Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Folha, 100

Por que o borogodó da Folha incomoda tanto?

Um século de protagonismo corajoso na defesa da verdade, da liberdade de expressão e da democracia no Brasil

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No dia 19 de fevereiro de 1921 nascia o jornal mais corajoso do país.

Há mais de dez anos tenho a alegria de fazer parte de um time de colunistas que admiro pela coragem, e ainda tenho o privilégio de ter leitores que valorizam o compromisso com a verdade.

O momento mais marcante da minha trajetória na Folha foi o convite para escrever sobre os comentários ofensivos feitos pelo Presidente do Brasil, e também pelo Ministro da Economia, sobre “a feiura de Brigitte Macron”.

Escrevi que Brigitte Macron, com quase 70 anos, tem o maior borogodó porque é verdadeira. Ela não mudou seu estilo e comportamento ao se casar com um homem 25 anos mais jovem, nem por ser esposa do Presidente da França ou por ter se tornado avó.

Quando uma mulher é livre para “ser ela mesma”, ela questiona os padrões que aprisionam as mulheres de todas as idades. Ao mesmo tempo em que incomoda, e muito, ela inspira outras mulheres que querem envelhecer com mais liberdade, felicidade e verdade.

Meu artigo “Por que o borogodó de Brigitte incomoda tanto?” teve chamada de capa —“Preconceito liga envelhecimento de mulher à feiura”— na edição histórica da Folha de 07 de setembro de 2019. O destaque da primeira página foi a ilustração do beijo gay da história em quadrinhos que provocou polêmica na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, com a chamada: “Crivella tenta censurar HQ com beijo gay, mas é barrado”.

primeira página do jornal com ilustração de beijo gay de quadrinho censurado
Primeira página da Folha no dia 7 de setembro - Reprodução

No dia seguinte, escrevi para Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha:

“Fiquei muito feliz e orgulhosa de estar na capa de ontem da Folha. Parabéns pela edição histórica. Teve um impacto enorme. Recebi incontáveis mensagens dos leitores elogiando a coragem da Folha. O meu artigo sobre o borogodó da Brigitte bombou: ficou em primeiro nas colunas mais lidas e enviadas. É uma grande honra e uma alegria imensa ser colunista da Folha. Um grande abraço e conte sempre comigo”.

Ao reler o que escrevi sobre o poder libertador do borogodó da Brigitte, lembrei de uma fala de Sérgio Dávila na cerimônia religiosa em homenagem a Otavio Frias Filho, em agosto de 2018: “Quando um aspecto pioneiro do jornal era adotado pela concorrência, Otavio dizia: ‘Sérgio, temos de fugir para a frente!’. Queria dizer que a melhor maneira de a Folha continuar sendo a Folha era olhando para o futuro”.

Não titubeio quando me pedem uma única palavra para definir o que faz a Folha continuar sendo a Folha: coragem.

Será que é por ter a coragem de continuar sendo a Folha que o borogodó dessa senhora centenária continua incomodando tanto?

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