Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Debates eleitorais são cancelados, e só líderes em pesquisas não lamentam

Tradição no Brasil desde a redemocratização, esses eventos informam e esclarecem o eleitor

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Salvo alguma mudança de última hora, só haverá dois debates na TV aberta entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo antes do primeiro turno. O primeiro, na Band, ocorreu em 1º de outubro. E o segundo está programado pela TV Cultura para 12 de novembro, três dias antes da eleição.

Globo, Record, SBT e RedeTV!, que anunciaram a intenção de fazer debates e chegaram a reservar datas para os eventos, desistiram. Na TV paga, a CNN Brasil também informou que faria um, mas mudou de ideia. Todas as emissoras afirmam que farão debates no segundo turno.

A onda de cancelamentos foi capitaneada pela Globo. Na segunda quinzena de setembro, a emissora informou que só realizaria debates nas cidades onde houvesse acordo entre os partidos para que apenas os quatro candidatos mais bem colocados na pesquisa eleitoral mais recente (Ibope ou Datafolha) participassem dos encontros.

Debate da Band com os postulantes a prefeito de São Paulo nas eleições de 2020 - Bruno Santos - 1º.out.2020/Folhapress

A decisão, naturalmente, inviabilizou o debate. Em 9 de outubro, a emissora cancelou oficialmente o evento. Neste meio tempo, as concorrentes também anunciaram que não fariam. Todas usaram um mesmo argumento: medida de segurança por causa da pandemia de coronavírus.

Em artigo na Folha em 25 de outubro, presidentes de seis partidos de esquerda e centro-esquerda se uniram para pedir "um pouco de boa vontade" e propor uma alternativa. Em vez de colocar 11 candidatos num mesmo estúdio, como fez a Band, por que não dividir os debates em dois dias? Não houve resposta.

É significativo que os partidos dos candidatos que lideravam as pesquisas eleitorais no momento em que a Globo desistiu de fazer o seu debate não tenham reclamado. Quem entende a importância da TV aberta no Brasil faz ideia do impacto e do estrago que um debate eleitoral pode causar.

Debates eleitorais na TV aberta são tradição no Brasil desde a redemocratização. Muitos questionam a capacidade que esses eventos, muito engessados por regras, têm de informar e esclarecer o eleitor.

Na dúvida, mesmo achando tediosos muitos destes eventos, ainda considero melhor uma eleição com confronto de candidatos do que uma sem. Além das ideias, é instrutivo conhecer a postura e a capacidade de expressão dos participantes.

A eleição de 2018 foi marcada pela falta de debates no segundo turno. Alegando razões médicas, o então candidato Jair Bolsonaro cancelou a sua participação em todos os eventos previstos. Foi a primeira eleição presidencial desde 1989 sem debates no segundo turno (em 1994 e 1998 não houve segundo turno).

Luto coletivo

Muita gente se espantou nesta semana com a comoção causada pela morte de Tom Veiga (1973-2020), o ator que manipulava e fazia a voz do papagaio Louro José no programa de Ana Maria Braga, na Globo.

Simpático e divertido, o fantoche colorido fazia piadas leves e comentários eventualmente atrevidos. Por mais de duas décadas, de segunda a sexta, sem jamais mostrar o rosto, Veiga criou um personagem que se comunicava com todos os públicos —convidados no estúdio e espectadores em casa ou na internet.

Tom Veiga foi um produto da TV aberta, ainda hoje a principal fonte de entretenimento e informação de parcela significativa da população. Reconhecer o impacto que essa mídia provoca não significa concordar com tudo o que ela produz ou apreciar o conteúdo. Mas é preciso despir o preconceito para entender os seus efeitos.

Ana Maria Braga e Tom Veiga - Reprodução/Instagram/Tom Veiga

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