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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Voltamos para um ponto ainda pior, diz Flávia Alessandra sobre a pandemia

Atriz de 46 anos ainda sente sequelas da Covid-19, defende a filantropia e diz ter tomado as rédeas da carreira: 'Para pirar, errar e acertar'

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A atriz Flávia Alessandra

Retrato da atriz Flávia Alessandra Vinicius Mochizuki

Flávia Alessandra, 46, ainda não se recuperou totalmente da Covid-19 —ela foi infectada pelo novo coronavírus no fim de 2020. “Eu ainda estou cansada fisicamente”, diz a atriz, que pratica exercícios, ioga e meditação “há anos”. “Tem dias em que acordo bem entupida, coisa que não era normal —nunca tive sinusite. E tenho trabalhado bastante a minha parte cardiovascular em treinos, porque está bem deficiente. É onde ainda sinto sequela.”

Ela não sabe de onde pegou o vírus, já que segue “mil procedimentos” para se proteger. “Faço teste dia sim, dia não”, conta a atriz, que no fim do ano passado voltou a trabalhar após se isolar desde o início da pandemia em seu apartamento na Barra da Tijuca com o marido, o apresentador Otaviano Costa, e as filhas, Giulia e Olívia. “Isolada mesmo, nem elevador [usávamos].”

Na época, ela atuava em campanhas publicitárias e finalizava as gravações da novela “Salve-se Quem Puder”, retomadas em agosto após uma interrupção causada pela epidemia. O folhetim voltou a ser exibido pela TV Globo no fim de março deste ano. Os novos capítulos serão transmitidos a partir de maio.

A informação de que ela estava com Covid-19 veio da Globo. E a surpreendeu. “Pensei: ‘Não é possível, porque fiz anteontem e deu negativo’. Eu tinha acabado de gravar uma campanha, avisei todo mundo que esteve comigo —era uma equipe reduzidíssima, ninguém pegou. E fui refazer o teste no [hospital Albert] Einstein. Veio realmente positivo”, lembra.

Voltando para casa, foi “direto para o isolamento”. “Fiquei num quarto de hóspedes”, diz. “Foram 15 dias sem ver a minha família. Essa foi a parte mais dolorosa”, segue ela, que teve sintomas leves, como dor de garganta e perda do olfato e do paladar.

“O que salvou, colocou a minha cabeça no lugar, foi o nosso lar, nosso carinho, e um caminho de cultura. Li muito livro, vi muito filme. Não tinha nada meu, do meu mundo, porque era um quarto de hóspedes, então foi uma viagem bem louca, mas que graças a Deus passou. Só que a gente continua se cuidando muito.”

A atriz Flávia Alessandra
Retrato da atriz Flávia Alessandra - Vinicius Mochizuki

Ninguém mais de sua família teve a doença. “Fica aquela paranoia da responsabilidade, de ‘será que eu contaminei alguém?’”, conta a fluminense nascida em Arraial do Cabo. Ela conversou com a coluna por videochamada na manhã de uma quarta-feira.

“Quando eu tive a notícia de que a gente ia voltar a gravar, foi um grande alívio, por eu ter voltado ao meu trabalho”, conta. “Foi um grande buraco eu ter parado a novela de uma hora para a outra, deu uma sensação muito estranha a gente não fazer um desfecho, não se despedir de personagens, das pessoas”, lembra.

A retomada das gravações veio com a adoção de precauções da emissora contra a transmissão do vírus entre os atores e equipes das novelas, o que tornou o processo mais longo. “Uma cena que antes a gente gravava em 30 ou 40 minutos passamos a levar duas ou três horas”, conta Flávia. Entre as medidas utilizadas está a instalação de um anteparo de acrílico transparente entre os atores durante diálogos.

Ela acrescenta que o processo de preparação para entrar no personagem ficou ainda mais solitário com o afastamento de praxe contra a Covid-19. “Tornou-se algo muito solitário. Eu me maquiava, me penteava, me vestia, me microfonava. Ao mesmo tempo, passei a meditar antes de gravar, para estar ainda mais concentrada, porque exigia muita energia e foco gravar com distanciamento.”

O cansaço causado pela pandemia se somou a outra exigência emocional: na reta final da trama, a personagem Helena, vivida por ela, sofre violência doméstica do marido.

“Ter feito essas cenas na segunda fase foi muito mais maçante, porque ela [Helena] já sofria de um assédio psicológico do marido. E no segundo momento a gente conseguiu ir fundo na cenas. Eu não estava conseguindo sair da cama [na vida real] de tão exaurida [que ficava após as gravações].”

“Eu sabia que era ficção, mas estava me fazendo mal. Fiquei me colocando no lugar das mulheres que de fato sofrem aquilo e imaginei o quanto deve ser difícil sair daquele círculo vicioso, não só por ameaças, dependência financeira ou vergonha, mas pela mulher precisar ter a energia para reagir, porque isso te destrói, corrói a alma. Te derruba como ser humano, e foi como eu me senti com essas cenas finais.”

“Eu acordava já exausta. Falava para o Otaviano: ‘Amor, parece que eu levei uma surra de verdade!’”, segue. “Mas uma vez que eu acabava de gravar, voltava para o meu mundo, para os nossos filhos. Isso ia tirando todo o peso. Era só estar naquela atmosfera leve de novo, com a minha família, que todos os males iam embora.”

A atriz Flávia Alessandra
Retrato da atriz Flávia Alessandra - Vinicius Mochizuki

Flávia diz que a convivência intensa com o marido e as filhas fortaleceu os elos entre eles. “Antes a gente tinha convívios intensos quando estávamos de férias, quando viajávamos”, compara.

“A primeira coisa que tivemos que entender [com a reclusão em grupo] é a contribuição na divisão de tarefas, quem faz o que, quem ajuda no que, quem atrapalha onde [risos]. A gente também precisou dividir os espaços na casa, porque todo mundo continuava com as suas vidas”, diz ela. “A Olívia e a Giulia com aulas online. O Otaviano com os projetos dele, e eu tirando os meus do papel”, diz ela.

Entre essas iniciativas está o Fa.forpeople, bazar online de roupas e acessórios em que parte da renda obtida é destinada a ONGs. Outro projeto recente é a Agência Family, que ela e o marido criaram para cuidar de suas carreiras.

“A gente gosta de estar envolvido no processo, do tête-à-tête com agência ou com o cliente. Então por que não tomar as rédeas e tirar outros tantos projetos do papel? Para poder pirar, errar e acertar”, diz ela. “Em um momento em que ironicamente tinha tanta gente se separando, estamos ainda mais juntos [risos].”

“Sou muito feliz fazendo o que faço. Tenho 32 anos de casa [Rede Globo] e posso me dizer realizada como atriz. Mas quero poder brincar com outras coisas, desconstruir, ver outros vieses.”

Flávia também é embaixadora do projeto social Brazil Foundation, que promove a filantropia no país. “Se a gente tinha a percepção de que as pessoas estavam reduzindo as doações, agora é um fato”, aponta ela.

“A nossa sociedade é muito desigual. Estamos vivendo a maior crise sanitária das nossas vidas, e o que acontece é que as pessoas estão deixando de doar com o medo do amanhã, sem saber quanto tempo [a pandemia] vai durar.”

“É importante a sociedade e o meio empresarial entenderem que a doação se faz necessária. Precisamos mais do que nunca desse movimento social, de apoiar organizações em que a gente acredita e que fazem a diferença na vida de um bairro ou de alguma comunidade”, avalia ela. “Atualmente a gente não fala mais nem de transformação daquela parte da sociedade, mas de apoio para que [os vulneráveis] consigam sobreviver à loucura toda por que estamos passando.”

Flávia lembra de uma observação feita pela filha mais nova, que tem dez anos de idade. “Ela falou: ‘Mãe, você já reparou que esse ano está ficando igual ao ano que passou?’ Me bateu uma dor no coração ver a percepção dela, que infelizmente é essa”, diz a atriz.

“A gente estava numa agonia para que o ano [2020] virasse logo, como se assim também virasse a página e resolvesse. Mas, não. Faz um ano e parece que voltamos para um ponto que é ainda pior. Esperávamos que [à essa altura de 2021] já fossemos estar em uma curva [de casos] acabando, com as pessoas sendo vacinadas, retomando as rotinas”, diz ela. “É bem frustrante olhar para o lugar em que a gente está.”

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