquinas de voto eletrônico para 28 estados americanos na eleição presidencial de 2020.
Suzanne Scott já está tendo seus emails e mensagens de texto examinados pelos advogados da Dominion, e há provas de que ela comentou sobre a criminalidade da "grande mentira", inventada por Donald Trump sobre o roubo da eleição presidencial —jamais provado—, e martelada diariamente no ar pelos âncoras da Fox.
Em junho, a rede perdeu num tribunal a moção para suspender a ação judicial sob a alegação de que sua campanha de desinformação, combustível para a violenta invasão do Capitólio, tem proteção constitucional como liberdade de expressão.
Capangas de Trump no esforço para impedir a posse de Joe Biden, como o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, são alvos de processos envolvendo somas astronômicas —não só da Dominion, mas de outra fornecedora de urnas eletrônicas, a Smartmatic, que também processa a Fox e alguns de seus âncoras pedindo US$ 2,7 bilhões. Ambas as empresas alegam que perderam bilhões em contratos depois da campanha para desacreditar a integridade da votação.
É impossível envergonhar o depravado que não consegue disfarçar a fixação sexual em menores refugiadas e macaqueia Trump no esforço para se manter entrincheirado no Planalto. Depois do clima que nunca houve, é preciso pintar um preço real. E alto.
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