Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Fox News e Jovem Pan sofrem e mudam após apoio a Trump e Bolsonaro

Ação civil pública pede cassação de três concessões de rádio e multa de R$ 13,4 mi à JP

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Ainda cabe aos cientistas políticos uma análise mais acurada sobre as semelhanças entre os ataques à democracia ocorridos nos Estados Unidos e no Brasil, em 6 de janeiro de 2021 e 8 de janeiro de 2023, respectivamente, cometidos por apoiadores de Donald Trump e Jair Bolsonaro, inconformados com resultados eleitorais.

Salta aos olhos do colunista de mídia, no entanto, que os dois ex-presidentes contaram, durante os seus governos, com uma cobertura jornalística condescendente, quando não de apoio explícito, oferecida por canais de notícias na TV por assinatura.

O papel da Jovem Pan nos anos Bolsonaro ainda está por ser descrito em detalhes, mas um esboço do que ocorreu pode ser lido em uma ação do Ministério Público Federal, apresentada em junho deste ano.

Com base na análise da programação do canal entre 1º de janeiro de 2022 e 8 de janeiro de 2023, dois procuradores constataram a sistemática veiculação de "conteúdos desinformativos" a respeito do funcionamento de instituições públicas do país, "contextualmente atrelados a conteúdos incitatórios à violência e à ruptura do regime democrático brasileiro".

A ação civil pública, que pede a cassação de três concessões de rádio e uma multa de R$ 13,4 milhões pela divulgação de notícias falsas e incitação a atos antidemocráticos, ainda não chegou a um termo final.

O canal, no entanto, já tomou algumas medidas. Em primeiro lugar, livrou-se de meia dúzia dos seus comentaristas mais engajados e estridentes. No lugar da gritaria e das ofensas contra tudo o que representasse oposição a Bolsonaro, adotou nos últimos meses uma cobertura num volume bem mais suave.

Os atuais analistas da JP falam do governo Lula em tom de lamentação e inconformismo, como se conversa num velório, mas sem a violência do passado. Também chama a atenção o cuidado em oferecer pontos de vista que façam contraponto à visão majoritariamente de oposição. Dada a falta de hábito, porém, o esforço em demonstrar equilíbrio chega a soar canhestro em algumas situações.

Já o papel da Fox News, nos Estados Unidos, está documentado em detalhes em alguns livros e também numa ação judicial. O recém-lançado "Network of Lies" (rede de mentiras), do jornalista Brian Stelter, apresenta um bom panorama sobre a atuação do canal durante os anos Trump.

Focado no papel de apresentadores e comentaristas, sempre dispostos a defender Trump e dar trela a mentiras que o então presidente propagou, Stelter afirma que o canal de notícias tem uma parcela de responsabilidade pelo ataque ao Capitólio.

Antes das eleições de 2020, o canal reproduziu por meses declarações de Trump e de apoiadores colocando em dúvida o sistema eleitoral americano. Também deixou ir ao ar acusações, sem provas, de que as eleições foram fraudadas.

Em abril deste ano, um dos principais apresentadores do canal, Tucker Carlson, foi demitido. O seu programa foi, por anos, uma plataforma para difusão de ideias nacionalistas e, eventualmente, racistas. Mesmo sabendo que Trump perdeu as eleições, em novembro de 2020, Carlson deixou por alguns dias que milhões de pessoas alimentassem esperanças de uma vitória.

Coube à Dominion, fabricante de urnas eletrônicas, questionar na Justiça as mentiras ditas na Fox. Pediu uma indenização de US$ 1,6 bilhão (cerca de R$ 7,8 bilhões) e aceitou encerrar a ação após o canal concordar em pagar US$ 787 milhões (cerca de R$ 3,8 bilhões). Ninguém aceitaria um acordo desses se não reconhecesse que tinha boas chances de perder a causa.

O livro lembra que a Fox perdeu audiência ao noticiar a derrota de Trump para Biden nas eleições. "O espectador perdeu confiança no canal porque, dessa vez, ele não mentiu", escreve Stelter.

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