Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Em 'Irma Vep', Olivier Assayas questiona se TV já não é maior que cinema

Diretor responsável por filme homônimo de 1996 faz de thriller um baú de metarreferências na HBO Max

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"Irma Vep", que a HBO Max estreou na segunda (6), é tão cheia de metarreferências que a trama, por momentos, fica em segundo plano. Mas é, também, um sinal promissor de que cinema e TV não precisam estar distantes, ainda que seu diretor, o francês Olivier Assayas, teime que sim.

Não se estranha, portanto, que os fãs da arte de Hitchcock se entusiasmem mais com essa refilmagem do que discípulos de David E. Kelley.

Cartaz da série "Irma Vep", criada por Olivier Assayas
Cartaz da série 'Irma Vep', criada por Olivier Assayas - Divulgação

Do tempo das cenas aos diálogos, tudo remete a cinema ("um filme em oito partes", corrige seu personagem).

E, ainda assim, "Irma Vep" busca funcionar como série, sacando um e outro elemento do glossário da TV para tentar conquistar um público maior e mais jovem para o qual aquele bando de referências talvez não faça diferença. (Ou, talvez, capturando para a tela pequena cinéfilos irredutíveis.)

O enredo traz uma atriz americana, que acaba de tomar um fora amoroso e de estourar com um blockbuster de heróis, tentando se reencontrar em Paris, onde está para filmar uma série inspirada em um filme francês mudo dos anos 1910, "Os Vampiros". Ao longo da produção, ela passa a se identificar mais e mais com a diabólica protagonista.

É praticamente a mesma trama que Assayas levou à tela grande em 1996, com o mesmo nome, e Maggie Cheung no papel principal.

Agora temos a sueca Alicia Vikander —que recebeu o Oscar de coadjuvante por "A Garota Dinamarquesa" e, como diz seu diretor no filme, está "cintilante"— e um bocado de amargura a mais no alter ego do cineasta, o diretor René Vidal (Vincent Macaigne), cuja obsessão por um filme de 1915 parece mais assombra-lo do que o inspira.

Há um bocado de tensão sexual, cortesia de Vikander e de Adria Arjona, como Laurie, sua ex-amante. E, como não poderia deixar de ser, cinismo as pencas com o rumo que a produção audiovisual, na plataforma que for, tem tomado ("há gente hoje criando obras com base em algoritmos", indignou-se Assayas a repórteres em Cannes, como registrou o colega Leonardo Sanchez).

Sim, há, e normalmente resulta em uma máquina de produções com as mesmas fórmulas. Mas Assayas quer correr para o rumo oposto, preocupado apenas em prestar contas a si mesmo e a seus tantos muitos fantasmas.

Isso posto, é prazeroso ver algo na TV que não pareça com N outras coisas, além de ser um afago a quem gosta de cinema como se fazia antes das franquias de heróis.

Cineastas migram para TV com frequência cada vez maior, nem sempre conseguindo imprimir suas marcas. Há os que mantém a identidade e exploram o novo formato, como David Fincher e os Coen; há quem se recuse a se render, mas perca o próprio norte —aconteceu com ninguém menos que Woody Allen.

Assayas é um diretor talentoso. "Irma Vep" está apenas no primeiro de seus oito episódios. Torçamos para que ele se junte ao primeiro grupo.

"Irma Vep" é exibida pela HBO Max, com novos episódios às segundas.

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