Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Plano Real inaugurou relações de consumo modernas

Há muitos preços a pagar em nome do crescimento econômico, mas a inflação não pode ser um deles

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Nesta segunda-feira, 1º de julho, o Plano Real completou três décadas de vitória contra a hiperinflação. Milhões de brasileiros nasceram depois dessa conquista, e não fazem ideia do que era viver com as maquininhas de remarcação de preços apontadas para os produtos nos supermercados. Sem inflação sob controle, o CDC (Código de Defesa do Consumidor) teria muito mais obstáculos pela frente. Pode-se afirmar que as relações de consumo modernas, no Brasil, começaram mesmo em 1994, há 30 anos.

Painel eletrônico em São Paulo mostra a URV (Unidade Real de Valor), índice utilizado na transição do cruzeiro para o real - Mujica - 29.jun.1994/Folhapress

Talvez pareça exagero, mas os consumidores, assim que recebiam o salário, corriam para fazer as compras do mês nos supermercados, antes que a inflação comesse parte substancial do valor recebido. Nesse contexto, outras questões importantíssimas, como qualidade e segurança dos produtos, prazos de entrega, venda casada, inversão do ônus da prova, marcos do CDC, ficariam em segundo plano frente à carestia.

A inflação é extremamente cruel, porque massacra os mais pobres, os mais vulneráveis da sociedade. Como os preços são iguais para ricos e pobres, o peso dos constantes reajustes fragilizava ainda mais aqueles que não conseguiam investir parte do dinheiro para se proteger da inflação.

O artifício da URV (Unidade Real de Valor) foi uma jogada de mestre, que ajudou a interromper a memória inflacionária, dando xeque-mate nos aumentos diários de preços. Parabéns aos autores do plano!

É claro que a euforia inicial, com o valorizado Real com cotação igual à do dólar, boom de viagens internacionais, durou somente algum tempo, até que a moeda se ajustasse à realidade da economia brasileira.

O consumidor deve defender o legado da moeda e da inflação mais próxima dos padrões internacionais, recusando-se a pagar qualquer preço por produtos e serviços. Comparando preços antes de comprar. Fugindo das absurdas taxas de juro. Evitando o consumismo, que destrói o orçamento familiar e leva ao endividamento.

Antigamente, havia quem acreditasse que fosse melhor um pouco de inflação do que uma economia estagnada. Depois de conviver com a estagflação (economia estagnada e inflação alta), talvez tenham aprendido que inflação não tem bons modos, não sabe se comportar e é rebelde. Quando começa a disparar, é difícil de ser contida.

Um Banco Central independente é fundamental para que governos gastadores não sejam o iceberg do Titanic da economia. Para que não se preocupem mais com a próxima eleição do que com preços civilizados, essenciais para que as pessoas de baixa renda também sejam consumidores, dentro de suas possibilidades.

Há muitos preços a pagar para o crescimento econômico, e vários deles podem ser aceitos, menos a inflação. Os mais velhos já viram esse filme, e não gostaram nada do final infeliz.

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