La Niña e El Niño são eventos climáticos que ocorrem no oceano Pacífico cujos efeitos são mundiais. Durante o La Niña, as águas no leste do oceano (perto da linha do Equador) ficam mais frias do que o normal, o que ajuda a desacelerar o aumento da temperatura média da terra. O contrário acontece durante o El Niño. O ano mais quente já registrado no planeta foi 2016, quando um dos mais severos eventos de El Niño foi observado.
No último dia 8, cientistas declaram que as condições que determinam um El Niño já são observadas e devem se intensificar ao longo dos próximos meses. O El Niño chega no momento em que a temperatura da superfície oceânica do mundo atingiu um recorde histórico desde 1982 (data dos primeiros registros de satélite).
A temperatura do oceano chegou a 21,1ºC em 5 de abril. Desde então, a curva diária apresenta um padrão excepcionalmente acima do esperado, levando a ondas de calor marinhas em todo o mundo que podem ter efeitos devastadores na vida marinha e causar branqueamento de corais em recifes tropicais.
Cabe ressaltar que mais de 90% do calor gerado pela adição de gases de efeito estufa à atmosfera por meio da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento é absorvido pelo oceano. Enquanto o El Niño é um evento que naturalmente acontece a cada 2-7 anos (o último foi registrado em 2016), as ondas de calor marinhas são causadas pela ação humana.
A ocorrência simultânea dos dois eventos pode gerar um aquecimento sem precedentes, com temperaturas recorde em 2023 e 2024 e sérias consequências sociais e econômicas. Um estudo publicado na revista Science mostrou que os efeitos do El Niño são prolongados.
No Brasil, a estimativa é que a perda no PIB per capita cinco anos após o El Niño de 1982-1983 e o de 1997-1898 foi de 6,2% e 5,6%, respectivamente.
O El Niño eleva a temperatura no Brasil e afeta o padrão de chuva, com precipitação abaixo da média nas regiões Norte e Nordeste e acima da média na região Sul. Do final do século 19 ao século 20, 11 períodos de seca no Nordeste coincidiram com eventos de El Niño, incluindo a grande seca de 1877. Neste século, a seca de 2012-2015 foi agravada pelo El Niño de 2015-16.
Na Amazônia, a redução da chuva e o aumento da temperatura durante o El Niño, as altas taxas de desmatamento dos últimos meses (apesar da recente queda em maio), e a chegada da temporada das queimadas podem resultar em grande número de incêndios e área queimada. A maior área queimada já observada na região desde 1988 foi em 2016 (32.138 km²), durante o último El Niño.
Um período intenso de queimadas significa mais emissão de gases de efeito estufa e de material particulado prejudicial à saúde. A extensão dessas emissões não se limita à área onde as queimadas acontecem, o que recentemente ganhou atenção com a piora da qualidade do ar no nordeste dos Estados Unidos, no começo de junho, especialmente na cidade do Nova York, consequência de incêndios no Canadá.
Do ponto de vista energético, os efeitos podem não ser tão intensos no Brasil. Os três últimos anos de La Niña ajudaram a melhorar o nível dos reservatórios. Segundo atualização deste sábado (16), todas as regiões estão com capacidade acima de 82%, exceto a Norte, com capacidade de 99,04%.
Os eventos das últimas décadas permitem entender a extensão dos danos sociais e econômicos do El Niño. A velocidade de ações concretas de adaptação, mitigação e redução de danos é muito menor do que a da geração de conhecimento. Futuros efeitos negativos do El Niño e de outros eventos extremos (no Brasil e no mundo) serão uma demonstração do fracasso mundial em frear o aquecimento global.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.