Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo
Descrição de chapéu Folhajus

Coalizão pedirá que STF reconheça genocídio da população negra no Brasil

Ação afirma que segmento vive a negação de direitos como à saúde e até mesmo à própria vida

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A Coalizão Negra por Direitos, articulação nacional que reúne mais de 250 organizações, coletivos e entidades do movimento negro e antirracista, apresentará ao STF (Supremo Tribunal Federal) na quinta-feira (12) uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) pedindo que seja reconhecido o genocídio da população negra no país.

A ação será protocolada por meio das legendas PT, PSOL e Rede, em conjunto com movimentos de mães de vítimas da violência do Estado, como Mães de Maio, Mães de Manguinhos, Mães da Maré e Mães de Osasco.

Protesto contra a morte de 28 moradores pela polícia, há um ano, na favela do Jacarezinho, no Rio - Eduardo Anizelli - 5.mai.2022/Folhapress

"Estamos cansadas de chorar nossos mortos, de ver mães morrendo de tristeza por essas mortes. Quantos mais morrerão nessa guerra que nunca acaba?", diz a integrante do movimento Mães de Maio Débora Silva.

O documento afirma que a população negra vivencia, sistematicamente, a negação de direitos básicos como o de acesso à saúde, moradia, segurança alimentar e até mesmo o direito à própria vida.

De acordo com a Coalizão e os partidos, o processo de genocídio é permanente e decorrente de desigualdades sociais e raciais, que por sua vez existem por ação e omissão do Estado brasileiro.

"Buscamos o reconhecimento, por parte do STF, de que existe no Brasil uma política de morte à população negra estruturada no racismo. A denúncia do movimento negro é secular, mas segue sem o devido amparo das instituições", afirma a advogada e diretora do Instituto de Referência Negra Peregum, Sheila de Carvalho, que também integra a Coalizão Negra por Direitos.

"Necessitamos que haja comprometimento público em reverter esse cenário. Por isso, a ação centraliza em demandar políticas que possam responsabilizar e reparar as comunidades negras impactadas por essa política de morte", continua.

A ADPF se baseia em estudos como o realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), publicado no Atlas da Violência de 2021, que identificou que a população negra representou 77% das vítimas de homicídios em 2019, com uma taxa de 29,2 mortes do tipo por 100 mil habitantes. Entre os não negros, o índice foi de 11,2 para cada 100 mil habitantes.

Cita, ainda, dado da Fiocruz que revelou que mulheres negras têm mais chances de sofrerem violência obstétrica e estão mais propensas a ter um pré-natal inadequado (67,9%), além dos efeitos da pandemia da Covid-19 sobre a população negra e episódios de chacinas e de violência policial que tiveram vítimas predominantemente negras.

"Os números de mortes causadas pela polícia no Brasil se equiparam a países que vivenciam guerras civis. São vidas interrompidas intencionalmente por ações de agentes do próprio Estado", diz a ação.

"Ao lidar com a alta letalidade de pessoas negras por parte dos agentes de segurança pública no Brasil, nos deparamos com a ausência de qualquer ação do Estado para deter a sanha violenta de seu próprio braço junto às comunidades periféricas e negras do país", afirma ainda.

Na quinta-feira, data em que a ação será protocolada junto ao Supremo, a Coalizão também participará de audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir a ADPF e os 134 anos da abolição da escravatura, classificada pela articulação como "inconclusa".

"Os dados apresentados na ação comprovam o que já alardeamos há tanto tempo. É hora de dar um basta nesse genocídio", afirma o cofundador da Uneafro Brasil e integrante da Coalizão Douglas Belchior.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.