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Teórico da conspiração é condenado a pagar US$ 1 bi a atingidos por fake news nos EUA

Alex Jones espalhou mentiras sobre atentado que matou dezenas na escola Sandy Hook, nos EUA

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Washington | Reuters e AFP

O teórico da conspiração americano Alex Jones foi condenado a pagar US$ 965 milhões a várias famílias de vítimas do massacre de Sandy Hook, por alegar falsamente que o assassinato de 20 alunos e 6 educadores na escola de ensino fundamental em Connecticut foi encenada pelo governo e pelos familiares. Um agente do FBI também será indenizado.

O veredicto desta quarta-feira (12) pôs fim a um processo de difamação movido por parentes das vítimas e pelo agente da polícia federal que atuou no caso. Ele foi dado após três semanas de depoimentos em um tribunal em Waterbury. Jones também terá de arcar com os honorários dos advogados, e o valor final será definido em novembro.

Alex Jones fala com repórteres após dar depoimento no julgamento em Waterbury - Mike Segar - 11.out.22/Reuters

Advogados das famílias de oito vítimas disseram no julgamento que Jones lucrou por anos com as mentiras sobre o massacre, que geraram tráfego para seu site Infowars —no qual desinformação é veiculada largamente— e impulsionaram a venda de seus produtos, dentre os quais suplementos alimentares. Documentos legais mostram que seus empreendimentos faturaram mais de US$ 165 milhões entre 2015 e 2018.

Devido às mentiras, os familiares sofreram por uma década assédio e ameaças de morte por parte dos seguidores de Jones, argumentou um dos advogados, Chris Mattei. "Cada uma dessas famílias estava se afogando no luto, e Alex Jones colocou o pé em cima delas", disse ele aos jurados.

A defesa do conspiracionista alegou que os familiares haviam mostrado poucas evidências de perdas quantificáveis. Seu advogado, Norman Pattis, também pediu aos jurados que ignorassem as tendências políticas do caso. "Esse não é um caso sobre política, mas que trata de quanto compensar os requerentes."

Jones também testemunhou, recusando-se a pedir desculpas às famílias e criticando seus detratores chamados de "progressistas". Ele e seus apoiadores caracterizaram o processo repetidas vezes como uma tentativa de cerceamento à liberdade de expressão —o argumento, com o qual Jones tentou derrubar as ações na Justiça, é frequentemente usado por políticos como Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Ligado à ascensão da ultradireita conservadora nos últimos anos, Jones, 48, conquistou uma audiência de milhões de pessoas como apresentador de rádio e comunicador, propagando desinformação e teorias conspiratórias pelo site Infowars e pelas redes sociais. Ele também era convidado regular de podcasts e programas no YouTube.

Depois de divulgar mentiras sobre o massacre em Sandy Hook, afirmando em seu programa de rádio que o atentado a tiros na escola havia sido uma montagem dos defensores do controle de armas e que os pais das vítimas eram atores, reconheceu posteriormente que o caso havia sido "100% real". No massacre, um homem de 20 anos chamado Adam Lanza matou, pouco antes do Natal de 2012, 20 crianças de seis e sete anos, além de seis funcionários e a própria mãe, antes de se matar.

Jones não estava no tribunal durante a leitura do veredicto nesta quarta, mas prometeu, em uma live transmitida pelo Infowars, que vai recorrer da decisão. "Estamos lutando contra Golias", disse. Ao todo, ele deverá indenizar 14 parentes de vítimas e o agente do FBI.

Mattei, o advogado das famílias, disse do lado de fora do tribunal que a sentença era "contra Alex Jones, suas mentiras e sua disseminação venenosa, mas também um veredicto pela verdade e pela nossa humanidade comum". Ele também disse que as famílias vão a quantos tribunais forem necessários para que a sentença seja cumprida, "pelo tempo que for necessário, porque é isso o que a justiça requer".

O radialista também foi condenado recentemente em outro processo por difamação movido contra ele pelos pais de uma criança de seis anos assassinada em Sandy Hook. Em agosto, um júri em Austin, no Texas, decidiu que ele e sua empresa devem pagar US$ 49,3 milhões ao casal. Os advogados de Jones disseram que esperam anular a maior parte do pagamento antes que ele seja aprovado por um juiz, chamando-o de excessivo sob a lei estadual.

O processo em Connecticut é um grande risco financeiro para Jones, porque ele foi considerado responsável por violar a Lei de Práticas Comerciais Desleais do estado, ao usar mentiras sobre o massacre para vender produtos no Infowars —não há limite para punições sob essa lei.

Tanto o InfoWars quanto sua empresa-mãe, Free Speech Systems, declararam falência recentemente, mas as famílias alegam que essa é uma forma de Jones evitar o pagamento das indenizações. As finanças das empresas não são públicas.

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