Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Dependente de igrejas, RedeTV! vem bajulando governo Bolsonaro

Fica o desejo de que a rede encontre um caminho para sobreviver por pernas próprias

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Nesta quinta-feira, a RedeTV! vai exibir 13 horas de conteúdo próprio. No restante do tempo, ou seja, por 11 horas, o espectador que sintonizar o canal verá programação feita por terceiros, na maior parte pregação religiosa produzida por igrejas neopentecostais.

Das cinco grandes redes de TV aberta nacionais, a RedeTV! é a que apresenta o mais baixo índice de produção própria. Além disso, é a que dedica mais espaço a programas de fofocas.

Quatro das 13 horas diárias de programação feita em casa são preenchidas com três atrações (“Tricotando”, “A Tarde É Sua” e “TV Fama”) dedicadas a divulgar e a comentar notícias, maledicências e boatos sobre celebridades.

O principal telejornal ocupa 30 minutos da grade, enquanto um programa policialesco fica o triplo do tempo no ar.

Em março de 2017, entrevistando Marcelo de Carvalho, vice-presidente e sócio da RedeTV!, perguntei a ele por que o canal vendia tantas horas da sua programação a igrejas. “Porque se eu não vender, quebro”, ele respondeu.

Carvalho culpa a falta de publicidade pela baixa qualidade do que a RedeTV! exibe. Há anos, ele repete que o mercado publicitário, estimulado por um mecanismo de incentivo (chamado “bonificação por volume”) dá preferência à Globo de uma forma desproporcional à audiência do canal.

A RedeTV! acreditou que a sua claudicante situação melhoraria com chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Mas, até agora, apesar do firme alinhamento da emissora com o governo, o quadro não mudou muito.

Em 8 de junho, por exemplo, o RedeTV News, principal telejornal do canal, foi o único entre os seus concorrentes a ignorar a tentativa do governo de maquiar a apresentação dos números da pandemia de coronavírus.

Nos últimos meses, Carvalho se tornou uma das vozes mais estridentes no combate às políticas de isolamento social, “essa bobagem de quarentena”, como disse no último sábado, no “Mega Senha”.

A maior novidade de 2020 foi a contratação de Sikêra Jr., apresentador do “Alerta Nacional”. O jornalista ficou famoso pelo tom debochado com que noticia casos policiais violentos e por festejar a morte de acusados de crimes. A estreia numa rede nacional, depois de décadas em canais de alcance regional no Norte e no Nordeste, foi festejada por dois filhos do presidente Bolsonaro.

Carvalho considera o estilo de Sikêra uma “inovação” na televisão, ignorando vários outros apresentadores que fizeram coisas parecidas, nos últimos 30 anos, com o mesmo mau gosto que o seu contratado.

Sikêra foi recebido sábado por Carvalho no “Mega Senha”. Ambos se divertiram encenando uma piada preconceituosa com homossexuais e compartilharam críticas ao esforço de combater a pandemia por meio do distanciamento social.

Escrevi no UOL a respeito deste encontro dizendo que ele resumiu o que há de mais anacrônico na televisão brasileira. Em sua conta no Twitter, Carvalho classificou meu texto como “deselegante” e disse se orgulhar de “ir contra a maré” e se posicionar “contra a patrulha e o politicamente correto”.

Fica o desejo de que a RedeTV! encontre um caminho para sobreviver por pernas próprias, sem precisar adotar uma posição de subserviência política e a necessidade de vender tantos horários para igrejas.

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